Sofia Ribeiro decidiu ser família de acolhimento depois de ter visto um anúncio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Mãe solteira, falou com a filha, na altura com 7 anos, que não podia ter ficado mais feliz com a ideia de ter uma criança em casa.
"A minha filha começou a chorar muito"
Candidatou-se, fez a formação e passado duas semanas já estava a receber um bebé.
“Foi uma emoção muito forte. Lembro-me que a minha filha começou a chorar muito porque o bebé não estava com a mãe. É uma coisa muito intensa”, descreve Sofia Ribeiro.
Receberam o primeiro bebé, com quase 6 meses, a 25 de fevereiro de 2021. Acolheram-no durante um ano e meio, depois voltou para os pais biológicos.
Agora, o caso é diferente. A bebé que está a acolher foi abandonada à nascença.
Foi buscá-la ao hospital ainda nem tinha dois meses.
“Ela é muito engraçada. É uma bebé muito simpática, está sempre a rir e é muito bem disposta! Adora brincar, mexe em tudo, está sempre alerta e traz uma grande alegria à nossa vida”
“Perguntam-me se não me vou afeiçoar ao bebé"
Tal como Sofia Ribeiro, a família de Rosa e João Amado também está a acolher uma bebé, pela segunda vez.
Rosa Amado tem sido uma embaixadora informal do acolhimento familiar nas redes sociais, onde partilha o processo e responde a dúvidas.
“Perguntam-me se não me vou afeiçoar ao bebé. E eu respondo: É suposto! Se não nos afeiçoamos é porque está a correr mal. Há sempre dúvidas sobre o momento da separação: perguntam-me como é que conseguimos gerir. Quando o bebé vem, nós sabemos que vem para uma fase transitória, tanto nós como os nossos filhos. Portanto, nós damos-lhe tudo, sabendo que não é nosso e que está aqui a preparar-se para a próxima fase da vida dele”, explica Rosa Amado.
"Se querem um abraço, eu estou cá"
Ana Macedo e Rui Costa estão a acolher duas irmãs de 4 e 7 anos há quase um ano.
Vivem na casa desta família até que o tribunal decida que podem voltar para a família biológica.
“No início, a mais nova estava mais à vontade e a mais velha estava receosa e reservada. Dei-lhes sempre o espaço necessário, nunca forcei a nada. Se querem um abraço, eu estou cá. Para a brincadeira, já sabem que podem vir ter comigo”, conta Rui Costa.
Em Portugal, a lei diz que deve ser dada prioridade ao acolhimento familiar.
Lei n.º 142/2015, 8 de setembro
“Privilegia-se a aplicação da medida de acolhimento familiar sobre a de acolhimento residencial, em especial relativamente a crianças até aos seis anos de idade”.
No entanto, a lei não podia estar mais longe da realidade. Portugal é o país europeu com a maior taxa de crianças em perigo institucionalizadas.
Ao arrepio de todas as recomendações internacionais, há apenas cerca de 5 % de crianças em famílias de acolhimento.
Qualquer pessoa com mais de 25 anos pode candidatar-se a família de acolhimento.
FICHA TÉCNICA
Jornalista: Sara Tainha
Repórter de Imagem: João Lúcio
Edição de Imagem: Marisabel Neto
Grafismo: Carla Gonçalves
Produção: Diana Matias
Colorista: Gonçalo Carvoeiras
Pós-produção áudio: Octaviano Rodrigues
Coordenação: Miriam Alves
Direção: Marta Brito dos Reis; Ricardo Costa