O Orçamento do Estado tinha aprovação garantida, com a abstenção do PS. O que ninguém esperava era que o debate, marcado para as 10:00, começasse com mais de 30 minutos de atraso e por causa de um “bando de delinquentes”, nas palavras do líder socialista.
O Chega colocou esta manhã vários pendões na fachada do edifício da Assembleia da República contra o fim do corte nos vencimentos dos políticos, que foi aprovado no âmbito do Orçamento do Estado para o próximo ano.
No arranque dos trabalhos, o presidente da Assembleia da República disse que notificou o Chega para retirar os pendões e que, se tal não fosse feito, iria pedir a intervenção dos bombeiros.
O debate entre as bancadas foi tenso e atrasou o arranque dos trabalhos, que o PS chegou a pedir que fossem interrompidos até que o Chega retirasse a publicidade, intenção que foi recusada pelo presidente do Parlamento e pelo plenário - após votação.
Elementos do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa chegaram à Assembleia da República pelas 11:20 para retirar os pendões colocados pelo Chega, mas quando se aproximaram das janelas as faixas foram recolhidas a partir do interior do edifício.
“Ambiente político é grave”
Terminado o debate, que ainda teve direito a mais um número do Chega, o líder do PS acusou o “bando de delinquentes” do grupo parlamentar do Chega de terem trazido a anarquia ao Parlamento e de desrespeitarem a democracia, considerando que perante este ambiente é preciso verdade e sentido de Estado dos restantes políticos.
Numa declaração aos jornalistas, Pedro Nuno Santos alertou para "um ambiente político em Portugal que é grave", como considerou que ficou demonstrado esta sexta-feira.
“Não é só o bando de delinquentes que nós temos aqui e que desrespeitaram a Assembleia da República, desrespeitaram a democracia e desrespeitaram os portugueses”, é preciso que "todos os outros políticos que não se reveem no comportamento nem na atitude dos deputados do Chega revelem sentido de Estado".
Mas o PS, concluiu, não tem "medo destes delinquentes nem da anarquia que trouxeram à Assembleia da República".
"Nós vamos combater porque isto é um desrespeito para com os portugueses. O Chega está sempre a falar da lei e da ordem, mas o que tivemos aqui foi desrespeito pela lei e pela ordem, pelas regras", criticou.
PAN pondera avançar com queixa-crime
Já a porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, considerou que a ação do Chega "não deve ficar inconsequente" e salientou que o "estatuto dos deputado prevê, inclusive, a suspensão" nestes casos.
Sousa Real argumentou que esta ação "é suscetível de ser considerada crime" e que o partido levará "sem qualquer receio da intimidação do Chega" este tema a debate na conferência de líderes para que o parlamento possa avaliar a possibilidade de avançar com uma queixa-crime "por uma apropriação abusiva nunca vista em democracia".
"Se quisermos projetar a bandeira da Palestina até hoje em respeito para o dia que hoje assinalamos pela eliminação da violência e pela paz na Palestina, se quisermos ostentar uma bandeira LGBTI, nada disso é permitido sem o consenso das várias forças políticas desta Assembleia da República. E o Chega arroga-se assim o desrespeito total pelas leis que regem o nosso país", disse.
A deputada lamentou o "dano financeiro que foi causado à AR e aos bombeiros que tiveram de se deslocar por conta desta ação irresponsável" e o "desrespeito pela segunda figura do Estado que pediu ao grupo parlamentar que retirasse as tarjas".
O partido criticou também o que diz ser o "desrespeito feito a deputadas e deputados" por parte dos parlamentares do Chega bem como a permissão para "pessoas que são alheias a esta circularem pelos corredores e entrem nos gabinetes de outros deputados".
"Já é a altura de pormos um ponto final neste comportamento absolutamente abusivo e iremos fazê-lo isso mesmo na conferência de líderes", concluiu.
Também Paula Santos, líder parlamentar do PCP, assegurou, numa declaração posterior à de Sousa Real, que o partido levará o assunto à conferência de líderes.