É dia de aniversário para um dos mais históricos clubes do futebol português, que hoje atravessa tempos difíceis…mas sem se vergar: o Vitória Futebol Clube – o Vitória de Setúbal, como é conhecido por grande parte do público em geral – cumpre hoje 114 anos.

A situação não é fácil: o Vitória viu-se obrigado a iniciar o percurso desde a última divisão, a 2.ª Divisão Distrital da AF Setúbal, liderado por homens como Paulo Martins e Carlos André, treinador principal e assessor da Direção para a gestão desportiva, são vitorianos de nascença e formados no clube enquanto futebolistas que se recusaram a arredar pé e, como tal, são faces visíveis do reerguer do tradicional emblema do Sado.

Carlos André, o que significa para vocês deter um lugar tão importante no funcionamento do clube em dia de aniversário neste momento tão delicado?

Já era eu no ano passado quem contratava jogadores e, este ano, quando falei com jogadores que me pediam a opinião, eu digo que o Vitória não tem divisão, estando na primeira ou não. O Vitória tem de jogar para a primeira, mas as pessoas que representam o Vitória têm de sentir que o estão a representar na primeira divisão.

Estarmos neste momento na última divisão do campeonato da AF Setúbal…não é uma divisão para o
Vitória, mas quem o representa ou os seus adeptos, são exigentes por isso mesmo, porque o Vitória é um clube de primeira divisão. Por isso, a representá-lo em qualquer divisão, tem de ser com este intuito de representar um dos melhores clubes de Portugal e com mais títulos, tirando os três grandes, independentemente da divisão, da competição, o espírito é este – tem de ser motivo de orgulho para todos aqueles que trabalham no Vitória, seja qual for a função, e dar todos os dias o melhor para o Vitória.

Face às contingências, o plantel do Vitória foi construído em cerca de um mês. Como foi trabalhar nestas contrariedades e apresentar uma equipa competitiva?

Manteve-se, na altura, a direção, que sabendo que eu tinha sido diretor desportivo e o sucesso tinha sido alcançado em campo na época anterior, e as pessoas acreditaram que eu podia ser uma mais-valia, ainda que não tenha contrato com o clube. Apesar de termos algo na cabeça em relação aos jogadores e eles também saberem que queriam vir jogar para o Vitória, perdemos alguns jogadores por causa desse atraso que aconteceu, outros conseguiram aguentar

Atualmente, a principal garantia que pode dar-se é a de não se fazer promessas quanto ao dia em que efetivamente o Vitória vai voltar à primeira Liga? Trabalhar, mas sem prometer?


Trabalhar e não prometer, no futebol, é o que acontece e de que se diz muito. O Vitória tem de chegar rapidamente lá acima, à primeira Liga. E porquê? Porque para trabalhar nesta casa, tens de saber que vens para dar o máximo das tuas capacidades, é exigente trabalhar no Vitória e tem de ser perceber isso, que esta casa é exigente, tem de se dar tudo de si para que o Vitória volte à primeira Liga – se lá vai chegar com A, B ou C, de certeza que vão passar muitas pessoas por aqui.
No final, todas essas pessoas, esses jogadores, têm de sentir que deram o máximo de si e que fizeram o Vitória subir até essa divisão. Na minha ótica, todos os dias no Vitória tem de se trabalhar ao máximo para se subir de divisão e, quando se estiver na Liga, obter o melhor resultado possível. Essa exigência existe para jogadores, treinadores e todos têm de a sentir porque o Vitória é um clube titular.

Se conseguir alcançar uma promoção por uma época, em cinco anos o Vitória pode ascender à Liga 2. Acha que pode residir aí o grande desafio dado que nessa altura o clube terá de exibir um outro impulso em termos financeiros?

Tirando a parte desportiva, o Vitória tem organizar-se bem. Estando organizado, dificilmente não vai acontecer a nível desportivo, porque todos os jogadores querem jogar no Vitória: na 2.ª Distrital, os melhores querem jogar no Vitoria, na 1.ª distrital os melhores querem jogar no Vitória, no Campeonato de Portugal – vimo-lo no ano passado – os melhores querem jogar no Vitória e na Liga 3 idem. Em cada etapa que se passa, os jogadores querem aqui jogar e já era assim na primeira Liga, ou na segunda.
Há que estar bem organizado estruturalmente para depois, desportivamente, também conseguir fazer o melhor recrutamento.
Sabemos que no futebol a bola por vezes bate na barra, por vezes entra, noutras não entra, tivemos o azar de na época passada termos tido um jogador lesionado e dois pontas-de-lança lesionados para a final do Campeonato de Portugal…são coisas que podem influenciar e que não conseguimos controlar, mas tudo o que podemos controlar, estruturalmente e fazendo uma equipa competitiva…acredito que se o Vitória tiver essas duas vertentes conjugadas, conseguirá fazê-lo rapidamente. Fazê-lo em cinco anos [ndr: até à Liga 2] era o melhor, era fantástico, porque os campeonatos têm necessidade de ter o Vitória.
Porque vemos jogos da primeira Liga e não têm o número de pessoas que o Vitória tem a assistir: 500 pessoas, 700, 800, 1.000 pessoas, e na época passada tivemos no Bonfim um jogo com três mil pessoas. No dia a seguir, vamos ver um jogo de primeira Liga, um dérbi do Algarve, e vai dar a mesma capacidade – a mesma capacidade entre um jogo da primeira Liga e outro do Campeonato de Portugal. Precisamos de um Vitória vivo na Liga.

A facilidade no momento do recrutamento pode representar uma vantagem quando se espera que, quando o Vitória chegar aos campeonatos profissionais, não tenha os recursos financeiros que outros adversários terão à disposição?

O Vitória nunca irá dar um passo maior que a perna, para evitar cometer erros financeiros, mas a marca Vitória é muito grande. Tem sempre de se conseguir fazer o melhor recrutamento e utilizar a marca, porque sabemos que financeiramente o atleta - e bem, é compreensível – tenta sempre procurar o melhor contrato, qualquer um o faz, mas há muitos que, mesmo que com uma diferença, apostam em jogar no Vitória porque o Vitória tem essa capacidade de promover jogadores e basta ver na História que sempre os promoveu.
Não é igual fazer 15 golos no Vitória ou num clube cuja marca não é tão grande. Ainda hoje, conseguimos ter pessoas e clubes a virem ver o Vitória na 2.ª Distrital, porque o clube tem esse know-how, essa capacidade de recrutar e promover. E vimo-lo: a época terminou, viemos para a distrital e 90% do plantel foi para melhor, e quando digo melhor, digo que foram do Campeonato de Portugal para a Liga 3. Financeiramente, também conseguiram fazer melhores contratos.