Perdoa-nos, Jonas. Se calhar não te temos feito justiça. Na era dos super-heróis do ciclismo, no mundo de Pogacar e Van Aert e Van der Poel e Evenepoel, talvez não te destaquemos tanto como mereces.

Bicampeão do Tour de France. Bicampeão do Tour de France contra Tadej Pogacar, frente ao fenómeno, o esloveno que é o impossível em cima de duas rodas.

Tricampeão do Tour de France depois de uma queda gravíssima? Não sabemos. Sabemos, sim, que para derrotar o dinamarquês da Visma é preciso um esforço quase sobre-humano.

Tadej Pogacar atacou com essa intenção. A 11.ª etapa, 211 quilómetros entre Évaux-les-Bains e Le Lioran, era ao jeito do homem da UAE-Emirates. Seis contagens de montanha nos últimos 130 quilómetros, quatro delas nos derradeiros 40, um sobe e desce amigo dos ataques, do poder de explosão, com um tufo de cabelo a sair de um capacete como imagem.

Tadej Pogacar atacou. Brutal, forte, atacou para rasgar. Ninguém o acompanhou. A 18 quilómetros do fim, Pogi tinha 40 segundos de vantagem para toda a concorrência.

Crónicas começaram a ser escritas. Louvores a Tadej pensados, novas formas de descrever este fenómeno cozinhadas. Perdoa-nos, Jonas. Talvez nos esqueçamos de ti demasiadas vezes. E fizeste questão de nos relembrar.

Vingegaard deixou para trás Roglic e Evenepoel e partiu na perseguição a Pogacar. A 18 quilómetros do fim estava a 40 segundos do rival, menos de quatro quilómetros passados já estava com ele. Uma demonstração de força, a prova definitiva de que não há fraqueza no bicampeão depois da queda no País Basco.

Lá foram os dois, rivais, diferentes, distintos como o fogo e o gelo, faces opostas da moeda da grandeza. Na derradeira contagem de montanha, o Col de Font de Cère, não houve movimentações.

Foi tudo discutido na linha da meta. Pogacar estava vazio, sem forças, em aceleração. Vê-lo exausto é como ver um leão voltar de uma caçada sem presas, ofegante, andando cabisbaixo pela savana. O rei da selva, aqui, foi outro.

Contra as probabilidades — as probabilidades de uma recuperação da queda que parecia impossível, as probabilidades de responder ao ataque do esloveno, as probabilidades que ditam que é pior ao sprint que Pogacar —, Vingegaard ganhou a etapa. Segue em terceiro, a 1,14 minutos de Pogacar. Em segundo, a 1,06 segundos, continua Remco Evenepoel, que chegou a 25 segundos da dupla.

Pogacar atacou, mas Vingegaard chegou ao esloveno
Pogacar atacou, mas Vingegaard chegou ao esloveno Tim de Waele/Getty

Em quarto, 55 segundos mais tarde, chegou Primoz Roglic. O esloveno continua a viver a maldição do Tour, a sombra que o persegue quando tenta ganhar esta corrida: seguia com Evenepoel perto da meta, mas caiu. Está já a 2,45 minutos de Pogacar.

Para João Almeida, foi um dia positivo. O português, que após a etapa confessou que “não se sentiu muito bem”, mas que o trabalho da equipa em prol de Pogacar foi “perfeito”, terminou no grupo que se seguiu a Roglic, a 1,49 minutos do camisola amarela. Bem pior esteve Juan Ayuso, que cedeu 4,39' para o caldense, que assim sobe a quinto da geral.

A geral depois da etapa:

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