No momento em que entramos em contagem decrescente para a grande festa dos 40 anos da BLITZ, na Meo Arena, em Lisboa, a 12 de dezembro – com concertos de Xutos & Pontapés, Capitão Fausto, Gisela João e MARO –, pedimos a músicos, promotores, jornalistas, radialistas e outras personalidades que vão ao baú resgatar memórias de quatro décadas de história, deixando-nos, também, uma mensagem para o futuro.

“Eu adorava que voltasse a haver uma publicação física que não seja pontual, como vocês fazem, dedicada a um artista, a um festival. Adorava. Não sei se pegava ou não, mas ia gostar imenso”, declara Xinobi, músico, DJ e produtor de música eletrónica que o país conheceu como guitarrista da banda Vicious Five, depois de revelar que é leitor assíduo da BLITZ desde o tempo em que era jornal, “espero que continuem. Espero que consigam continuar a navegar no meio desta randomness toda que é a internet e o algoritmo. Eu continuo a ler as publicações da BLITZ. Se calhar, o grande desafio é manterem-se a par com a super juventude de hoje, que não consegue ter atenção a nada… não quer dizer que não se interesse, mas não há tempo suficiente”.

A recordação mais antiga que guarda da publicação é de “um jornal misterioso que o meu tio comprava”. “Sabia que era sobre música, mas ainda não tinha entendimento profundo sobre o que era. Depois, como consumidor, era a magia da terça-feira de manhã. Era a coisa que me fazia mover aquela meia hora até à escola. Estava sempre mortinho por comprar o BLITZ. Como melómano, teve um impacto grande em mim porque eu seguia bastante. Era a minha fonte de conhecimento musical, impulsionava-me a comprar ou a pesquisar música. Seguia muitas vezes pelas reviews que o BLITZ fazia para procurar música. Houve ali um ou outro momento em que me desinteressei um bocadinho mais, também tenho de dizer. Foi na fase do nu metal. Como não entrei no nu metal, houve ali um momento em que me zanguei com o BLITZ, mas continuei, religiosamente. Não foi rejeição completa, senão deixava de comprar, mas não, continuei”.

“Como consumidor, moldou, ou ajudou a moldar o meu percurso na música, o meu conhecimento musical, etc. E depois, mais tarde, como artista, também comecei a fazer um bocado parte do BLITZ”, continua Xinobi, “lembro-me de quando saiu a primeira entrevista dos Vicious Five no BLITZ… nem queria muito acreditar. Não foi um cantinho ou uma review, foram logo duas ou três páginas grandes. Fiquei mesmo ‘cheguei ao Blitz!’. Semelhante com a ‘Mondo Bizarre’, por exemplo. Quando fomos capa da ‘Mondo Bizarre’, eu nem queria muito acreditar. Eram as duas publicações de música que eu tinha no pedestal. Fiquei ‘o que é que se passa aqui?’. Depois, acompanhei quando o BLITZ se transformou na BLITZ. Tenho ali um molho de revistas infinitas que guardo com todo o carinho e, de vez em quando, folheio”.

Sobre a importância da publicação, Xinobi não tem dúvidas: “quando se fala da publicação sobre música em Portugal, o BLITZ é sempre o nome que aparece em primeiro”. “Na escola, o jornal… não era uma bíblia, obviamente, mas as pessoas regiam-se bastante pelo conhecimento dos jornalistas, dos críticos, pelos discos que chegavam à redação, aos quais vocês tinham acesso, e sobre os quais publicavam coisas. Quando apareceu a revista, sinto que se tornou uma publicação mais de história. As reportagens tornaram-se mais profundas. Apesar de haver a secção das críticas, etc., senti muito que o foco passou a ser dois, três artistas, a fundo, e depois o resto, à volta, era como o jornal. E eu gosto muito de revistas com substância, com história. Foi a coisa mais fixe que vejo quando o BLITZ passou a revista”.