“Não é permitida a permanência a cães, gatos, políticos e vegans”, é com este aviso, pendurado na entrada, que somos recebidos. Na Taberna Os Papagaios reina a boa disposição e ninguém se leva demasiado a sério, com exceção do respeito pela portugalidade de todos os produtos servidos.
A regra da casa é que aqui só entram produtos nacionais: “A única coisa que tenho que não é portuguesa são os copos”, enfatiza Joaquim Saragga Leal, o cozinheiro que toma conta deste poleiro gastronómico no bairro lisboeta de Arroios. Não há refrigerantes americanos, nem se serve ketchup e a cerveja é Coral, a única marca que não está integrada em nenhuma grande empresa estrangeira. Até na decoração, a origem lusitana é respeitada com rigor, os azulejos são de Azeitão e os pratos que adornam as paredes são de Bordalo Pinheiro, herdados do avô do chef.
O negócio arrancou no verão passado - celebrou recentemente o primeiro ano de funcionamento - e já conquistou muitos “vizinhos” do bairro. A taberna nasceu por insistência de Cláudia Alves da Cunha e garante o chef: “É ela que manda”, recordando que se estava a preparar para uma pausa nestas lides, na sequência do projeto que desenvolveu em Évora, com a Taberna Santo Humberto, mas a mulher, Cláudia Alves, que é atulamente responsável pela sala, tinha outros planos e assim nasceu esta taberna moderna, junto ao Mercado de Arroios.
Para os mais distraídos ou desconhecedores da matérias, Joaquim Saragga Leal foi fundador, em 2015, da taberna Sal Grosso, em Santa Apolónia, um projeto que acabou por gerar uma nova geração de tabernas contemporâneas e formar muitos cozinheiros que, por estes dias, são os líderes no ofício.
A ementa, escrita na parede, muda sazonalmente, mas há pratos que entram e saem consoante os produtos frescos e as vontades do chef. As especialidades da casa, que nunca são apagadas da parede, são o “Bacalhau confitado” (€12), o “Pica-pau de atum” (€11) e o “Rabo de boi” (€12). “Há pessoas que vêm cá à procura destes três pratos e quando não os tenho na ementa ainda sou maltratado”, explica com sentido de humor. Joaquim garante que na cozinha da Taberna Os Papagaios faz exclusivamente o que quer e sem cedências: “Se um dia acordar e me apetecer fazer um petisco, faço, e nesse dia há esse prato”.
Tal como indicam os avisos desta casa, na ementa, “pode ser que haja” ainda “Pastéis de bacalhau”, “Biqueirão”, “Escabeche de carapau”, “Jaquinzinhos”, “Raia alhada”, “Salada de tomate à Algarvia”, entre outros. As migas acompanham todo o ano e o “Arroz de polvo” (€12) cede o lugar ao “Arroz de bivalves” nos meses sem “r”. Outro grande emblema da casa é o “Pastel de bacalhau”, frito no momento como prova do que se anuncia: “há um rio que meandra por tudo o que servimos (…) por todos os recantos da nossa gastronomia portuguesa, apenas portuguesa, nada mais do que portuguesa. E como se chama esse rio que ninguém vê mas que está por todo o lado? Tinha que ser o Sabor”.
Com o destaque inteiro para o que se serve à mesa, recorda-se que o espaço agora ocupado pela Taberna Os Papagaios, tem sido restaurante desde 1950. Das antigas gerências ficaram os espelhos compridos que adornam uma das paredes, o grande mapa que cobre outra e o nome. Com exceção de uma pequena pausa para dar morada a uma casa de brunches, este espaço sempre deu pelo nome d’Os Papagaios, que segundo consta nas histórias do bairro, é uma homenagem às aves faladoras que davam as boas-vindas aos clientes, há quase 75 anos.
A atual Taberna Os Papagaios (Rua Lucinda Simões, 13, Lisboa) sem contacto telefónico não aceita reservas, por isso o melhor é chegar cedo e tentar garantir lugar, todos os dias, entre as 12h30 e as 22h30. O ambiente é informal, divertido e, por vezes até caótico.
Em conclusão: “Com música alta, boa disposição, muita pinga e sorrisos, muitos sorrisos. 💪 Um ano depois, esta Taberna continua a ser vossa!”