Quando avistamos as pontes de Odemira, a antiga de ferro vermelho e a moderna, branca e pedonal, parece que a vila antiga está escondida. Para a desvendar, estacione o automóvel. Percorra as ruas do centro histórico, ponha-se ao fresco entre exposições nos espaços edificados com interesse arquitetónico e diversas valências, do artesanato à música.
Odemira tem relevos que são miradouros, todos diferentes, com cunho rural e cultural como o Cerro do Peguinho ou o Miradouro do Cante Alentejano. É banhada pelo rio Mira que convida a seguir as suas curvas a pé, de canoa ou de barco. Se a descoberta da vila é uma surpresa pelo património, também o é pelos ofícios, que permanecem vivos e se dão a conhecer, e pela forte dinâmica de acontecimentos, uma programação bem recheada que junta propostas em áreas tão diversas como as artes plásticas ou a música e que apelam à interação com as pessoas.
É assim que a imensa diversidade das 13 freguesias do concelho de Odemira encontra eco na própria vila, entre a frescura do rio e as ruas brancas cheias de história.
Artesãos reunidos
Pela manhã, quando as temperaturas estão um pouco mais frescas, será porventura o ideal para percorrer as ruas de Odemira. Comece pela CACO (Tel. 925835915), a Associação de Artesãos do Concelho de Odemira que tem representados mais de 70 artesãos e dá uma perspetiva da riqueza cultural do concelho. Visite a loja e conheça as peças quase sempre inspiradas na região e com recursos materiais naturais. As técnicas ancestrais mantêm-se vivas, tanto em peças utilitárias como de decoração. Abegoaria, produção de mobiliário em madeira, instrumentos musicais, cestaria em vime, empalhamento de cadeiras, traparia, joalharia, produção de cajados, cerâmica e tecelagem são, atualmente, as atividades de maior expressão. No primeiro piso funciona o Espaço Criar onde está sempre algo a acontecer, desde oficinas a exposições, cursos em que é possível ter contacto coma olaria, a cestaria ou tecelagem. A agenda vai mudando, mas por enquanto, os mais pequenos podem mesmo aprender as artes culinárias em workshops que acontecem às quartas-feiras e sábados.
A partir da CACO, sobe umas escadinhas e alguns metros depois, seguindo pela ruela empedrada, chega à Torre do Relógio, onde as andorinhas se abrigam do calor no beiral: uma visão encantadora. Está em pleno centro histórico da vila de Odemira. Olhando o casario, continue que, a poucos metros, encontra a Biblioteca Municipal José Saramago, onde também costumam acontecer exposições temáticas e horas do conto. Contorna pelo exterior, atravessando os arcos, e chega ao Miradouro do Cerro do Peguinho que deixa avistar o rio e uma parte do casario da vila. No Cerro do Peguinho há vestígios do antigo castelo de Odemira que deu lugar ao jardim e a um anfiteatro, local de festas e espetáculos, de que é exemplo do Festival de Folclore realizado todos os anos no dia 25 de Abril. Aproveite para passear e, na Praça da República, demore-se a apreciar a arquitetura do edifício da Câmara Municipal de Odemira.
Ao fresco na zona ribeirinha
Toda a beira-rio da vila de Odemira, também denominada de Parque Ribeirinho do Mira, foi alvo de renovação. Passa a ponte pedonal branca sobre o rio e chega a uma zona de arvoredo, com mesas de pedra, onde é possível piquenicar e apreciar algumas instalações artísticas. Fica a nota de que esta ponte também é particularmente bonita de ver à noite graças à sua iluminação estratégica. Pode estender a toalha no relvado sob os chapéus de colmo ou ainda sentar-se a relaxar a ver o curso de água a correr no banco baloiçante de madeira coberto. A Ecotrails (Tel.967155383) faz passeios guiados de canoa “De Odemira, rio abaixo rio acima”, ou aluga canoas para que possa usufruir do rio Mira livremente. À beira rio existe um Centro Cyclin’ Portugal para que os adeptos de ciclismo possam tratar das suas bicicletas. Na margem direita do rio encontra o Percurso Temático na Zona Ribeirinha do Mira que permite saber mais acerca dos aspetos biofísicos do rio Mira e afluentes.
Olaria: para aprender e pôr as mãos na massa
Visite a nova Olaria Municipal de Odemira, um espaço cultural dinâmico que propõe diversas exposições e venda de objetos dos ceramistas do concelho. Conheça o saber-fazer tradicional e a inovação. É um momento de grande enriquecimento intelectual perceber a forma como evolui esta arte graças à contribuição de novos talentos portugueses e de artistas vindos de fora que se instalaram em Odemira. Inspirados pelas paisagens e atividades tradicionais de Odemira, Maja Escher dá a conhecer as Ferramentas da Horta e Maya Fernandes Kempe os seres que habitam os mares da costa alentejana. A Olaria localiza-se na Quinta da Estrela, integra oficina, forno e loja. A autarquia já tinha criado uma olaria em 1985, dando continuidade a uma tradição local e mantendo vivas as técnicas ancestrais. Potenciou a formação de oleiros e divulgou esta tradição nas escolas, criando condições para que a arte da olaria se mantivesse viva, o que representa um caso único a nível nacional. O novo espaço municipal constitui uma nova etapa para este ofício tradicional, aberto aos oleiros e ceramistas do concelho, a todos aqueles que queiram aprender esta arte e tem previstas residências artísticas. A agenda desenvolve-se em estreita ligação com a CACO – Associação de Artesãos do Concelho de Odemira.
Monumento ao Cante Alentejano também é miradouro
Olhando para o céu azul, a partir da Olaria, consegue ver o Monumento ao Cante Alentejano, inaugurado em 2022, que se impõe no alto, na estrada que conduz à aldeia de São Luís. É melhor fazer o caminho de automóvel. Só quando chega perto percebe as dimensões generosas deste monumento: 12,5 metros de comprimento, seis metros de altura e mais de 14 toneladas de peso. Da autoria do escultor Fernando Fonseca, é uma homenagem do município ao Cante Alentejano, classificado como Património Imaterial da Humanidade, assim como a todos os cantadores. A escultura retrata um grupo coral em dimensões monumentais e tem como cor o branco imaculado das vilas alentejanas.
Conversar com o moleiro de Odemira
Seguindo de carro, encontra facilmente as indicações para os moinhos de Odemira, situados no Cerro dos Moinhos Juntos, são dois, mas apenas um se mantém em pleno funcionamento. É um dos postais da vila e que data, provavelmente, de 1874, foi devidamente restaurado e hoje é usado pela população local, com a experiência do moleiro, José Guilherme. O Moinho de Vento de Odemira é visitável entre terça-feira e sábado. As velas precisam de condições de vento especiais para funcionar e por isso José Guilherme fabricou ele próprio uma roda de moagem de pequenas dimensões para que os visitantes percebam como é feita a moagem. Com a sua habilidade de mãos entretém-se ainda a manufaturar pequenos moinhos decorativos. Escolhe meticulosamente, grão a grão, os cereais para moer, tal qual o faziam o pai, o avô e o bisavô também eles moleiros. A família chegou a ter um moinho na aldeia de Relíquias, também pertencente ao concelho de Odemira. Quando era miúdo, o pai distribuía a farinha pelos montes com uma mula. José Guilherme mostra a farinha branca já peneirada e a de milho, cada uma com uma consistência diferente consoante o propósito a que se destina. Conhece toda a engrenagem do moinho de cor e salteado, do “sarilho” ao “carreto". “Aprendi a arte com o meu avô e o meu pai e até aos 14/15 anos ajudei sempre no moinho". Trabalhou muitos anos na construção civil porque “não conseguia sobreviver como moleiro", mas está de regresso. O pai, Mestre Leonel, ainda o acompanhou durante os primeiros tempos.
Entre 1950 e 1960, houve 96 moinhos de vento e 99 de água no concelho de Odemira. Julga-se que moinhos de maré terão sido 15, segundo um último levantamento efetuado no braço de rio. Até à Revolução industrial foram eles que moeram o cereal, produzido na região e permitiram a confeção de pão, essencial à cozinha odemirense. Hoje encontram-se em funcionamento apenas cinco moinhos de vento, entre os quais o moinho das Verdigueiras, na aldeia de Luzianes-Gare, da Portela do Carvalhal, em Relíquias, do Alto de S. Sebastião, em Santa Maria, ainda o moinho da Laje, perto de São Luís, e, na Longueira, e o moinho homónimo, e ainda um de água, em São Teotónio, o Moinho da Borralheira.
Imersão cultural em Setembro
O concelho de Odemira dedica um mês à cultura de forma intensiva no âmbito da iniciativa “Setembro, uma Imersão Cultural”, com uma programação eclética que inclui espetáculos musicais, exposições, performances, sessões de cinema e de literatura. Consulte o programa completo da iniciativa "Setembro, uma Imersão Cultural.
Setembro é o mês em que se celebra o Dia do Município e que tem lugar a tradicional festividade religiosa de Nossa Senhora da Piedade, padroeira de Odemira. A estas datas importantes juntam-se o “Festival 7 Sóis, 7 Luas”, a comemoração do Centenário da Viagem Aérea Portugal Macau e o Festival TassJazz. E a imersão cultural continua com a iniciativa “Às Quintas no Quintal”, um programa de verão iniciado no mês de junho, que inclui desde atuação de fadistas e cantores tradicionais, passando por recitais de poesia, que continua a decorrer até ao final do mês de setembro.
Celebrar “7 Sóis, 7 Luas”
O “Festival 7 Sóis 7 Luas” assinala este ano 25 anos de parceria com o Município de Odemira. A arte do mediterrânico e do mundo lusófono regressam a Odemira, integradas no evento “Setembro, uma Imersão Cultural”, com um programa diversificado de espetáculos musicais e de teatro de rua nos dias 1, 6, 7, 8 e 13 de setembro, em várias localidades. Há performances circenses de Pakipaya, oriundos da Catalunha, a concertos musicais de músicas do mundo e ainda a realização de um mural de street art pelo artista Rosh, vindo de Marrocos.
Festival TassJazz
Entre os dias 27 e 28 de setembro, o melhor do jazz nacional regressa a Odemira, com o Festival TassJazz, no Jardim da Elsa, em São Teotónio. No dia 27 de setembro o Júlio Resende Fado Jazz Trio apresenta o seu mais recente trabalho, "Filhos da Revolução", enquanto Alexandre Frazão traz "Quintessência". E, no dia 28, Mário Laginha Solo e Isabel Rato Quinteto. Destaque ainda para os espetáculos musicais “Às Quintas no Quintal”, nos dias 12, 19 e 26, com BeJazz Trio, Moços da Vila e Cães do Cão "Vencidos da Vida". Estas iniciativas, a par de espetáculos musicais e de dança, teatro, exposições, workshops e dos filmes agendados para o Cineteatro Camacho Costa nos dias 7, 13, 20 e 27 de setembro são algumas das atividades que fazem parte do vasto programa do setembro, uma imersão Cultural.
Festas de Nossa Senhora da Piedade
Entre os dias 6 e 8 de setembro presta-se homenagem à Padroeira de Odemira, Nossa Senhora da Piedade, com um conjunto de atividades culturais e religiosas. No dia 8 terá lugar a Sessão Solene do Dia do Município, na qual se vão distinguir várias individualidades, seguida de uma visita guiada à ruína da antiga Ermida de Nossa Senhora da Piedade, um monumento do século XVI, missa solene e procissão, assinalando-se nesse dia o feriado municipal. Pelas 22h00 horas, o Jardim Ribeirinho de Odemira vai ser palco para um concerto com os Resistência.
Aniversário da Biblioteca Municipal José Saramago
No próximo dia 5 de setembro, a Biblioteca Municipal José Saramago de Odemira comemora 24 anos ao serviço da população e da cultura no concelho. Para assinalar a data, vai oferecer a toda a população um programa cultural com atividades para todas as faixas etárias, numa iniciativa que se insere no âmbito do “Setembro, uma imersão cultural”. Este ano, a Biblioteca sai à rua e faz a festa de aniversario no Jardim Sousa Prado.
Centenário da Viagem Aérea Portugal-Macau
O Município de Odemira, a Força Aérea Portuguesa e a Universidade do Porto associam-se para assinalar a comemoração do centenário da primeira viagem aérea Portugal – Macau (1924-2024). Brito Paes, Sarmento de Beires e Manuel Gouveia concretizaram há 100 anos um feito pioneiro e emblemático na aviação internacional. No dia 21 de setembro terá lugar, em Vila Nova de Milfontes, o encerramento das Comemorações do Centenário da Primeira Viagem Aérea Portugal – Macau com um vasto programa que inclui visita ao local de descolagem, no Campo de Coitos, acompanhada pelo historiador António Quaresma, momentos de debate, exibição de documentário, apresentação do livro "De Portugal a Macau - A Viagem do Pátria, de Sarmento de Beires", espetáculo musical com a Banda de Música da Força Aérea e a participação de Joana Luz.
Passagem de Ano em Vila Nova de Milfontes
Motivos não faltam para que Vila Nova de Milfontes seja o local de eleição para receber o novo ano. Depois dos meses agitados do verão, Vila Nova de Milfontes volta a vestir-se de festa para assinalar o fim de ano e dar as boas-vindas a 2025, em dias de grande animação e convívio e concertos ao ar livre e espetáculo de fogo de artifício, entre o Largo Dr. António Martins Quaresma e junto à Praia da Franquia, com organização do Município de Odemira e Junta de Freguesia de Vila Nova de Milfontes.
Na noite de despedida de 2024 e boas-vindas a 2025, a banda Karetus sobe ao palco na Praia da Franquia para uma grande festa. A entrada em 2025 é festejada com um grande espetáculo de fogo de artifício, à meia-noite, que se reflete no rio Mira, com as praias da Franquia, Farol e Furnas como cenário.
Para a produção desta reportagem a equipa Boa Cama Boa Mesa contou com o apoio da Câmara Municipal de Odemira.