Com a chegada do coronavírus a Portugal no dia 2 de março e a falta de coordenação internacional na luta contra a pandemia, foram inevitáveis os seus efeitos a nível mundial, afetando todas a áreas e setores praticamente sem exceção. Mas, num ano em que a pandemia provocada pela COVID-19 dominou a agenda mediática, que outros acontecimentos positivos e negativos marcaram e se destacaram em 2020 na área de Lifestyle?
Num ano em que mais de 75% dos dias foram de pandemia e restrições, nem tudo foi mau. A aprovação da despenalização da morte medicamente assistida, na generalidade no Parlamento em fevereiro, abriu caminho para uma maior humanização em situações de fim de vida. A decisão de promulgar a lei está nas mãos do chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, que ainda terá de se pronunciar sobre o projeto que está a ser redigido na especialidade pelo grupo de trabalho criado para o efeito.
Já no último trimestre do ano, a maioria dos partidos uniu-se na luta de uma mulher que pretendia engravidar do marido falecido. Assim, a 23 de outubro, foi aprovado em sede parlamentar a procriação medicamente assistida ‘post mortem’, iniciativa contestada pelo PSD para quem “as crianças têm direito a ter um pai”. A discussão no parlamento partiu de uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos (ILC), que reuniu mais de 20 mil assinaturas, para consagrar a inseminação ‘post mortem’ na lei da Procriação Medicamente Assistida (PMA), dinamizada em fevereiro por , que vai assim conseguir engravidar de Hugo, o seu marido que faleceu e sonhava ser pai.
Mas de facto a pandemia foi o que nos marcou a todos em 2020. Implicou mudanças na vida de milhares de milhões de seres humanos. Finalmente aprendemos a lavar corretamente as mãos ou a respeitar a distância mínima de segurança entre os demais seres humanos. E ainda fez com que muitas pessoas adotassem (ou não perdessem) rotinas saudáveis de treino, com diversos profissionais a disponibilizarem treinos diários online e gratuitos durante este período.
Apesar de Portugal ter conseguido achatar a primeira curva epidémica em março e abril, a segunda vaga chegou em outubro com uma explosão de casos de infeção pelo vírus SARS-CoV-2. Mas novembro trouxe uma boa notícia: finalmente a vacina. Não uma, mas várias.
Na área da moda, os primeiros casos de coronavírus em Portugal obrigaram a reajustes na realização do Portugal Fashion que, em 25 anos de história, se viu forçado pela primeira vez a realizar desfiles à porta fechada e, consequentemente, a cancelar os restantes dias do certame. Isto fez com que se repensassem as futuras edições da Moda Lisboa e Portugal Fashion, que acabaram por se realizar numa lógica adaptada à realidade COVID-19.
O mesmo se passou com as Semanas da Moda internacionais - Londres, Nova Iorque, Milão, Paris e Alta Costura – que, quase sem exceções, apostaram em formatos 100% digitais, sem público, celebridades e o habitual street style. Vídeos, galerias virtuais e imagens em três dimensões forma alternativas encontradas por grandes designers e marcas de luxo para apresentarem as suas propostas.
Devido à escassez de produtos, várias casas de luxo decidiram unir esforços na luta contra o coronavírus através da produção de batas hospitalares e distribuição de gel desinfetante. Também foram muitas as marcas que tiveram de se reinventar e adaptar face à pandemia, apostando na produção de máscaras de proteção individual e na produção de coleções confortáveis e loungewear.
O ano de 2020 também ficou marcado por grandes mudanças na indústria da moda: Jean Paul Gaultier despediu-se das passerelles com desfile em Paris, Clare Waight Keller abandonou a liderança artística da Givenchy, a Gucci anunciou que ia deixar de desfilar em Milão e passar a lançar apenas duas coleções anuais em vez das tradicionais oito e o cantor Harry Styles fez história ao ser o primeiro homem a protagonizar a capa da Vogue. É de salientar a perda de dois grandes nomes do mundo da moda este ano: os estilistas Kansai Yamamoto e Zenko Takada.
Na área de fama, os duques de Sussex chocaram o mundo ao anunciarem o seu afastamento da família real em janeiro. Recorde-se que a pressão e críticas dos média fizeram com que Harry e Meghan renunciassem ao seu papel real para assumir a sua independência financeira gerando uma crise real, apelidada pela imprensa de Megxit. A apresentadora Cristina Ferreira foi outros dos temas mais falados do ano ao anunciar o seu regresso à TVI enquanto diretora de entretenimento e ficção e acionista da Media Capital.
Em setembro Kim Kardashian anunciou o fim do seu reality-show ‘Keeping Up with The Kardashians’ cuja última temporada irá para o ar em 2021. O programa, que esteve no ar durante 14 anos, foi responsável por catapultar a carreira de Kim Kardashian (e da restante família), dona de um império avaliado em cerca de 640 milhões de euros.
O mundo do espetáculo nacional ficou em choque com a morte do ator Pedro Lima, que faleceu em junho, aos 49 anos, e da cantora Sara Carreira, que perdeu a vida aos 21 anos num acidente de viação em dezembro.
Já a modelo Chrissy Teigen e a ex-atriz Meghan Markle comoveram o mundo ao publicarem relatos tocantes na primeira pessoa sobre a dor que experienciaram ao perderem um filho. O tema, ainda visto como tabu em pleno século XXI, gerou uma onda de solidariedade com muitas personalidades a partilharem as suas histórias nas redes sociais.
Em tempos de confinamento há quem tenha aproveitado este contexto particularmente difícil para explorar as suas paixões e registar fotograficamente este período, lançar campanhas e iniciativas solidárias e dar largas à imaginação, seja para passar o tempo, ver aqueles que mais ama e até incentivar a reflexão de questões sociais importantes.
Devido ao confinamento verificou-se uma descida na poluição atmosférica em diversas cidades europeias e uma redução significativa da concentração de dióxido de azoto (NO2) no ar de várias cidades portuguesas no primeiro semestre do ano. Ainda na área de ecologia, o NEYA Lisboa Hotel venceu o prémio ambiental internacional Energy Globe, um prestigiado galardão austríaco que distingue anualmente projetos de eficiência energética, de energias renováveis e de conservação de recursos ambientais inovadores.
Por outro lado a pandemia provocou um aumento do lixo produzido e do consumo de plástico em embalagens alimentares e no material de proteção pessoal única, cujo descarte correto foi negligenciado e estes resíduos passaram a ser encontrados nas ruas e passeios. Em termos de alterações climáticas, um relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) revela que 2020 foi o segundo ano mais quente até hoje, depois 2016 e antes de 2019.
Até março, o setor da restauração estava confiante com muitas aberturas, diversificação da oferta, conquista de mercado fora dos grandes centros, inclusivamente estrelas Michelin para restaurantes em Trás-os-Montes e Beira Interior. Com o “fecho” da economia, o setor caiu abruptamente, verificando-se um primeiro momento de desnorte e de encerramentos. Paralelamente, inúmeros eventos - Peixe em Lisboa, Sangue na Guelra, Lisbon Bar Show e BTL - são desmarcados ou passam para o formato online. Feiras de produtores – vinhos incluídos - são canceladas. Com o encerramento dos restaurantes, os serviços de take away e delivery ganham terreno e reinventam-se com novos produtos e, inclusivamente, restaurantes Michelin. Paralelamente, o digital torna-se a casa para apresentações de cozinha, que inclui o setor dos vinhos.
Após a reabertura da restauração em maio, o verão traz um “balão de oxigénio” para o setor, embora tenha sido temporário. Com outubro a economia volta a fechar parcialmente para encontrarmos a situação presente, com os restaurantes a meio-gás, encerramentos temporários ou definitivos e adiamento de inaugurações. Dezembro traz um pequeno alento com Portugal a arrecadar mais duas estrelas Michelin com as entradas dos restaurantes 100 Maneiras (chefe de cozinha Ljubomir Stanisic) e Eneko Lisboa (do chefe de cozinha basco Eneko Atxa).
Mas nem tudo são más notícias. Devido ao estado de Emergência, que obrigou ao confinamento de milhares de famílias portuguesas, é de salientar as iniciativas lançadas para entreter miúdos e graúdos. Para além de workshops, concertos, oficinas e atividades lúdicas, diversos museus e teatros passaram a ter programações dedicadas aos mais novos, algumas editoras disponibilizaram e-books gratuitos de obras clássicas e ainda lançaram histórias narradas por escritores para entreter as famílias neste período de confinamento doméstico.
Para reduzir o risco de contágio foram ainda cancelados eventos nacionais, destacando-se as marchas populares de Lisboa, os tradicionais arraiais e casamentos de Santo António. O período de confinamento obrigou ainda ao encerramento de museus, monumentos, bibliotecas e diversos espaços culturais do país, que tiveram de se readaptar, apostando em visitas virtuais e interativas e criando condições de segurança para receber os futuros visitantes.
Apesar da pandemia e da impossibilidade de viajar, Portugal teve direito a integrar a lista de recomendações europeias da Condé Nast Traveller para 2021. A revista britânica colocou o arquipélago dos Açores (10º lugar) e Melides (em 2º lugar) no seu ranking de destinos a visitar no próximo ano. Para além disto, Portugal foi distinguido com 21 World Travel Awards, conhecidos como os “Óscares do Turismo”, elegendo o Porto como o Melhor Destino ‘City Break’ da Europa e Lisboa como o Melhor Destino Europeu de Cruzeiros. O Algarve voltou a ser o Melhor Destino de Praia da Europa e os Açores foram distinguidos como o Melhor Destino de Turismo de Aventura.
O ano de 2020 termina de forma muito semelhante ao mês de março: de forma atípica, com o mundo em suspenso devido ao confinamento e às elevadas restrições que se fazem sentir pelo mundo fora. Apesar de não podermos celebrar o Natal e a chegada do novo ano como tradicionalmente o fazemos, por outro lado podemos festejar a aprovação da vacina da Pfizer-BionNTech, que começará a ser administrada na União Europeia ainda este ano.