É esse o resumo que aqui preparamos e que resulta de uma análise não apenas ao que diariamente levamos até si, caro leitor, mas na forma como nos leu. Essa é a trave mestra do jornalismo de hoje e de sempre, uma porta aberta ao diálogo, uma conversa, um espaço que construímos em conjunto. É isso que vai encontrar neste resumo.
Comecemos então pelo princípio, que na verdade, aconteceu no fim de 2019.
Há precisamente um ano estávamos longe de imaginar o que 2020 nos traria. Sabíamos dos rumores de uma doença altamente contagiosa na China, mas só a 31 de dezembro Pequim viria a reportar oficialmente vários casos relacionados com uma pneumonia viral na cidade da província de Hubei. Era longe, estava longe, mas a velocidade do contágio em Itália rapidamente nos obrigou a confrontar o custo imediato de uma pandemia que nos fechou em casa e com isso custou e custará negócios e empregos.
Não tínhamos (e não temos) todas as respostas, mas nem por isso cessámos o relato, não o podíamos fazer numa altura em que a procura de informação fazia disparar a audiência da maior parte dos jornais e televisões em Portugal. Como tantas outras, também a redação do SAPO 24 foi para casa — para várias casas e foi a partir delas que se reinventou para dar resposta às novas e urgentes necessidades dos nossos leitores.
Procurámos, em primeiro lugar, fazer um retrato da pandemia, não apenas dando sentido aos números que durante meses subiram vertiginosamente em Portugal e no Mundo, mas também através do testemunho de quem estava no terreno, em Ovar, Vila Real, Felgueiras, no Corvo, na Madeira ou em Paços de Ferreira.
A par, ajudámos quem nos lê a navegar num país em Estado de Emergência, com novas regras, limitações e um sem número de recomendações que se atropelaram, dia após dias, naquilo que mais tarde viemos a batizar de “o novo normal”. Foram vários os guias práticos publicados — dos quais se destaca aquele em que ensaiávamos a normalidade possível. O objetivo? Explicar sem inundar, ser útil sem assoberbar.
Foi com especial atenção — com uma área dedicada, uma newsletter diária e algumas conversas — que demos conta de todas as opções políticas e, sobretudo, dos apoios destinados às empresas e ao emprego. Porque quem não morre da doença continua a padecer da cura. E, pelo caminho, desmistificamos alguns dos mitos que iam ganhando raízes nas redes sociais.
O Grande Confinamento, como ficará para História, afastou-nos não apenas das lojas e restaurantes, mas dos teatros, salas de concerto e estádios de futebol. Durante meses o pequeno ecrã substituiu vários palcos e por isso mesmo procurámos deixar sugestões para ver e ouvir e, claro, ler.
Mas se não há 2020 sem COVID-19, também é verdade que 2020 não se esgota no vírus.
Enquanto sonhávamos com a vacina e lutávamos pelo aplanar da curva, despedimo-nos de grandes nomes — Pedro Lima, Diego Maradona, Sean Connery, Eduardo Lourenço, Joaquim Pina Moura, Fernanda Lapa, Tozé Martinho, Luís Sepulveda, Kobe Bryant, Cruzeiro Seixas, apenas para referir alguns.
Por cá, e apesar da pandemia, não deixámos de olhar para o global — do vergonhoso homicídio de Ihor, ao racismo que colheu a vida de Bruno Candé, à TAP, cuja “doença” antecede o vírus que obrigou a aterrar aviões — e para o local — mergulhámos no Porto do passado para entender o do presente, viajámos para um Minho de olhos postos no futuro, entrámos em campo para contar o sonho do Canelas e fomos a Fátima ver o professar da fé em pandemia.
E continuámos, como não podia deixar de ser, a olhar para o mundo que se desenha à nossa frente: Da América de George Floyd, de Trump, Biden e Kamala Harris; à Europa no limbo do Brexit, sem esquecer a massacrada Beirute.
Apesar das imposições do presente (e urgente), procurámos olhar em frente e pensar o futuro de todos nós. Na rubrica "Regresso a um mundo novo" trouxemos para a linha da frente jovens até aos 30 anos, das mais diversas áreas de conhecimento, para refletir connosco; com os convidados do projeto 20/30 conversámos sobre os desafios da década.
Aliás, conversámos com várias pessoas este ano. Sobre quem somos - “fomos habituados a obedecer de mais” ou “Portugal mudou muito, os portugueses não mudaram nada"—, sobre saúde mental, sobre como lidar com as nossas crianças num tempo tão desafiante, sobre um bom vinho e até sobre como nos mantermo-nos em forma apesar do confinamento.
Demos voz aos músicos que fazem do acorde um esforço de resistência, de Mariza, a Samuel Úria (protagonista das nossas descomplexadas Conversas de Roupão) , passando por Pedro Abrunhosa ou Filipe Sambado. E, claro, tirámos tempo para recordar Amália no centenário do seu nascimento e para ir à ópera e ao teatro.
Com a ajuda dos nossos cronistas, olhámos para o mundo com humor, procurámos na provocação um motivo para pensar, demos espaço ao contexto que justifica a história, lançámo-nos na análise para lá da notícia e com ela veio a reflexão sobre o nosso lugar no mundo.
Como se faz um site de informação em pandemia? Com a consciência de que nunca foi tão importante o valor da informação e de que o jornalismo de qualidade (como o Homem) não é uma ilha. É suportado por bons leitores, leitores exigentes, que querem ser parte ativa na sociedade em que se inserem, e que por isso exigem e participam no jornalismo como um processo de permanente diálogo e escrutínio que é.
Nunca fomos tão lidos como agora. Agradecemos o voto de confiança e assumimos o peso da responsabilidade, e por isso mesmo trabalhamos todos os dias para estar à altura.