A corrida presidencial deste ano nos Estados Unidos foi uma verdadeira montanha-russa política, com tentativas de assassinato e substituições de candidatos, abrindo caminho a um imprevisível segundo mandato de Donald Trump.

Donald J. Trump foi eleito em 5 de novembro para um segundo mandato como Presidente dos Estados Unidos, depois de vencer a vice-presidente e candidata democrata, Kamala Harris, numas eleições marcadas por profundas divisões políticas que dificilmente serão superadas nos próximos tempos e escolhidas como acontecimento internacional do ano pelos jornalistas da Lusa.

Até ao primeiro debate entre os candidatos presidenciais - em 27 de junho, ainda com Joe Biden, como recandidato do Partido Democrata - as sondagens indicavam uma confortável vantagem para o republicano Donald Trump.

Contudo, após um muito criticado desempenho nesse debate, Biden decidiu retirar-se da disputa, abrindo caminho para que Kamala Harris assumisse a candidatura democrata, provocando de imediato duas consequências: a candidatura democrata recuperou significativamente nas sondagens e os cofres de campanha do partido rechearam-se com donativos.

Do lado republicano, Trump enfrentava outros desafios, incluindo duas tentativas de assassinato: em 13 de julho, durante um comício em Butler, Pensilvânia, foi ferido na orelha por um disparo; em 15 de setembro, outra tentativa ocorreu no Trump International Golf Club, na Florida, envolvendo um suspeito detido pelas autoridades.

Trump centrou a campanha em medidas políticas de linha dura, prometendo selar a fronteira sul para combater a imigração ilegal e revitalizar a economia através de tarifas protecionistas destinadas a restaurar a indústria norte-americana.

O candidato republicano apareceu nos comícios comprometido com uma postura isolacionista, propondo reduzir o envolvimento dos EUA em conflitos internacionais e reavaliar alianças tradicionais, como a NATO.

Kamala Harris surgiu com uma plataforma política mais progressista do que a de Biden - embora assegurando uma linha de continuidade com a administração de que fazia parte - e trouxe para a primeira linha de debate a reforma do sistema de justiça criminal, o alargamento do acesso à saúde e a defesa dos direitos reprodutivos das mulheres.

Para reforçar a sua base de apoio, Trump escolheu para candidato a vice JD Vance, um senador do Ohio que o tinha criticado pessoalmente antes de se tornar um dos seus mais fervorosos apoiantes, partilhando da teoria de que as eleições de 2020 tinham sido uma fraude.

Kamala Harris escolheu Tim Walz, o governador do Minnesota de 60 anos, com uma abordagem de 'língua afiada' para enfrentar as figuras mais radicais do lado republicano.

Na reta final da campanha, todas as sondagens apontavam para um empate técnico, que poderia ser desfeito pelos resultados num grupo restrito dos chamados estados flutuantes ('swing states'): Arizona, Carolina do Norte, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin.

Foi aí que os dois candidatos passaram grande parte do tempo em campanha e Trump acabou por assegurar a vitória ao conquistar a maioria deles, ultrapassando facilmente a fasquia dos 270 votos necessários no colégio eleitoral.

Esta eleição ilustrou bem a era de incerteza que se vive na política dos EUA, com promessas de reestruturação radical do Governo e ameaças, assumidas publicamente por Trump, de retaliações contra adversários políticos, incluindo jornalistas, mas também de uma revitalização da economia, através de medidas protecionistas e de uma política externa mais isolacionista.