O CEO da Ford, Jim Farley, deixou claro: o Oval Azul está a abandonar sedãs tradicionais como o Fiesta, Focus e Mondeo para se concentrar na construção de veículos icónicos que capturam a imaginação do público. A visão de Farley de afastar-se dos “carros aborrecidos” e entrar no reino das máquinas que fazem declarações marca uma mudança dramática na estratégia da Ford, mas é uma que levanta sobrancelhas e deixa muitos a questionar se a marca está a arriscar demais ao deixar para trás o mercado automóvel mainstream.

Nos últimos anos, a decisão da Ford de eliminar modelos populares como o Fiesta, Focus, Fusion e Taurus nos EUA e na Europa deixou muitos perplexos. Estes carros, que outrora preenchiam as garagens em todo o mundo, estão a ser descontinuados em favor de veículos mais “emocionantes” que a empresa espera redefinir a sua imagem de marca. A Ford está agora a apostar nas suas forças—pensem nos Broncos, Mustangs e Raptors—veículos que Farley afirma dar à empresa a confiança para enfrentar marcas premium como a Porsche.

Apesar de admitir que carros como o Fiesta e o Focus eram amados por muitos clientes, Farley enfatizou que os retornos sobre o investimento em tais modelos simplesmente não se comparam à rentabilidade dos veículos comerciais ou a ofertas mais distintas e aventureiras. O novo mantra da Ford é claro: investir apenas em veículos que se destaquem e construam uma forte presença de marca.

Os Próximos Passos da Ford: SUVs Elétricos e Reviver Nomes Icónicos

Para substituir o espaço deixado pelos sedãs tradicionais, a Ford está a apostar em SUVs elétricos, incluindo modelos baseados na plataforma MEB da Volkswagen. Modelos futuros como o Explorer EV e o Capri, inspirados no VW ID.4 e ID.5, fazem parte da estratégia mais ampla da Ford para capturar o mercado de veículos elétricos, apesar de ter recuado na sua meta de se tornar totalmente elétrica na Europa até 2030. Além disso, o bem-sucedido crossover Puma da Ford terá em breve uma variante totalmente elétrica, ampliando a sua atratividade.

Ainda assim, a insistência de Farley em focar em veículos “icónicos” pode revelar-se arriscada num mercado europeu que continua a favorecer automóveis de passageiros convencionais. Dados recentes mostram que as vendas da Ford na Europa caíram drasticamente, com uma queda de quase 17% no primeiro semestre de 2024 e uma quota de mercado em diminuição. À medida que a Ford continua a reduzir a sua gama, concorrentes como Volkswagen, Toyota e Kia/Hyundai estão prontos para capturar a quota de mercado que a Ford está a deixar para trás, continuando a produzir carros populares e do dia-a-dia.

Icónicos ou Arriscados? A Aposta da Ford na Paixão e nas Margens de Lucro

A mudança da Ford é uma aposta audaciosa na identidade da marca em detrimento das vendas em volume. A empresa está a contar com os seus veículos para entusiastas, como o Mustang e o Bronco, para definir a sua imagem e impulsionar a rentabilidade. Farley apontou que, no passado, o foco da Ford em carros de nicho para entusiastas era mais um trabalho secundário. Agora, a estratégia é colocar estes veículos de alto perfil no cerne do negócio da Ford, com investimentos substanciais para os apoiar. Isto inclui o próximo Mustang GTD hardcore, que sublinha a ambição da Ford de competir de igual para igual com marcas premium.

No entanto, afastar-se dos sedãs convencionais coloca a Ford numa posição precária. O mercado europeu, que ainda apresenta uma forte procura por veículos que não sejam SUVs, pode ser particularmente desafiador. Embora as margens de lucro da Ford sobre estes modelos de nicho possam ser mais elevadas, abandonar o volume de carros “aburridos” pode prejudicar os números de vendas globais e deixar um buraco enorme para os concorrentes preencherem.

A estratégia de Farley sublinha uma mudança sísmica na abordagem da Ford ao mercado: menos modelos, mais foco e uma busca incansável por veículos que inspirem paixão. Mas à medida que a Ford se redefine, também está a testar os limites do quanto uma marca pode cortar antes de arriscar cortar demasiado fundo. Só o tempo dirá se abandonar o “negócio dos carros aborrecidos” em favor do apelo de ícones como o Mustang e o Bronco valerá a pena — ou se é uma aposta demasiado arriscada.