Em Portugal, morrem 11 portugueses por dia vítimas de cancro do intestino. Já na União Europeia, anualmente 370 mil cidadãos recebem o diagnóstico de cancro do intestino, sendo que destes 170 mil acabam por morrer vítimas deste cancro. Os doentes que são detetados num estádio precoce (I) têm uma taxa de sobrevivência que ronda os 90%, comparativamente aos doentes que são diagnosticados num estádio mais avançado (IV) para os quais a taxa de sobrevivência é de apenas 10%.
O cancro colorretal é um tumor maligno, invasivo, que tem origem nas células que formam a camada epitelial da parede do intestino grosso e é considerado um dos tipos de cancro mais comum nos homens. O cancro que tem início no cólon, chama-se cancro do cólon e o cancro que tem início no reto, chama-se cancro rectal. O cancro que afete qualquer um destes órgãos pode, também, ser chamado de cancro colo-rectal. O cancro colorretal evolui lentamente, durante um período de oito a dez anos, mas a maioria dos pacientes ainda é diagnosticada nos estágios finais III e IV.
O número de casos de cancro do intestino diagnosticados aumentou de 7 mil para 10 mil nos últimos anos em Portugal. Com a paralisação dos rastreios, estamos a falar de quantas pessoas que poderão não ser diagnosticadas atempadamente e, consequentemente, vir a perder a vida?
Em Portugal temos 10.092 casos diagnosticados (números da OMS de 2018), o que quer dizer que são cerca de 800 casos, em seis meses, que deixaram de se diagnosticar e 4.800 novos casos que irão aparecer com sintomatologia, porventura nas urgências.
Quanto mais avançado for o estádio em que se detetam as doenças oncológicos, mais problemático é o seu tratamento. E o cancro colorretal tem uma taxa de cura de 90%, quando detetado precocemente.
Os tratamentos também foram adiados durante este tempo de pandemia?
Os acessos às consultas regulares nos centros de saúde foram cancelados, os tratamentos foram adiados, as cirurgias e os exames complementares de diagnóstico também. Nenhuma destas áreas foram recuperadas e os doentes são os principais prejudicados.
Em Portugal, morrem 11 portugueses por dia vítimas de cancro do intestino. Há dados diferentes deste que vivemos em pandemia ou os feitos vão refletir-se mais tarde?
Têm sido publicadas algumas projeções que demonstram que a curva de mortalidade de doentes não-COVID tem aumentado. Face a tudo o que está exposto, tudo leva a crer que daqui a dois ou três anos vamos ficar surpreendidos com a diminuição da sobrevivência dos portugueses nesta área.
O cancro do intestino é uma das doenças oncológicas que mais afeta os portugueses com o número de casos diagnosticados a aumentar. Quais as causas?
As causas são várias: Hereditariedade (5 a 10% dos casos), obesidade, tabaco, consumo exagerado de bebidas alcoólicas e estilo de vida. Uma alimentação rica em gorduras, sal e açúcares também contribui para a probabilidade de uma doença oncológica do foro digestivo.
Esta prevalência em Portugal é similar noutros países? Ou deve-se a algo particular em Portugal?
É semelhante noutros países da Europa.
Uma análise populacional realizada em Inglaterra indica que a incidência de cancro colorretal está a aumentar rapidamente em adultos jovens. O mesmo acontece em Portugal?
Sim. Já temos alguns dados que nos mostram esse facto. Tudo leva a crer que sejam os excessos comportamentais dos jovens a provocar o aparecimento de doenças oncológicas digestivas em idades mais precoces.
A Europacolon acredita que os 50 mil diagnósticos anuais de doenças oncológicas não se estão a concretizar. Quais as repercussões que isto pode ter para o país?
A necessidade de recursos para o tratamento de casos relacionados com a pandemia levou a que fossem considerados não prioritários os cuidados com outras doenças e reduziram as consultas da especialidade, que identificavam, através de exames complementares de diagnóstico, os tumores malignos. Até que seja retomado o normal funcionamento das consultas nos Centros de Saúde e a referenciação para as especialidades hospitalares manter-se-á o problema: os diagnósticos dos tumores digestivos estão a ser encontrados em fase mais avançada! Isto significa menor sobrevivência e maiores custos para o SNS.
As pessoas estão conscientes dos sintomas? Quais as recomendações gerais para a população evitar o cancro do intestino?
Aparecimento de sangue nas fezes, alteração de hábitos intestinais, com aparecimento de diarreias ou obstipações constantes, sensação de que o intestino não esvazia, emagrecimento e cansaço permanentes e dores abdominais são sintomas que, independentemente da idade, devem levá-lo ao médico assistente para ser despistada a causa.
O que o Serviço Nacional de Saúde tem de implementar para combater esta doença, não só em situação de pandemia mas também em tempo normal?
Esta pandemia ensinou-nos que a saúde é o maior bem da humanidade! Todos os responsáveis das estruturas governamentais devem eleger a saúde como prioridade política nacional.
Quando assim for, a melhoria do estado de saúde e o conforto dos portugueses melhorará.
A Europacolon sugere que o Ministério da Saúde crie, em conjunto com o Ministério da Solidariedade Social, Ordens Profissionais, Indústria Farmacêutica e Associação de Doentes, um Programa Excecional de Recuperação de atendimento e listas de espera. Programa esse que deve ser público, auditavel e com obrigatoriedade de cumprimento de métricas.
Para colmatar esta situação, a Europacolon está a promover uma campanha de rastreios gratuitos. A quem se destina?
Pelo 7º ano consecutivo estabelecemos uma parceria com as Farmácias Holon. Esta organização disponibiliza em 63 das suas farmácias um rastreio de pesquisa de sangue oculto nas fezes a todas as pessoas que tiverem critérios de inclusão. Um teste muito simples, não invasivo, focado nas pessoas dos 50 aos 74 anos e que despistará a possibilidade de haver alguma lesão no intestino.
Este teste tem de ser repetido todos os anos. As farmácias aderentes podem ser consultadas aqui.