Janeiro
Tragédia no Dakar. O motociclista português Paulo Gonçalves morreu na sétima etapa do rally Dakar de 2020, a 12 de Janeiro, na sequência de uma queda nas dunas da Arábia Saudita. Tinha 40 anos e era conhecido pelo seus colegas do Dakar como o “senhor fair-play”.
Fevereiro
Racismo no futebol português. O jogador maliano Marega, do Futebol Clube do Porto, abandona o relvado do Estádio D. Afonso Henriques a 16 de fevereiro, após ser vítima de insultos racistas por parte dos adeptos do Vitória de Guimarães. As imagens do jogador, revoltado, ganham eco nos média internacionais. As autoridades nacionais prometem lidar com o problema do racismo nos recintos do futebol português.
Março
Covid-19 coloca país em emergência. No início de março são confirmados os dois primeiros casos, em território nacional, de infetados com Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2. A primeira vítima mortal é registada em meados do mês, altura em que se contabilizam 333 pessoas infetadas em Portugal e em que os jornais nacionais preenchem as capas quase só com notícias da pandemia. O Estado de Emergência acaba por ser decretado a 18 de março, sinal de um futuro muito incerto e nada colorido para os portugueses, como parece transmitir a capa do Diário de Notícias do dia seguinte.
Abril
Os heróis de serviço. As previsões económicas deste mês apontam para uma queda histórica do Produto Interno Bruto de Portugal, consequência da pandemia. Entretanto, os jornais dedicam capas a enaltecer o papel preponderante dos profissionais de saúde no combate à Covid-19, apesar de muitos deles serem trabalhadores precários e mal pagos.
Maio
Rivais do futebol obrigados a unir-se para sobreviver. Os clubes da Primeira Liga recebem autorização para voltar a competir e acabar a competição, interrompida devido à Covid-19. No entanto, fica definido que os jogos não poderão ter público. Entretanto, os clubes nacionais enfrentam um rombo financeiro difícil de tapar, devido à paragem do campeonato e às medidas de contenção da pandemia. Em nome da “sobrevivência” do futebol português, os presidentes dos três grandes, Benfica, Porto e Sporting, reúnem-se à mesma mesa – algo quase inédito.
Junho
A ameaça da extrema-direita é real. Os grupos radicais de extrema-direita começam a organizar-se em Portugal, nomeadamente os de ideologia neonazi, estreitando laços com organizações semelhantes de outros países. O recrutamento de novos membros por estes grupos, no nosso país, preocupa os serviços secretos nacionais (o SIS), vistos como uma “ameaça à segurança interna”. Um fenómeno, preocupante, que precisa de ser contado pelos diferentes ângulos de abordagem de duas capas.
Julho
Campeões num estádio ‘às moscas’. O Futebol Clube do Porto vence o Sporting por duas bolas a zero, sagrando-se campeão nacional de futebol pela 29º vez na sua história. Tanto o jogo como a celebração final ocorreram num Estádio do Dragão sem público nas bancadas: só se ouviam as vozes dos jogadores. Todavia, muitos adeptos decidiram arriscar e foram para rua celebrar, sem manter qualquer distância de segurança.
Agosto
Ir a Espanha para tomar o ansiolítico. O mês de agosto, a nível mediático, costuma fazer parte da silly season, em que nada de relevante sucede e tudo o que é inusitado e pitoresco se torna notícia de manchete. Este ano, mais uma vez devido à pandemia, foi um pouco diferente, com muitos portugueses à “beira de um ataque de nervos”, tal como noticia o jornal i, a 27 de agosto. O motivo? O ansiolítico Victan, um dos mais receitados, esgotou no mercado português, levando muitas pessoas a viajar até Espanha para aí o adquirir.
Setembro
Um pouco (mais) de Ronaldo para esquecer a (triste) realidade. No início de setembro fez-se o balanço e olhou-se para os números, nada agradáveis, de seis meses de Covid-19 em Portugal. Quem também gosta de olhar para números, neste caso por motivos mais benignos, é Cristiano Ronaldo: o seu grande objetivo parece ser o de bater recordes. A 15 de setembro, na deslocação da seleção portuguesa à Suécia, para defrontar a sua congénere local para a Liga das Nações da UEFA, CR7 chega aos 100 golos com a camisola das quinas. Na verdade, fez dois golos – os únicos do jogo –, tendo alcançado os 101. Começam a faltar superlativos e rótulos para os jornais descreverem este atleta da bola nos pés.
Outubro
Pedidos de amizade que cheiram a (A)Ventura. O jornal i publica, a 12 de outubro, uma carta aberta da autoria do deputado André Ventura, líder do partido Chega. Dirigida ao PSD, nela surge um apelo “para encontrar uma plataforma comum de ação”, assim como um aliciamento político, em forma de aparente convicção pessoal, de que “o futuro da governação em Portugal passará inevitavelmente pelos dois partidos”. Duas semanas depois, as eleições legislativas regionais dos Açores deram uma maior relativa de deputados ao PS, mas é o PSD que logra formar uma coligação pós-eleitoral com os restantes partidos de direita, o que lhes permite alcançar uma maioria absoluta de deputados. A polémica estala quando o PSD também forma um acordo, este de apoio parlamentar, com o Chega. O líder do PSD nacional, Rui Rio, acabaria por afirmar, mais tarde, que não via problema algum no acordo alcançado.
Novembro
Paraíso e Inferno em Portugal. Os dois principais destaques do Diário de Notícias de 25 de novembro trazem à luz duas realidades bastante díspares do nosso país. O Portugal ‘bonito’, visto como um pequeno paraíso por muitos estrangeiros que aqui preferem ficar a viver: “Número de britânicos em Portugal mais do que duplicou desde o Brexit”. E o Portugal 'feio', o dos problemas sociais sem solução à vista, simbolizado pelo bairro da Cova da Moura: “Moradores denunciam PSP mais dura no bairro desde o julgamento de oito polícias”.
Dezembro
“Os velhos somos todos nós”. A capa do jornal Público de 20 de dezembro é, podemos arriscar a dizê-lo, uma das mais simbólicas de todo o ano que passou.
Menção honrosa para a investigação jornalística
A revista Visão publicou, ao longo do ano, várias reportagens em que escarafunchou os interstícios do partido político Chega e o que se oculta atrás do seu líder, André Ventura. Uma história, dividida em três partes (e com três capas), onde se investigaram, e dão a conhecer, as ligações aos lóbis evangélicos, ao movimento neofascista, a poderosos homens de negócios e às forças de segurança nacionais. Pelo meio, muita guerrilha digital e casos de polícia.
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