A associação de hospitalização privada francesa decidiu cancelar a greve marcada para este mês, após um "tratamento desigual" recorrente do governo, culminando com os preços praticados e que se tornaram 14 vezes superiores no público aos previstos para provedores de saúde privados, após o governo de Emmanuel Macron ter cedido às suas reivindicações. O ministro da Saúde francês aceitou restabelecer o "princípio do tratamento justo do setor privado com os hospitais públicos e as instituições privadas sem fins lucrativos", vinca a associação, notando que, após semanas de negociação entre a associação e o Ministério da Saúde, foi possível chegar a "compromissos recíprocos, que não resolvem todas as questões, mas lançam as bases".
A forte mobilização da hospitalização privada em França, em estreita ligação com os sindicatos de médicos privados, permitiu obter compromissos por parte do governo de Macron, "tanto em termos de tratamento justo como de reconhecimento do setor, visibilidade plurianual e transparência", adianta a organização. "Sofremos no ano passado com o tratamento desigual a que fomos votados, mas a atribuição ao setor público de preços 14 vezes superiores aos do setor privado, em março último, foi um verdadeiro golpe, que suscitou um apoio muito forte e muito claramente expresso por parte de todos os nossos stakeholders (parlamentares, representantes eleitos dos territórios, agentes da saúde, associações de doentes, grupos de reflexão, académicos, etc.)", recordam os responsáveis, afirmando que, apesar de terem decidido cancelar a greve marcada para este mês, continuarão "muito vigilantes e mobilizados".
Na carta da tutela, adianta a associação, são assim restabelecidos os pressupostos de uma relação de confiança, com princípio do tratamento justo entre os atores públicos e privados, numa maior visibilidade plurianual, bem como o reconhecimento do papel dos hospitais privados na resposta às necessidades de cuidados da população nos territórios. Agora, diz, "é preciso que os compromissos se traduzam em ações", bem como prosseguir esforços no sentido de ver atendidas outras questões, nomeadamente a reforma do financiamento.
Entre as reivindicações dos provedores privados de saúde franceses está a abolição completa, a partir de 1 de julho, do coeficiente de redução das tarifas, tendo o governo instruído já as Agências Regionais de Saúde para ajudar os privados que se encontram em grandes dificuldades financeiras. "Quanto à equidade para os profissionais dos hospitais privados, negociou-se a atribuição de verbas para profissionais dos hospitais privados (trabalho noturno, de fim de semana e feriado), com o mesmo tratamento que os hospitais públicos e sem fins lucrativos, bem como o apoio financeiro para um novo acordo salarial a negociar a nível setorial com os sindicatos", adianta a instituição. Deve ainda nascer um novo protocolo plurianual e está também a ser finalizado um "documento-quadro entre o governo e as federações hospitalares para aplicação do protocolo plurianual para 2025-2027", abordagem que a associação considera essencial para permitir que as instituições de cuidados de saúde continuem a investir na inovação, prevenção, investigação e para garantir a sustentabilidade do sistema de saúde.
Do lado dos privados, há também contrapartidas, incluindo a participação em missões de serviço público, "em particular na permanência/continuidade dos cuidados como parte do trabalho a realizar", o reforço da cooperação público-privado para aliviar o congestionamento nos serviços públicos de emergência e a participação na política de prevenção pública.
"O sistema de saúde e o sistema hospitalar funcionam com duas pernas: o público e o privado. As clínicas e hospitais privados representam 35% da atividade hospitalar, com apenas 18% das despesas com seguros de saúde para estabelecimentos de saúde, incluindo honorários médicos", lembra a associação, vincando a complementaridade do sistema, em benefício do acesso a cuidados de saúde para todos.