Quando o voo 77 da American Airlines chocou contra o quartel-general do departamento de Defesa americano, Karen Baker inicialmente pensou que uma bomba tivesse explodido no prédio.
"Foi uma explosão forte e em seguida sentimos um tremor", lembra a especialista em relações com a imprensa, na época com 33 anos. "Achámos que fosse uma bomba".
Baker e sua amiga, Elaine Kanellis, que estava grávida de nove meses, uniram-se a outros milhares de funcionários que sairam rapidamente do prédio, muitos no meio da escuridão e do calor intenso provocados pela explosão. Investigadores disseram em seguida que todos os sobreviventes fugiram do edifício nos primeiros 30 minutos após o ataque. "As pessoas estavam muito ansiosas a tentar entender o que estava a acontecer. Mas estávamos com militares. Tinham estado sob fogo antes, então havia uma sensação de calma e ordem na confusão".
Do lado de fora, no estacionamento, Baker e os seus colegas tentaram desesperadamente contar as pessoas que tinham saído. Souberam em seguida que a explosão tinha sido causada por um avião. "Sabia que eram terroristas. Mas a ideia de um avião usado como arma e como isso podia acontecer nesta área era um pouco difícil de imaginar. Estava pronta para que chovessem bombas do céu sobre mim".
"É o trabalho que tenho que fazer"
Ao chegar a casa naquela noite, após atravessar uma Washington isolada pelas forças policiais, Karen Baker começou a digerir a enormidade do ocorrido ao abraçar o seu marido e os seus dois filhos, ambos menores de cinco anos. "A tensão tinha levado as crianças ao limite e estavam a chorar. Foi realmente difícil de ver", conta.
As atenções de Baker voltaram-se imediatamente para o trabalho. Durante dias, foi um elemento chave na compilação de uma lista de mortos e na comunicação com familiares para preparar homenagens às vítimas e para ser o "escudo e intermediária com os média".
"Somos treinados para anunciar a morte de soldados, mas não sabíamos realmente como fazer isso com civis. É algo que nunca tinha previsto", diz.
O desafio foi ainda mais difícil porque dois bons amigos morreram, enquanto outro sofreu queimaduras em 90% do corpo.
"Tu tratas o assunto de forma muito profissional: 'Este é o trabalho que tenho que fazer'. E depois, de repente, vês o nome de amigos na lista e eram pessoas que não sabias que tinham ficado feridas e agora estás a anunciar as suas mortes". Isso foi "o mais difícil de tudo o que me abalou nos dois dias seguintes" ao ataque, conta Baker à AFP no corpo de engenheiros do exército americano em Nova Iorque, onde trabalha agora como diretora de programas.
Durante meses, deu e coordenou inúmeras entrevistas. "Foi como reviver o 11/9 durante dias e dias (...) Mas para mim era especialmente importante contar a história dos civis do exército que morreram porque estas foram pessoas que nunca vestiram um uniforme e que realmente nunca se registaram para enfrentar o perigo".
Karen Baker e os seus colegas da época entram em contacto a cada aniversário do 11/9. "Realmente marcou o caminho que muitos de nós tomámos depois desse dia", diz.
"Tento apreciar a vida. Tento reconhecer que não recebemos nenhum tempo a mais do que temos. Também digo à minha família que a amo muito".
Baker acredita que naquele dia presenciou "milagres" que "aprofundaram" a sua fé. "Vi o heroísmo de pessoas que se uniram", conta. "Sinto, sim, que alguém me estava a proteger e que garantiu que eu saísse do edifício".