A escoliose pode afetar 2% a 3% das crianças e jovens, sendo mais comum a partir dos 10 anos, uma idade crítica no crescimento das mesmas, e mais frequente no sexo feminino. Em cada 10 casos de escoliose idiopática na adolescência, ou seja, sem causa conhecida, oito afetam raparigas. Mas, contrariamente ao que se possa pensar, a escoliose não é desencadeada pela permanência excessiva ao telemóvel e tablets, que obriga à chamada ‘posição SMS’, com um esforço continuado em postura incorreta sobretudo na zona do pescoço.
«A posição sobre os tablets e telemóveis podem traduzir-se em problemas posturais e musculares, mas não se associam ao desenvolvimento de escoliose. Desta forma, não existem dados a correlacionar a postura ao telemóvel com a escoliose», esclarece Tah Pu Ling, cirurgião ortopédico no Hospital Pediátrico de Coimbra, por altura em que se assinala o Dia Mundial da Escoliose, a 27 de junho.
Outra dúvida que convém esclarecer, e que surge no âmbito do confinamento pela COVID-19, é que estar muito tempo sentado também não provoca esta doença. Passar muito tempo sentado «não tem implicações específicas sobre a escoliose. Tem implicações no que respeita à saúde e condição geral da pessoa. Do nosso conhecimento não existem estudos que associem o confinamento ao agravamento da doença. A informação dos doentes é muito particularizada, não existindo um padrão», esclarece Pu Ling.
Neste sentido, por esta altura surge também a campanha Josephine, que pretende educar e explicar que não se deve menosprezar esta patologia. E que, apesar de na maioria dos casos a escoliose não causar dor, ter uma deformidade na coluna pode ser um grande problema na autoestima de crianças e jovens. Em algumas situações, a doença chega a formar uma verdadeira bossa no tórax.
Mas o que é, afinal, a escoliose?
É uma doença que faz com que a coluna vertebral vista de frente ou de trás pareça torta, formando uma espécie de ‘S’, verificando-se um desalinhamento das vértebras. A doença caracteriza-se ainda pela presença de uma ou mais curvaturas anormais por toda a coluna, com uma alteração de mais de 10 graus, provocando impacto na qualidade de vida das pessoas. «O impacto da escoliose é muito variável, consoante a gravidade da doença, a idade, e muitas outras características individuais. Pode ser assintomática ou implicar sintomas muito díspares que variam desde o prejuízo da imagem corporal à restrição respiratória. A incidência varia consoante a definição considerada. De uma forma muito geral, pode estar presente em mais de 5% da população, não implicando, na maioria dos casos, tratamento», explica o cirurgião ortopédico.
A escoliose pode ter várias causas, existindo assim diferentes tipos de escoliose. Na maior parte das vezes (70-80%), não tem causa conhecida, sendo designada de escoliose idiopática. Já no caso da escoliose congénita, as vértebras apresentam anomalias desde o nascimento, podendo não crescer ou crescer de forma assimétrica. Além da escoliose degenerativa, que surge frequentemente a partir dos 50 anos de idade e que resulta do desgaste de uma coluna previamente saudável, podemos falar também da escoliose neuromuscular, cujas causas mais comuns são a paralisia cerebral, distrofias musculares e lesão medular.
Porém, a escoliose não provoca muitas vezes sintomas, sendo necessário, segundo Tah Pu Ling, dar mais informação às pessoas. «Ter escoliose não é, de forma nenhuma, sinónimo de sintomas. A maioria dos diagnósticos não implica tratamento. Contudo, uma fração da população com escoliose sofre de morbilidade significativa e necessita de cuidados e, eventualmente, cirurgia. A informação e o conhecimento da doença é fundamental para se adequar a orientação às particularidades de cada um», assinala o médico.
No caso das crianças, dos casos diagnosticados, menos de 1% necessitam de tratamento. As opções de tratamento podem incluir o uso de colete de correção, em casos menos graves, ou cirurgia à coluna, nos mais graves.
O colete de correção postural é uma das opções de tratamento para a escoliose, podendo ser recomendado em casos de escolioses com uma curvatura entre os 20-25 e os 40-45 graus, em adolescentes que ainda não terminaram o seu crescimento. O objetivo do uso do colete passa por impedir o agravamento da curva durante a fase de crescimento, uma vez que o colete age empurrando a coluna vertebral;
Embora seja frequentemente observada em crianças e adolescentes, a escoliose pode manifestar-se em qualquer idade, tendo a sua prevalência aumentado em idade adulta, devido ao envelhecimento da população. A escoliose do adulto é uma deformidade que ocorre numa coluna vertebral após total maturação. No caso da escoliose idiopática do adulto, esta doença surge como uma progressão de uma escoliose com origem na infância ou adolescência, enquanto a escoliose degenerativa do adulto surge devido à degeneração de segmentos da coluna.