Novos ataques atingiram os subúrbios do sul da capital libanesa esta sexta-feira de manhã (hora local), provocando uma nuvem de fumo cinzento sobre Beirute, na sequência de uma série de apelos para evacuação lançados pelo exército israelita.
“A todos os residentes dos subúrbios do sul, especificamente (...) na zona de Ghobeiry (...), estais localizados perto de instalações e interesses afiliados ao Hezbollah, contra os quais as forças de defesa israelitas trabalharão com força num futuro próximo”, declarou Avichay Adraee, o porta-voz do exército israelita em língua árabe, pedindo aos residentes para abandonarem o local, ainda durante a madrugada.
Os subúrbios do sul, um dos bastiões do movimento xiita pró-iraniano libanês Hezbollah que o exército israelita tem como alvo há várias semanas, foram em grande parte esvaziados dos habitantes, embora algumas pessoas regressem ocasionalmente durante o dia para inspecionar casas ou lojas. Israel classificou várias áreas de Beirute como zonas em que habitam “terroristas”, embora a esmagadora maioria das vítimas nos ataques sejam civis.
Segundo avançou a Al Jazeera, os ataques na área de Ghobeiry arrasaram por completo um edifício, com as imagens a demonstrarem um projétil a atingir o espaço, perto de um parque. Foram registadas várias explosões e desconhece-se, para já, quantas pessoas morreram na ofensiva.
Entretanto, ao início da tarde na capital libanesa, o exército israelita emitiu nova ordem de evacuação - a terceira ordem emitida para cidadãos libaneses esta sexta-feira -, advertindo os cidadãos nas áreas de Haret Hreik e Hadath para abandonarem a zona e avisando que, caso permaneçam ou não consigam fugir, serão considerados como militantes do Hezbollah e alvos legítimos de Israel.
Os ataques israelitas ao longo das últimas 24 horas mataram, pelo menos, 43 pessoas em várias zonas do Líbano.
Aviões israelitas atacam centros de comando do Hezbollah no sul do Líbano
Israel também voltou a atacar na noite passada o sul do Líbano, com os seus caças a visarem os centros de comando da força de elite do grupo xiita Hezbollah, conhecida como Radwan, na zona de Nabatieh. Entre os alvos atacados está uma infraestrutura utilizada pela força de elite do Hezbollah “para realizar ataques terroristas contra o Estado de Israel e as tropas israelitas”, detalhou um comunicado militar israelita.
Na nota é adiantando que as tropas atacaram mais de “120 alvos terroristas” em todo o país vizinho, incluindo instalações de armazenamento de armas, centros de comando e um grande número de lançadores, incluindo alguns utilizados pelo Hezbollah para disparar ‘rockets’ em direção a Haifa e à zona da Alta Galileia, no norte de Israel.
A Al Jazeera, citando dados de uma autoridade regional libanesa, apontou que os ataques israelitas numa aldeia no sul do Líbano, na província de Baalbek, mataram pelo menos 15 profissionais de saúde e técnicos de emergência.
Por outro lado, o exército detetou também cerca de cinco projéteis disparados do Líbano em direção ao distrito de Haifa e à Alta Galileia, que foram intercetados ou caíram em zonas abertas.
Nas últimas horas, entretanto, continuam a chegar relatórios dos meios de comunicação israelitas e norte-americanos indicando que o acordo de cessar-fogo no Líbano poderia estar mais próximo. Na quinta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Gideon Saar, reiterou numa conversa que manteve com o seu homólogo francês, Jean-Noël Barrot, que existe “um desejo de alcançar um cessar-fogo” no Líbano para permitir que as mais de 60 mil pessoas retiradas do norte possam regressar às suas casas e que estão a ser feitos “avanços” nas negociações.
Embora, Saar também tivesse sublinhado que um acordo não é suficiente se a comunidade internacional não garantir que o Líbano “vá ser devolvido ao povo libanês, em vez de ser controlado pelo regime iraniano”.
Em mais de um ano de ofensiva israelita, pelo menos 3.386 pessoas morreram no Líbano e 14.417 ficaram feridas, de acordo com o mais recente balanço do Governo libanês. Desde 8 de outubro de 2023, o conflito danificou cerca de 100 mil casas, de acordo com o mesmo documento.
Em 23 de setembro, o exército israelita lançou uma intensa campanha de bombardeamentos no Líbano, visando em especial os bastiões do Hezbollah, e em 30 de setembro lançou uma ofensiva terrestre no sul do país.
O objetivo israelita é neutralizar o movimento xiita para permitir o regresso dos habitantes do norte de Israel, deslocados por quase um ano de fogo do Hezbollah, que em outubro de 2023 lançou uma “frente de apoio” ao Hamas palestiniano, na sequência da guerra na Faixa de Gaza.
Um relatório do Banco Mundial, publicado na quinta-feira, apontou que o Líbano, já a braços com uma crise económica sem precedentes, sofreu “perdas económicas” de mais de cinco mil milhões de dólares (4,7 mil milhões de euros) num ano de violência entre o Hezbollah e Israel.