O presidente da Câmara de Istambul, Ekrem Imamoglu, considerado o principal rival do Presidente Recep Tayyip Erdogan, rejeitou hoje categoricamente as acusações que motivaram a sua prisão preventiva, alegando que se baseiam em declarações secretas.

"Rejeito categoricamente as declarações secretas das testemunhas. Estão cheias de mentiras, calúnias e falsificações que atacam a honra de muitas pessoas", disse o social-democrata Imamoglu ao procurador, segundo o diário turco Birgun.

"Entristece-me profundamente que a nobre magistratura turca escolha o método das testemunhas secretas contra o presidente da câmara de Istambul, que ganhou as eleições três vezes com um número recorde de votos e representa 16 milhões de habitantes", acrescentou.

Imamoglu foi detido na quarta-feira sob a acusação de corrupção e ligações ao terrorismo.

Após quatro dias sob custódia policial, foi transferido no sábado para o Palácio da Justiça, onde prestou depoimento ao procurador, juntamente com outros 90 detidos sob as mesmas acusações.

Hoje, pelas 10:00 locais (07:00 em Lisboa), um juiz decretou a sua prisão preventiva sob a acusação de corrupção, suborno e manipulação de concursos públicos municipais.

Um dos advogados do autarca disse à agência francesa AFP que o tribunal rejeitou a acusação relacionada com terrorismo.

"Nunca desistirei, tudo vai correr bem", prometeu Imamoglu numa mensagem divulgada nas redes sociais através dos seus advogados.

Imamoglu apelou aos apoiantes para que não "percam a esperança" e "não desanimem".

"De mãos dadas, vamos derrotar este golpe, esta marca negra na nossa democracia", acrescentou, citado pela AFP.

O juiz também manteve em prisão preventiva 18 dos colaboradores de Imamoglu, vários deles diretores de empresas municipais.

Outros nove foram libertados com acusações, controlo judicial e proibição de sair do país.

Os restantes suspeitos continuavam a prestar declarações ao procurador ao final da manhã.

São mais de 80 no âmbito da investigação sobre corrupção e sete no âmbito da investigação sobre ligações terroristas.

A detenção de Imamoglu desencadeou manifestações de protesto e o Ministério do Interior anunciou hoje que 323 pessoas foram detidas no sábado à noite só em Istambul, juntando-se às 343 detidas na sexta-feira à noite em todo o país.

A polícia interveio com cargas de gás lacrimogéneo contra manifestantes no final do protesto de sábado à noite em frente à câmara de Istambul.

No protesto em Istambul, participaram provavelmente mais de 50.000 pessoas, ainda mais do que nos dias anteriores, segundo a EFE.

Também se registaram grandes manifestações em Ancara e Izmir, igualmente com intervenções policiais, e em Diyarbakir e na maioria das províncias do país, onde foram geralmente pacíficas.

O Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata), principal força da oposição a que pertence Imamoglu, descreveu a detenção do autarca como "um golpe de Estado político".

O CHP anunciou que iria apresentar Imamoglu como candidato presidencial nas próximas eleições, previstas para 2028, embora a oposição esteja a pedir que sejam antecipadas.

As primárias do CHP estavam marcadas para hoje e esperava-se a consagração de Imamoglu como candidato presidencial.