A neuropediatra que acompanhou as gémeas luso-brasileiras confirmou esta sexta-feira que foi pressionada a marcar uma consulta para as crianças após indicação do antigo secretário de Estado da Saúde Lacerda Sales, afirmando que o pedido a "irritou um pouco".

Ouvida na comissão parlamentar ao caso das gémeas, Teresa Moreno disse ter recebido um telefonema da diretora de departamento, após instrução do diretor clínico do hospital e no seguimento de uma solicitação de Lacerda Sales, a dizer que "tinha de marcar" uma consulta para as gémeas por indicação do então secretário de Estado.

A médica admitiu não ter contactado diretamente com o antigo governante, nem com"nenhum dos intervenientes", mas que essa solicitação vinda de um secretário de Estado a "irritou um pouco" e, por isso, referiu essa questão nos relatórios da consulta.

Teresa Moreno descreveu ainda o pedido como "atípico", mas explicou que acabou por agendar uma consulta para as gémeas para o dia 05 de dezembro de 2020, num esclarecimento em resposta ao deputado do CDS-PP, João Almeida.

A neuropediatra garantiu também, em resposta ao deputado do Livre, Paulo Muacho, que "não houve distinção" no tratamento médico das gémeas e que tomou conhecimento da consulta marcada, e posteriormente desmarcada, no Hospital dos Lusíadas apenas através da comunicação social.

Email da mãe foi reencaminhado para direção clínica do Santa Maria

A neuropediatra disse, ainda, que não respondeu ao 'email' da mãe das crianças, tendo-o reencaminhado para a direção clínica do Hospital de Santa Maria.

"O primeiro contacto que tenho com a mãe das gémeas é no dia 14 de novembro. Manda-me um email a dizer: Sou a senhora Daniela Martins, sou a mãe das gémeas, penso que já deve ter ouvido falar do meu caso. É aí o primeiro contacto, ao qual eu não respondi", indicou a médica, em resposta ao deputado do PCP Alfredo Maia.

Na sua audição, no âmbito da comissão parlamentar de inquérito ao caso das crianças tratadas com o Zolgensma em 2020, a médica salientou que não caberia a si decidir uso da medicação.

"Não caberia a mim decidir. Até pelos custos escandalosos que isto implica, e existindo, e isto é ponto importante, uma medicação que na altura já era uma medicação alternativa. Estávamos em 2019, onde nós estávamos a fazer uma mediação que tem bastante valor e que não impediria que houvesse um desfecho fatal. Eu não estava a escolher entre nada e todas estas crianças que me contactaram já estavam a fazer Nusinersen", salientou.

Teresa Moreno recordou ainda que foi "contactada várias vezes" por vários lusodescendentes que souberam do tratamento e queriam tratar dos seus filhos em Portugal, e que havia alguns contactos dirigidos às crianças.

Além da mãe das gémeas, "um colega abordou-me no hospital, um telefonema de outra colega, um telefonema de um familiar, pedindo a medicação", contou.