Um atentado provocou na terça-feira a morte de 26 civis na cidade de Pahalgam, na parte da Caxemira administrada pela Índia, sendo o mais mortífero dos últimos 20 anos.

Nova Deli atribuiu a responsabilidade do ataque a Islamabade e aprovou uma série de represálias diplomáticas contra o país vizinho, que negou firmemente qualquer envolvimento.

Eis os principais acontecimentos nas relações conflituosas entre os dois países:

1947: Partição sangrenta

Na noite de 14 para 15 de agosto de 1947, o vice-rei das Índias, Lord Louis Mountbatten, oficializa o fim de dois séculos de dominação britânica sobre o subcontinente indiano.

A ex-colónia é dividida em dois Estados: a Índia (de maioria hindu) e o Paquistão (de maioria muçulmana), formado por dois territórios distintos.

O Bengala Oriental fica geograficamente separado do Paquistão Ocidental pela Índia.

A divisão afeta cerca de 15 milhões de pessoas: muçulmanos para o novo território paquistanês, e hindus e sikhs em sentido inverso. Os confrontos e massacres causam cerca de um milhão de mortos.

No outono de 1947, estala a primeira guerra indo-paquistanesa pelo controlo da Caxemira, que tinha sido integrada na Índia.

Em 1948, uma resolução da ONU prevê a realização de um referendo de autodeterminação, nunca concretizado devido à recusa de Nova Deli.

A 1 de janeiro de 1949, sob a égide das Nações Unidas, é proclamado um cessar-fogo ao longo de uma "linha de controlo" com 770 quilómetros (km), dividindo o território em duas partes: 37% ficam sob controlo do Paquistão e forma o Azad Caxemira; 63% são integrados na Índia, formando o Estado de Jammu e Caxemira.

Apesar do acordo, os dois Estados continuam a reivindicar a soberania sobre a totalidade da Caxemira.

1965: Novas guerras

Entre agosto e setembro de 1965, o conflito na Caxemira reacende-se com a incursão na parte indiana de cerca de mil apoiantes da "Caxemira Livre", com o apoio do Paquistão.

Esta segunda guerra indo-paquistanesa, que causa milhares de mortos entre os militares de ambos os lados, termina com uma mediação soviética.

No início de 1971, o Paquistão envia tropas para a parte oriental do seu território, a fim de reprimir um movimento separatista.

O conflito termina nove meses depois, com a intervenção do exército indiano e cerca de três milhões de mortos, culminando na independência do que viria a tornar-se o Bangladesh.

1989: Insurreição separatista e islamista

No final de 1989, insurgentes exigindo a independência ou a integração da Caxemira indiana no Paquistão dão início a combates contra o exército de Nova Deli.

As populações hindus, visadas pelos rebeldes, fogem para outras regiões da Índia.

Os confrontos, ao longo das décadas seguintes, resultam em dezenas de milhares de mortos, entre soldados, insurgentes e civis.

A Índia acusa o Paquistão de financiar e treinar os insurgentes.

1998-1999: Conflito de Kargil

Em 1999, Nova Deli acusa Islamabade de ter infiltrado combatentes islamistas e soldados paquistaneses na Caxemira indiana, com o objetivo de tomar o glaciar de Siachen, situado a mais de 5.000 metros de altitude.

Os combates intensos ao longo da linha de demarcação, particularmente na região de Kargil, provocam mais de mil mortos.

2001: Atentado e escalada

A 1 de outubro de 2001, um atentado em frente à Assembleia regional da Caxemira indiana, em Srinagar, faz 38 mortos. A Índia acusa o Paquistão.

À beira de um quarto conflito na primavera de 2002, os dois rivais restabelecem relações diplomáticas em abril de 2003 e é alcançado um cessar-fogo, sem que tal ponha fim à guerrilha.

Atentados e tensões

Em 2008, uma série de atentados jihadistas provoca a morte de 166 pessoas em Bombaim. A Índia acusa os serviços secretos paquistaneses e interrompe o processo de paz iniciado quatro anos antes.

O diálogo é retomado em 2011, mas permanece frágil devido a incidentes fronteiriços. Ainda assim, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, realiza uma visita surpresa ao Paquistão em dezembro de 2015.

2019: Escalada e revogação da autonomia

Em 2019, a Índia promete represálias após a morte de 41 paramilitares num atentado suicida na Caxemira, atribuído a um grupo com base no Paquistão. Os dois países realizam ataques aéreos mútuos, aproximando-se da guerra.

No início de agosto, o governo nacionalista hindu de Nova Deli revoga a autonomia constitucional parcial da região, prendendo milhares de opositores políticos.

É imposto um apagão total das comunicações durante meses, e tropas são enviadas para reforçar o contingente de meio milhão de membros das forças de segurança já estacionados no território.