Pelo menos três mortos e 66 pessoas ficaram feridas durante confrontos entre manifestantes e a polícia na quinta-feira, oitavo dia das greves convocadas por Venâncio Mondlane, anunciou esta sexta-feira o Hospital Central de Maputo (HCM), maior unidade do país.

"Ontem, dia 07, [quinta-feira] em todas as nossas portas de entrada tivemos um cumulativo de 138 admitidos, dos quais a urgência de adultos teve 101 pacientes. Dos 101 pacientes, 66 foram vítimas dessas manifestações e os restantes foram por outras causas", disse o diretor do Serviço de Urgência de Adulto no HCM, Dino Lopes, em declarações à comunicação social.

Dados apresentados pelo responsável dão conta de que pelo menos três pessoas perderam a vida na quinta-feira, em resultado das manifestações.

"Dos 66 feridos, tivemos 57 possivelmente com lesões causadas por armas de fogo, quatro por queda, três por agressão física e dois feridos com armas brancas", acrescentou o diretor do Serviço de Urgência de Adulto no HCM.

Adiantou ainda que do total dos feridos, quatro pacientes encontram-se em estado grave, sendo que deste número dois necessitaram de intervenções cirúrgicas e um encontra-se sobre cuidados intensivos na maior unidade hospitalar do país.

Entre as vítimas, disse Dino Lopes, o maior grupo, com 34 feridos, têm idades compreendidas entre 25 e 35 anos de idade, seguido de 17 feridos na faixa etária entre 15 e 25 anos de idade, num dia em que o HCM afirma não ter recebido crianças feridas em resultado das manifestações.

ALFREDO ZUNIGA

Para responder à demanda, disse Dino Lopes, o HCM contou com o contributo de estudantes de medicina da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) e do Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique (ISCTEM), para além dos médicos de outras unidades sanitárias e de organizações não-governamentais que se voluntariaram para auxiliar na assistência aos pacientes.

Forças Armadas garantem que situação é estável

As Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) afirmaram que ao início da noite passada a situação no país, face aos violentos protestos pós-eleitorais, sobretudo em Maputo, era estável e que estão no terreno em "apoio" às forças de segurança.

"Em momentos como este, com manifestações ocorrendo em algumas regiões, o nosso papel estende-se também ao apoio das forças de segurança na manutenção da ordem e tranquilidade públicas, sempre atuando de forma subsidiária e em coordenação com as autoridades civis", disse o general Omar Saranga, em representação das FADM.

Siphiwe Sibeko

"Nós, digo todas as Forças de Defesa e Segurança, estão a controlar a situação. E os moçambicanos estão a compreender que a prioridade não é destruir, a prioridade é construir. E a nossa presença, com outras forças, é exatamente para contribuir para esse efeito", garantiu na mesma declaração, em Maputo, o general Omar Saranga, Chefe do Estado-Maior do Comando no Teatro Operacional Norte.

"Estamos firmes na construção de um Moçambique forte e unido"

"O estado geral da nação é estável. Está controlado. As instituições públicas, embora não estejam a funcionar na sua maior força - se hoje não o fizeram é porque as condições não o permitiam - porque há que salvaguardar a vida desses moçambicanos", acrescentou, sublinhando que "o direito de uns não deve impedir o direito de outros".

"Nos próximos dias é continuar a agir como agimos hoje [quinta-feira]. Mostrar que estamos firmes na construção de um Moçambique forte e unido", disse ainda.

Durante todo o dia de quinta-feira, enquanto eclodiam focos de conflitos em toda a capital, incluindo no centro de Maputo com manifestantes a montarem barricadas de pneus a arder em várias artérias centrais, o comportamento dos militares, que chegaram também a escoltar sem incidentes manifestantes que queriam regressar a casa, foi reconhecido por vários setores da sociedade, sendo até visíveis momentos de interação pacífica com a população.

"Mostra que as FADM são uma força credível em defesa que cumprem o dever e a tarefa de defender todos os moçambicanos, independente da sua cor religiosa, partidária ou outra", afirmou o general Omar Saranga.

A Lusa constatou ao início da noite de quinta-feira que dezenas de militares moçambicanos estavam no centro de Maputo, carregando pás, para limparem a destruição e vandalização provocada pelas manifestações.

ALFREDO ZUNIGA

Militares iniciam remoção dos destroços

Ainda não eram 19:00 locais (17:00 em Lisboa) quando dois camiões de transporte de militares chegaram à avenida Acordos de Lusaka, palco esta manhã de várias ações de vandalização e saque de duas lojas, de mobiliário e telecomunicações, no centro comercial do grupo sul-africano Shoprite.

Após uma rápida formatura, de arma a tiracolo e pás nas mãos, os militares seguiram para aquela avenida e ruas adjacentes para limparem as marcas de dezenas de pneus e contentores do lixo incendiados, removendo pedras de todos os tamanhos e todo o rasto de destruição, perante o olhar surpreendido dos moradores.

"Um grande serviço que estão a fazer", desabava uma moradora, ao ver o trabalho dos militares, que retiravam destroços ainda incandescentes das mesmas ruas que, horas antes, estavam tomadas pelo caos e pela destruição, bem como o que sobrou das barricadas montadas por apoiantes do candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro e que convocou estes protestos.

No mesmo local, horas antes, a polícia tinha travado manifestações dos apoiantes de Venâncio Mondlane com tiros para o ar e lançamento de gás lacrimogéneo, com aqueles a responderem com arremesso de pedras e garrafas.

Com Lusa