Os conservadores liderados pelo ex-primeiro-ministro Boïko Borissov ficaram em primeiro lugar nas legislativas deste domingo na Bulgária, mas permanece a incerteza sobre possíveis combinações para formar um governo estável, após sete eleições em três anos e meio.
Tal como nas anteriores eleições de junho, o partido de centro-direita Cidadãos pelo Desenvolvimento Europeu da Bulgária (GERB) ficou em primeiro lugar com 26% dos votos, à frente dos liberais pró-europeus do CC/BD - 'We Continue the Change-Democratic Bulgaria' (15%) e dos nacionalistas pró-russos de Vazrajdane (13%), segundo as sondagens à boca das urnas.
As votações sucedem-se e são semelhantes no país mais pobre da União Europeia (UE), onde o sopro de mudança contra os conservadores do Verão de 2020, quando Sófia foi abalada pelas manifestações anticorrupção, acalmou por completo.
"As pessoas querem um governo, estabilidade, segurança", declarou Borissov, durante a votação, citado pela agência France-Presse (AFP), estendendo a mão aos restantes partidos.
Mas, aqui corre novamente o risco de não encontrar aliados para formar uma maioria, num parlamento extremamente fragmentado, onde deveriam estar representados sete a nove partidos.
Crise política sem precedentes
Borisov indicou durante a campanha que vê o CC/BD como o parceiro preferencial para um eventual Governo, pois ambos fizeram parte do anterior executivo, que durou apenas 10 meses, através de um acordo de rotatividade dos primeiros-ministros, relatou a agência Efe.
Em março, o Governo ruiu devido a divergências no programa de reformas e na legislação anticorrupção, levando o país às eleições de junho e, uma vez que não foi conseguida a formação de um executivo, às atuais.
As sondagens de opinião mostram que mais de 60% dos residentes consideram a situação "extremamente preocupante".
Com esta crise política sem precedentes desde 1989, o partido Vazrajdane (Renascença) estabeleceu-se permanentemente no panorama político.
"A Bulgária deve continuar a ser um país independente, sem interferências estrangeiras", disse o presidente do partido ultranacionalista, Kostadin Kostadinov, referindo-se a Bruxelas e Washington.
Muito presente durante a campanha, Vazrajdane pode promover junto do seu eleitorado a adoção este verão pelo parlamento, por sua iniciativa, de uma lei contra a "propaganda" LGBT+ (Lésbicas, 'Gays', Bissexuais, Transgénero e outros) nas escolas.
Um texto inspirado na Rússia, neste país que é membro da NATO, mas ainda muito russófilo.
"A influência de Vazrajdane está a crescer ao ponto de o partido se tornar um potencial parceiro para o GERB", comentou Dobromir Zhivkov, diretor do instituto Market Links.
Borissov abriu a porta a uma aproximação ao admitir que os seus "parceiros em Bruxelas e Washington não permitiriam" tal cenário.
Detidos por comprar votos
Desde a invasão russa da Ucrânia, alinhou claramente contra Moscovo, mas uma possível vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas poderá mudar a situação, segundo o analista.
A eleição do candidato republicano e a sua "indulgência para com os pecados da corrupção" poderá também favorecer uma coligação de GERB com o antigo magnata Delyan Peevski, alvo de sanções americanas e britânicas.
O deputado de 44 anos criou uma fação dissidente dentro do Partido da Minoria Muçulmana (MDL), que teve um desempenho melhor do que o esperado e passou para o quarto lugar com quase 10% dos votos.
Embora a manipulação eleitoral, uma prática endémica na Bulgária, fosse esperada segundo os meios de comunicação social, o Ministério Público lançou centenas de investigações antes das eleições e mais de 70 pessoas suspeitas de compra de votos foram detidas, especialmente nas regiões onde existe um forte eleitorado do MDL.
A crise, que preocupa os investidores estrangeiros, suspendeu as reformas anticorrupção e de transição energética, comprometendo o pagamento de milhares de milhões de euros em fundos europeus.
A situação provocou ainda o adiamento da adesão à zona euro e a adesão plena à área de livre circulação Schengen.
Já para não falar do custo de organização das sete eleições, que ascende a mais de 300 milhões de euros.