O candidato presidencial Venâncio Mondlane chegou esta quinta-feira a Maputo, onde esclareceu que regressou a Moçambique para lutar pelo país e não "para ser chefe", acusando ainda as autoridades de "uma espécie de genocídio silencioso".

O candidato presidencial chegou por volta das 08:20 (06:20, hora em Lisboa) ao Aeroporto Internacional de Maputo, depois de dois meses e meio a liderar a contestação aos resultados das eleições gerais a partir do exterior.

Questionado sobre a possibilidade de aceitar os resultados eleitorais que deram a vitória a Daniel Chapo, candidato da Frelimo (partido no poder), reafirmou que não vai aceitar os resultados "se forem os mesmos" que os anteriores e que a única função que está disponível para assumir é "defender e lutar por este povo e pela verdade".

"Não fiz essa luta toda para ser chefe. Não fiz essa luta toda para ter benefícios financeiros de materiais (...) E não vou fazer parte de nenhum executivo que provenha destes resultados falsários e manipulados."

À chegada a Maputo, o candidato disse que não podia continuar fora do país quando o povo "está a ser massacrado" e acusou o regime de matar os seus apoiantes através de um "genocídio silencioso".

"Eu acho que não posso estar ao fresco, bem protegido, quando o próprio povo, que está no suporte da minha candidatura, dos meus valores, está a ser massacrado (...) As pessoas estão a ser sequestradas nas suas casas. As pessoas estão a ser executadas extrajudicialmente nas matas. Estão a ser descobertas agora as valas comuns com supostos apoiantes de Venâncio Mondlane (...) Estou aqui para visitar as valas comuns. Eu estou aqui para gritar em favor destes moçambicanos que estão a ser assassinados."

Aos jornalistas, mostrou-se disponível não só para responder na Justiça, mas também para dialogar e negociar com o regime moçambicano.

"Quero quebrar a narrativa de que estou ausente por vontade própria da iniciativas de diálogo, estou aqui em carne e osso para dizer que se querem negociar, dialogar comigo, querem ir à mesa de negociações estou aqui presente para o diálogo."

O Tribunal Supremo esclareceu, anteriormente, que não há qualquer mandado de captura emitido para Mondlane.

No entanto, o Ministério Público abriu vários processos contra o candidato presidencial enquanto autor moral das manifestações, no país, que já fizeram quase 300 mortos e causaram prejuízos de mais de dois milhões de euros, desde 21 de outubro.

Ouviram-se tiros no aeroporto antes da chegada de Mondlane

No domingo, Venâncio Mondlane anunciou que ia regressar esta quinta-feira a Maputo e pediu aos moçambicanos que o fossem receber em peso ao aeroporto. Quase duas horas antes da chegada, ouviram-se disparos nas imediações do aeroporto.

Com o regresso anunciado, o acesso ao aeroporto internacional de Maputo esteve esta quinta-feira condicionado pela polícia, como adiantou o delegado da agência Lusa em Moçambique, Paulo Julião.