1 – Provavelmente o dia mais importante

As eleições presidenciais norte-americanas são multifatoriais. A tentação de apontar apenas um evento como definidor é grande: mas será, muito provavelmente, errada e redutora. Mesmo depois das eleições e dos votos contados, é sempre muito difícil isolar um só episódio ou ocorrência como tendo sido o que mais contou para se saber a razão de ter sido um candidato a ganhar em vez do outro. Mas, por vezes, isso até acontece. O debate de 27 de junho foi decisivo para Joe Biden: o seu desempenho desastroso acabou com o sonho da reeleição. O debate desta noite pode ter esse efeito, mas será mais difícil antecipar quem poderá, desta vez, beneficiar ou sair prejudicado. Kamala vai mais a exame: é menos conhecida dos americanos e ainda não foi verdadeiramente exposta ao escrutínio público. Talvez tenha mais a ganhar, mas terá, certamente, mais a perder, caso o embate lhe corra mal. Trump tem menos pontos de interrogação: nove em cada dez americanos já têm opinião formada e fechada sobre ele. Um bom debate parra Trump passará por um registo que se mantenha em torno de temas económicos e sobre imigração. Se beneficiar Kamala, possivelmente a conversa será dominada pelos temas de defesa da democracia, aborto, diversidade, afirmação de minorias e proteção climática. A corrida não terminará esta noite. Mas pode vir a entrar num novo capítulo cujo conteúdo ainda é prematuro revelar, antes de vermos o debate de Filadélfia.

2 – O que se passa com as sondagens?

Os últimos dias parecem ter esfumado a vantagem de Kamala e Trump até apareceu à frente por um ponto numa sondagem e empatado na mais recente (50/50, Harvard/Harris). O que está a acontecer? Acima de tudo, o momento ascendente de Harris parece ter parado. Mas isso não quer dizer que a democrata esteja em queda. Vejamos: no dia do debate Trump/Biden (27 de junho), Kamala tinha 38% de aprovação. A 14 de agosto estava nos 45%. Hoje tem 48% (médias Real Clear Politics). O caminho de Harris continua a ser bastante positivo. Em contraponto, a abertura por optar por um “terceiro candidato” reduziu drasticamente: era de 12% a 21 de julho; 7% a 14 de agosto, agora é só 3% (já sem Kennedy, que apoia Trump). Mesmo assim, o candidato libertário Chase Oliver atinge 2% (sondagem NYT/Siena) e a candidata verde Jill Stein 1% (pode ter alguma relevância para Kamala Harris, que disputa a mesma mensagem ecológica e pró ambiental). Quanto ao entusiasmo do eleitorado, os democratas continuam acima dos republicanos, mas agora por diferença curta (72/69, NYT Siena; bem menos do que chegou a ser há semanas, com diferenças de 10 a 15 pontos). Principal tema que leva a um voto sólido em Trump: a Economia (55/42 de vantagem Donald nesse ponto). Cinquenta e seis por cento dos votantes Kamala consideram que a América está na direção correta; mas 89% dos votantes Trump dizem o contrário.
Uma interrogação: Será o debate desta noite tão decisivo como foi o de 27 de junho para Joe Biden? E se for, desta vez para quem?

Um Estado: Carolina do Norte

Resultado em 2020: Trump 49,9%-Biden 48,6%

Resultado em 2016: Trump 49,8%-Hillary 46,2%

Resultado em 2012: Romney 50,4%-Obama 48,4%

Resultado em 2008: Obama 49,7%-McCain 49,4%

Resultado em 2004: Bush 48,1%-Kerry 46,8%

SIC Notícias

-- A Carolina do Norte tem 10,4 milhões de habitantes: 61,6% brancos; 18,8% latinos; 12,4% negros; 6,1% asiáticos; 1,1% nativos-americanos. É o 9.º estado com maior população e 12.º estado mais rico da União. Vale 16 votos no colégio eleitoral.

Uma sondagem:

VOTO POPULAR NACIONAL -- Kamala 50 / Harris 50

(Harvard/Harris, 4 e 5 setembro)