O testamento do Papa Francisco, datado de 29 junho de 2022, foi hoje divulgado às 19:00 de Lisboa, após selado o apartamento onde morava e transferido o corpo para a capela da sua residência, a Casa Santa Marta.

"'Miserando atque Eligendo' ('Olhou-o com misericórdia e escolheu-o'). Em nome da Santíssima Trindade. Amén", escreveu Jorge Mario Bergoglio, iniciando com o seu lema como arcebispo de Buenos Aires e no seu pontificado a carta em que deixou expressa a sua última vontade, uma frase proveniente das homilias de São Beda, o Venerável, que se refere à sua escolha da vida religiosa.

"Sentindo que se aproxima o fim da minha vida terrena e com viva esperança na Vida Eterna, desejo expressar a minha vontade apenas no que respeita ao lugar da minha sepultura", afirmou.

"Confiei sempre a minha vida e o meu ministério sacerdotal e episcopal à Mãe de Nosso Senhor, Maria Santíssima. Por isso, peço que os meus restos mortais sejam depositados na Basílica Papal de Santa Maria Maior, à espera do dia da ressurreição", indicou.

O Papa Francisco morreu hoje de manhã, aos 88 anos, de um acidente vascular cerebral (AVC) fulminante, após mais de dois meses de graves problemas respiratórios causados por uma pneumonia dupla que o obrigaram a permanecer hospitalizado durante 38 dias, até 23 de março.

"Desejo que a minha última viagem terrena termine precisamente neste antigo santuário mariano, onde eu ia rezar no início e no fim de cada viagem apostólica para depositar com confiança as minhas intenções à Mãe Imaculada e para lhe agradecer o seu dócil e materno cuidado", prosseguiu.

"Peço que o meu túmulo seja preparado no nicho da nave lateral entre a Capela Paulina (Capela da Salus Populi Romani) e a Capela Sforza da referida Basílica Papal, conforme indicado no documento em anexo", precisou, acrescentando: "O túmulo deve ser enterrado, simples, sem decoração especial e com a inscrição única: Franciscus".

Sobre as despesas com os preparativos para as suas exéquias, referiu: "Serão cobertas pela soma do benfeitor que arranjei, que será transferida para a Basílica Papal de Santa Maria Maior e sobre a qual dei as devidas instruções a Monsenhor Rolandas Makrickas, Comissário Extraordinário do Capítulo Liberiano".

"Que o Senhor conceda a merecida recompensa àqueles que me amaram e continuarão a rezar por mim. Ofereci ao Senhor o sofrimento que esteve presente na última parte da minha vida pela paz no mundo e pela fraternidade entre os povos", concluiu o chefe da Igreja Católica desde 2013.

Os apartamentos do Papa Francisco, tanto aquele em que residia, na Casa Santa Marta, como o do Palácio Apostólico, que não utilizava, foram hoje selados após a sua morte, como manda a tradição.

O rito de selagem é efetuado para garantir a segurança de todos os documentos e pertences do Papa falecido após a sua morte.

Esta tarde, as portas do apartamento do Palácio Apostólico, que Francisco não utilizava desde a sua eleição, em 2013, foram seladas com uma fita vermelha e lacre da mesma cor, uma vez que decidiu viver em outra residência, a Casa Santa Marta.

À selagem assistiram o cardeal norte-americano Kevin Joseph Farrell - o camerlengo que deverá dirigir a administração da Igreja Católica durante este período de "sede vacante" -, o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, e o arcebispo venezuelano Edgar Peña Parra, responsável pelos Assuntos Gerais da Secretaria de Estado da Santa Sé.

Depois, procedeu-se à selagem da Casa Santa Marta, com o mesmo objetivo.

Hoje, foi igualmente levado a cabo o ritual da constatação da morte, na sua residência, e logo o seu corpo foi colocado no féretro para ser velado na capela do edifício, tal como dispôs em vida o Papa argentino, que simplificou o protocolo.

Também o anel do Pescador e os selos papais serão cancelados, para que ninguém possa assinar documentos em seu nome após a sua morte.

Espera-se que o caixão de Francisco, o primeiro Papa latino-americano, seja na quarta-feira levado para a Basílica de São Pedro, no Vaticano, para ser visto pelos fiéis, e que o funeral se realize entre sexta-feira e domingo, segundo a legislação em vigor do Vaticano.