"Um oásis" só para um, o "país ao contrário" ou um Portugal que não é aquele que "99% dos outros portugueses não vivem ou vêem". Da direita à esquerda, a primeira mensagem de Natal de Luís Montenegro como primeiro-ministro "não emocionou" e somou críticas. Eis como reagiram os partidos:

PS acusa Montenegro de tentar "desviar a atenção"

Para os socialistas, a mensagem de Montenegro "contrasta com a realidade" e quis "desviar a atenção da circunstância deste Governo não estar a resolver o problema dos portugueses". "A verdade é que já lá vão vários meses, vários 'powerpoints' várias medidas e quando vamos perceber o que é que já foi feito (...) claramente não estão a ter resultados", afirmou Alexandra Leitão. Mas "não vale a pena traçar um quadro eleitoralista de um país que não é o que os portugueses conhecem", atirou a líder parlamentar.

Por outro lado, a mensagem contrastou com as medidas que têm sido aprovadas com o voto do PSD e CDS na Assembleia da República e com a mensagem de Natal do Presidente da República (que num artigo de opinião publicado no Jornal de Notícias apelou à igualdade e à "superação das discriminações injustas"). Por sua vez, oGoverno da AD "cavalga uma perceção de insegurança que não é real e aproveita para entrar numa deriva de populismo totalitário".

"A necessidade de humanismo, de solidariedade e de investir no Estado de Direito e no Estado Social" deviam, na opinião dos socialista, ter estado no centro da mensagem de Natal do primeiro-ministro.

Chega critica "discurso redondo" sobre criminalidade

Também André Ventura acusou Luís Montenegro de "viver e ver um país que 99% dos outros portugueses não vivem ou vêem", nomeadamente ao continuar a repetir que Portugal é (como dizem as estatísticas oficiais) um dos "países mais seguros do mundo". "Hoje, em praticamente todo o país, os portugueses sentem o peso da insegurança, a ameaça da criminalidade, da violência ou do tráfico de droga", afirmou. Esse país seguro existe "apenas na cabeça do PS e PSD".

Assim, defende, a mensagem do Natal do primeiro-ministro devia ser uma "mensagem de tranquilidade, esperança e garantia de que estará ao lado das forças de segurança" contra a criminalidade e "bandidagem". Mas Luís Montenegro "não fez nada isso", considerou André Ventura. "Optou pelo mesmo discurso redondo que António Costa podia ter feito, ou outro qualquer primeiro-ministro antes dele".

Ventura apontou a mesma dissonância no discurso do primeiro-ministro sobre os impostos. "Como é que se pode falar de impostos quando tivemos um Orçamento que continua, na mesma linha do PS, a carregar nos impostos sobre o consumo e indiretos para financiar a despesa do Estado, o seu tamanho e peso?", afirmou.

IL considera que Montenegro falou de “oásis” onde vive só

Também para a Iniciativa Liberal, o primeiro-ministro falou num “oásis”, mas “em que só vive o primeiro-ministro e o Governo da Aliança Democrática". Já "os portugueses vivem em condições que não são aquelas que constam do oásis que o primeiro-ministro quer apresentar”, criticou Rui Rocha. “O país precisa de mudança a sério e este discurso, que é um discurso que parece contente com aquilo que foi fazendo, é um discurso muito afastado das necessidades do país, é um discurso muito afastado da vida dos portugueses”, insistem os liberais.

Enumerando os "falhanços claros" desta Governação (da saúde à educação), Rui Rocha questiona “como é que é possível fazer um discurso auto-elogioso quando nada de essencial mudou e muitas coisas pioraram, quanto mais não seja porque passou tempo e nada se resolveu”. Mais, o primeiro-ministro apresentou-se “aos portugueses com um projeto político esgotado”, parecendo que a aprovação do Orçamento do Estado na generalidade esgotou "toda a capacidade política do Governo”. Isto quando o país precisa "de energia" e "ambição".

PCP aponta que discurso "não cola com a realidade

No PCP, a mensagem de Montenegro também foi vista como dissonante da realidade. "A mensagem do senhor primeiro-ministro é uma mensagem que fala de um país ao contrário daquele em que nós vivemos. É uma mensagem que não cola com a realidade e com as dificuldades de milhões de portugueses", reagiu o membro da Comissão Política do Comité Central do PCP, Jaime Toga. Por isso, para os comunistas, o discurso do primeiro-ministro "não augura nada de positivo, porque se não se identificam os problemas, não se é capaz de resolver os problemas como há necessidade de se fazer".

Se para Luís Montenegro, este foi um "ano de viragem", para o PCP "não é possível haver uma viragem na vida nacional se não há um aumento de salários capaz de repor o poder de compra" ou se não houver "respostas no Orçamento do Estado". Mais ainda quando, dizem os comunistas, o atual OE está feito para "responder aos interesses dos grupos económicos".

Mais do que "em mensagens e discursos", o problema está na "resposta aos problemas com os quais o povo português está confrontado".

BE insta Montenegro a "pedir desculpas ao país" por operação no Martim Moniz

Já o Bloco de Esquerda reagiu às palavras de Montenegro defendendo que tratar as pessoas “com dignidade e humanismo seria reconhecer" que a operação policial na rua do Benformoso, no Martim Moniz, "foi uma ação politicamente motivada e pedir desculpa ao país”. “O governo reconhece que Portugal é um país seguro, no entanto, tratar as pessoas com dignidade e humanismo não é encostá-las à parede como vimos nas operações dos últimos dias”, afirmou Aliyah Bhikha, da comissão política bloquista.

Na curta declaração, acrescentou: “Entramos em 2024 e saímos de 2024 com uma crise tanto na habitação como na saúde cada vez mais agravada. O Bloco de Esquerda tem apresentado propostas diversas e sabemos que faria um caminho diferente do que tem sido feito”.

Livre acusa Governo de "cedência retórica à extrema-direita"

Pelo Livre, Paulo Muacho apontou falhas ao Govenro e foi taxativo: “Damos uma nota muito negativa e temos muitas reservas em relação ao trabalho do Governo”.

Elaborando, o deputado acusou o Governo de uma “cedência retórica à extrema-direita” em matéria de migrações e segurança, adotando uma "política que é cada vez mais securitária". Já na Saúde (que foi uma bandeira da campanha da AD), sublinha que a “maioria dos problemas do SNS continuam por resolver e o Governo não tem dado essa resposta”. Isto enquanto "milhares de alunos que estão sem aulas desde o início do ano”.

Lamentou ainda a “política de descida de impostos” que “privilegia quem tem mais e quem não precisa desses apoios” e a “política de ecologia sem grande plano de ação” para combater as alterações climáticas. O deputado acusou ainda o primeiro-ministro de uma tentativa de aproveitamento político do “aumento extraordinário de pensões”, que “foi feito contra a vontade do governo”.

Discurso de Montenegro "não emociona" PAN

Já o PAN não ficou "emocionado" com a mensagem de Natal do primeiro-ministro, que acusa de ter um discurso "completamente diferente da sua ação governativa". "O primeiro-ministro não pode dizer uma coisa no Natal e fazer outra durante todo o ano", afirmou Inês Sousa Real. Com muitos desafios pela frente, é preciso "passar das palavras à ação".

Assim, não importa que o primeiro-ministro diga que está do lado dos profissionais se depois permite que a sua bancada vota contra a valorização desses profissionais. Da mesma forma, "não emociona" quando fala de alterações climáticas ou de proteção animal, quando depois os votos no Parlamento também não vão nesse sentido.

CDS refuta críticas da esquerda e reitera que apoia política de segurança

A única nota positiva ao discurso de Montenegro veio do parceiro de Governação. O líder parlamentar do CDS-PP reiterou que o partido se identifica na política de segurança do Governo e refutou as críticas da esquerda à operação do Martim Moniz, considerando que estas "não fazem sentido". "A polícia fez o seu trabalho e tem todo o apoio do CDS e do Governo na sua capacidade. Os portugueses podem confiar na polícia para garantir a segurança e para garantir o combate à criminalidade violenta. O CDS defende mais policiamento, defende maior visibilidade, mais polícias na rua e mais operações especiais de prevenção

da criminalidade como esta, respeitando sempre as leis e as regras próprias de um Estado de direito democrático", afirmou.

Assim, Paulo Núncio considerou que Luís Montenegro "fez muito bem em colocar a questão da segurança na sua mensagem de Natal, porque a segurança é um direito fundamental dos cidadãos e a polícia tem a obrigação de defender e assegurar este direito fundamental dos cidadãos".

Para o centrista, este Governo "tem adotado um conjunto de medidas nos últimos nove meses que, em muitos casos, fizeram mais pelo Estado Social do que o PS nos últimos oito anos". "Os portugueses começam a sentir mudanças para melhor na sua vida e o CDS tem um enorme orgulho de pertencer a este Governo e uma identificação profunda com as suas políticas", acrescentou.