Dois autocarros e sete veículos foram incendiados, esta noite, em várias zonas da Área Metropolitana de Lisboa, disse à Lusa fonte da polícia. O último autocarro incendiado foi registado na Arrentela, no concelho do Seixal, distrito de Setúbal, indicou a mesma fonte.
O outro autocarro foi consumido pelas chamas em Santo António dos Cavaleiros, Loures, de acordo com a CMTV, que mostra imagens do incidente. As chamas já foram controladas pelos bombeiros e há um forte dispositivo policial no local.
A PSP registou ainda focos de incêndio em caixotes do lixo em Amadora, Sintra, Oeiras, Odivelas, Barreiro, Lisboa e Almada, na sequência dos desacatos que se seguiram à morte de um homem baleado pela polícia, na Amadora, na madrugada de segunda-feira.
Duas pessoas foram detidas na quarta-feira à noite na Pontinha, Odivelas, tinha dito anteriormente à Lusa fonte da PSP. A fonte não precisou, contudo, o motivo que levou à detenção destas duas pessoas.
O Presidente da República salientou na manhã desta quinta-feira que, “felizmente”, a noite foi “diferente da noite anterior e dos dias anteriores”. “Isso é um bom sinal. Sinal de que a maioria daqueles que ali residem sente que é importante a paz e a rejeição da violência”, afirmou em declarações aos jornalistas em Cascais, onde decorrem as Conferências do Estoril.
“Aquilo que está em apuramento, está em apuramento e é assim que funciona a justiça. Vamos esperar para saber exatamente o que é apurado e não tirar nenhum tipo de conclusões apressadas”, declarou o Presidente.
Questionado sobre o alastrar dos distúrbios a outras zonas da Grande Lisboa, Marcelo respondeu que “apesar de tudo, nos bairros e municípios que tinham sido mais atingidos nos dias anteriores, houve uma acalmia”. “E aquilo que existiu noutros sítios, já tinha existido noutros sítios também na noite anterior. Parece representar, esperamos e desejamos, uma desescalada da violência. O triunfo do bom senso, da paz e a rejeição daquilo que não é solução. A violência física nunca é solução para os problemas sociais”, concluiu.
Na noite de quarta-feira, a PSP já tinha confirmado à Lusa uma sucessão de focos de incêndio em vários concelhos da Área Metropolitana de Lisboa, no mesmo contexto. Na Amadora houve alastramento dos focos de incêndio para viaturas, confirmou o responsável, que não conseguiu precisar o total de ocorrências.
De acordo com o 'site' da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, pelas 02:30 registavam-se mais de uma dezena de ocorrências relativas a "detritos" nos distritos de Lisboa e Setúbal, nomeadamente em Queluz (concelho de Sintra), Alfragide (Amadora), Camarate (Loures), Carcavelos (Cascais), Carnide (Lisboa), Mina de Água (Amadora), Corroios (Seixal), Caparica (Almada) e Moita.
Odair Moniz, 43 anos, cidadão cabo-verdiano, e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.
Segundo a PSP, o homem pôs-se "em fuga" de automóvel depois de ver uma viatura policial e "entrou em despiste" na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, "terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca".
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação "séria e isenta" para apurar "todas as responsabilidades", considerando que está em causa "uma cultura de impunidade" nas polícias.
A Inspeção-Geral da Administração Interna abriu um inquérito urgente e também a PSP anunciou um inquérito interno, enquanto o agente que baleou o homem foi constituído arguido.
Desde a noite de segunda-feira foram registados desacatos no Zambujal e, já na terça-feira, noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados autocarros, automóveis e caixotes do lixo, e detidas três pessoas.
Dois polícias receberam tratamento hospitalar devido ao arremesso de pedras e dois passageiros dos autocarros incendiados sofreram esfaqueamentos sem gravidade.