Os eleitores moçambicanos foram a votos a 9 de outubro em eleições presidenciais, legislativas e provinciais. Só daqui a duas semanas devem ser anunciados os resultados das presidenciais.
Na corrida à sucessão de Filipe Nyusi, que atingiu o limite constitucional de dois mandatos, concorrem Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder desde 1975), Ossufo Momade, pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, o maior partido da oposição), Lutero Simango, pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM, o terceiro maior partido) e Venâncio Mondlane, que começou no MDM, passou para a Renamo e é agora apoiado pelo Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), partido sem representação parlamentar.
A Comissão Nacional de Eleições e os observadores fizeram um balanço positivo, mas a Renamo denunciou a exclusão de membros das mesas de voto e pediu a reparação de “irregularidades”, como o uso de urnas “sem tampas”. Houve também relatos de vários incidentes.
No dia seguinte à votação, Mondlane declarou-se vencedor das presidenciais, com base em editais, atas e resultados de uma contagem paralela da sua candidatura – algo que já tinha feito em 2023, quando concorreu à autarquia de Maputo. Também na altura se declarou vencedor, mas essa vitória não foi confirmada oficialmente, o que originou dezenas de marchas de protesto na capital.
Jessemusse Cacinda, investigador no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, e Luís Nhachote, coordenador executivo do centro de jornalismo investigativo, em Maputo, são os convidados desta edição.
“Quem concorre pela Frelimo está numa corrida de atletismo em que já marcha antes de a equipa de arbitragem autorizar a iniciar a marcha”, diz Cacinda, acrescentando que “Chapo ainda precisa de ter um pensamento próprio e desenvolver uma visão sobre o que quer para dirigir Moçambique, tendo em conta os desafios do país”. Isto, naturalmente, se for o vencedor das eleições.
Segundo dados provisórios, “houve dispersão de votos, principalmente dos partidos da oposição, que criou condições para que a disputa ficasse entre a Frelimo e Mondlane”, avalia o investigador.
Nhachote fala numa “repetição de fatores que continuam a assombrar o processo”, sublinhando haver “sempre mexidas na lei eleitoral em função dos resultados”. Para o coordenador executivo, “os órgãos eleitorais têm sido os protagonistas, pela porta pequena, e isto não é saudável para qualquer Estado de direito democrático que se preze ou que pretenda ser”. Quanto às irregularidades e incidentes relatados, “vão manchar o processo”.
Este episódio foi conduzido pelo jornalista Hélder Gomes e contou com o apoio técnico de João Luís Amorim.
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