Depois de críticas vindas de Kyiv e de Seul contra uma alegada cooperação militar entre Coreia do Norte e Rússia, os Estados Unidos da América anunciaram esta quarta-feira que terão provas de presença de forças norte-coreanas em solo russo, alertando que uma possível participação de tropas da Coreia do Norte na invasão na Ucrânia seria “muito, muito séria”.
Em Roma, numa reunião de ministros de Defesa do G7, o secretário norte-americano Lloyd Austin confirmou que “existem tropas da República Popular Democrática da Coreia na Rússia” (fazendo questão de usar o nome formal do país), e indicou que “há coisas que têm de ser esclarecidas” antes de serem tomadas mais decisões.
A confirmação dos EUA surge depois de a Ucrânia e a Coreia do Sul terem-se mostrado muito descontentes com a aproximação militar entre os regimes de Moscovo e Pyongyang. Na sexta-feira da semana passada, os serviços secretos em Seul indicaram que pelo menos 1.500 soldados do Norte tinham sido enviados para a Rússia, para serem treinados no clima da Ucrânia. E, citados pelo The Guardian, vários deputados da comissão parlamentar de assuntos de segurança da Coreia do Sul avançaram que pelo menos 3.000 já foram enviados para a Rússia.
Na terça-feira, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou o regime liderado por Kim Jong-un de se preparar para fornecer mais de 10 mil soldados para combater na Ucrânia, do lado dos russos. Os serviços secretos sul-coreanos apontaram que estão a colaborar com as autoridades homólogas ucranianas, e que o uso de tecnologia de reconhecimento facial permitiu identificar a presença de oficiais da Coreia do Norte na região de Donetsk controlada pelas forças russas.
“Vamos continuar atentos e a ver o que acontece. Se eles forem co-beligerantes, se as suas intenções forem participar nesta guerra em defesa da Rússia, então isso será um assunto muito, muito sério”, avisou o secretário da Defesa dos EUA.
Austin também comentou que a possível inclusão de soldados norte-coreanos na guerra, bem como a dependência em armamento oferecido pela Coreia do Norte e pelo Irão, pode ser um reflexo das dificuldades que a Rússia tem tido em arranjar mais soldados e mais recursos humanos, para sustentar a sua guerra na Ucrânia. “Isto é uma indicação de que podem estar em mais sarilhos do que as pessoas imaginam”, considerou o general norte-americano.
O Kremlin, contudo, refuta as alegações do Ocidente. A Presidência russa tem sempre negado o apoio indireto de países terceiros na guerra na Ucrânia, especialmente da Coreia do Norte e do Irão, e negou também na quarta-feira que existam tropas norte-coreanas a treinar em solo russo.
O que é irrefutável é a forte aproximação entre Vladimir Putin e Kim Jong-un ao longo do último ano. Putin, que raramente saiu da Rússia desde o início da invasão ucraniana, em março de 2022, já visitou Pyongyang, e os dois líderes assinaram um pacto de defesa mútua em junho deste ano.
Nova chefe de diplomacia da UE define guerra na Ucrânia como prioridade do mandato
A próxima alta representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros apontou a guerra na Ucrânia como prioridade do início do seu mandato e o reforço da defesa nos 27 países do bloco comunitário, mas evitou falar sobre Israel.
De acordo com as respostas ao questionário que Kaja Kallas, antiga primeira-ministra da Estónia, enviou para os eurodeputados, “reforçar a segurança e defesa” da União Europeia (UE) “é uma necessidade”, já que as duas valências “estão em perigo”. “Precisamos de atuar com urgência. Nos primeiros 100 dias do meu mandato, em conjunto com o comissário de Defesa, irei propor um manual sobre o futuro da defesa europeia”, indicou a também antiga eurodeputada.
O documento que Kaja Kallas vai apresentar vai determinar “os investimentos necessários e apresentará as ideias” para um plano a longo prazo sobre a “construção da UE da Defesa”.
O reforço da defesa nos 27 países do bloco comunitário faz parte da estratégia da alta representante também para a Política de Segurança. “Estou disposta a estudar, em conjunto com o Conselho [da UE] e os Estados-membros, outras maneiras, concretas, de reforçar o nosso nível em matéria de segurança e defesa”, acrescentou.
Nesse sentido, é necessário fazer uma análise das ameaças que a UE enfrenta “para compreendê-las e responder” da melhor maneira e com a celeridade requerida.
Entre as prioridades está o conflito na Ucrânia, que dura há mais de dois anos e meio. A invasão russa deixou a Estónia ainda mais em alerta, já que é um dos países nas extremidades do bloco comunitário e que faz fronteira com território russo. Como primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas sempre foi uma das vozes mais contundentes em relação à necessidade de apoiar a Ucrânia. A Estónia foi uma república soviética.
A audição no Parlamento Europeu, em Bruxelas, de Kaja Kallas, para receber uma eventual 'luz verde' dos eurodeputados, será no dia 12 de novembro.
Outras notícias
⇒ A diplomacia ucraniana congratulou-se pela falta de referências na declaração final da cimeira dos BRICS à “visão neoimperialista russa de mudar a ordem mundial e a arquitetura de segurança global através da sua agressão contra a Ucrânia”. Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano disse que a declaração fica-se pelo “compromisso com os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas” e apontou que “a declaração demonstra que os BRICS, enquanto associação, não têm uma posição única” sobre a guerra na Ucrânia;
⇒ As autoridades russas anunciaram esta quarta-feira a captura de mais duas localidades na província de Donetsk, no leste da Ucrânia e principal foco da invasão desencadeada pelas forças de Moscovo em fevereiro de 2022. O Ministério da Defesa russo indicou em comunicado na rede Telegram que “unidades do grupo de forças do Sul libertaram a cidade de Serebrianka”, enquanto o grupo do Centro assumiu o controlo de Nikolaevka. Kiev não comentou ainda o anúncio da Rússia;
⇒ Aviões militares alemães vão patrulhar o Atlântico Norte a partir de uma base na Escócia ao abrigo de um novo acordo de defesa entre o Reino Unido e a Alemanha, celebrado esta quarta-feira em resposta à crescente ameaça da Rússia. Os ministros da Defesa britânico e alemão assinaram o protocolo em Londres, com as autoridades dos dois países a frisarem que se trata do primeiro acordo de defesa entre os dois Estados-membros da NATO para reforçar a segurança europeia no meio da crescente agressão russa;
⇒ As autoridades da Rússia acusaram de crimes de terrorismo 130 militares ucranianos que foram capturados no âmbito da incursão terrestre lançada por Kiev em agosto contra a região russa de Kursk, por “intimidarem a população” e por abrirem “repetidamente fogo para matar militares e civis russos”. No início de agosto, a Ucrânia iniciou uma ofensiva de grande envergadura contra a região fronteiriça de Kursk, assumindo o controlo de mais de uma centena de cidades, mas as Forças Armadas russas conseguiram recuperar várias posições desde então;
⇒ O ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Andrii Sybiha, vai visitar Angola esta semana no âmbito de um périplo por países de África e do mundo árabe para promover a fórmula de paz e consolidar o apoio humanitário e energético à Ucrânia. A visita decorre entre os dias 24 e 25 de outubro, e Sybiha deve passar depois pelo Egito e África do Sul.