O Almirante Gouveia e Melo não se descose sobre as suas intenções futuras além de umas "merecidas férias". Mas vai deixando a porta aberta. "Depois logo se vê". Foi assim que respondeu às perguntas de Paulo Baldaia e Vítor Matos no Expresso da Manhã, no festival de podcasts do Expresso, Podfest, que decorre esta sexta-feira em Lisboa.
O tema da conversa era outro e Gouveia e Melo quis matar o tema presidenciais rapidamente. Questionado sobre as sondagens, que indicam o seu nome como o preferido dos portugueses, foi rápido no agradecimento e a fechar a resposta: "Agradeço aos portugueses a simpatia, que muitas vezes manifestam na rua, e a confiança que têm em mim".
O mar do Almirante para já é outro e foi aí que foi defendendo algumas das suas propostas para a defesa e segurança nacional. A começar pela evidente necessidade de se debater o reforço do investimento, argumentou. É um debate "urgente e necessário" que nos pode afetar "a segurança e a prosperidade".
Na cena internacional, Gouveia e Melo deixou de ver apenas dois "perturbadores", a Rússia e a China, para ver três. "Isso é verdadeiramente preocupante. As leis internacionais como as conhecemos estão postas em causa. Se o sistema internacional colapsar, tudo o que pensamos que é o nosso mar deixa de ser nosso, passa a ser de quem tem mais capacidade", disse, para defender que é preciso investir na dissuasão. É uma realidade que "nos é imposta" e portanto não há como fugir ao debate.
Nem nas próximas eleições presidenciais. "Pode discutir-se as coisas mais comezinhas. Tem de haver uma ideia do que temos de ser como país e prosperar num mundo cada vez mais em ebulição, em que coisas que temos como garantidas como a NATO e a UE podem não ser assim tão garantidas".
Um debate prioritário e urgente, mas que o Almirante diz que tem de ser "equilibrado", ainda que assuma que há desequilíbrios a ter em conta: "De alguma forma vai haver afetação nas despesas sociais. O que interessa termos despesas sociais se não tivermos país? Ou se tivermos de obedecer a uma autoridade exterior, ainda por cima ditatorial?", perguntas retóricas que serão a base de uma discussão que pode acontecer em campanha eleitoral. Este é um debate que tem surgido sobre a alegada necessidade de reduzir despesas no estado social para um esforço na defesa, como já chegou a defender Mark Rutte, novo secretário-geral da NATO.
Na conversa curta com os jornalistas do Expresso, o Almirante Gouveia e Melo foi defendendo que a despesa militar, tal como um novo Serviço Militar Obrigatório (SMO), têm de ser pensados "de forma inteligente". Se, no que toca ao investimento, Gouveia e Melo considera que tem de se pensar na Europa que é preciso uma "reindustrialização inteligente" que pode até ser "ignidora de uma nova era e de uma nova capacidade", no que toca ao SMO não dá muitas pistas sobre qual o seu modelo que diz ser um assunto "complexo". Mas poderá ser inspirado na solução sueca ou suíça, que referiu.
Certo é que o proto-candidato à Presidência da República não acelerou calendário nesta sua primeira aparição pública depois de deixar o cargo de Chefe de Estado Maior da Armada, no final do ano. Mas marcou espaço e continuou no radar.