Na avenida Joaquim Chissano, com os primeiros pneus em chamas a serem colocados na via, dezenas de tiros consecutivos ecoavam, cerca das 16:00 locais (menos duas horas em Lisboa), com um manifestante a ser atingido, levando à fúria das dezenas que se concentravam no local.
"Nós estávamos à espera dos resultados das eleições e o que estamos a ver são balas. Antes dos resultados já tínhamos balas", afirma Salvador, enquanto mostrava as cápsulas apanhadas no chão.
"O que vamos fazer é reivindicar o nosso direito. Se for isto, é a anarquia, vivermos como eles querem", diz, recusando-se a acreditar nos resultados anunciados.
A revolta antecipava o anúncio, quase em simultâneo, da vitória da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder) nas eleições gerais de 09 de outubro, e do seu candidato presidencial, Daniel Chapo, com mais de 65% dos votos, com Venâncio Mondlane, que recusa aceitar a derrota, com 24%.
Com a avenida Acordos de Lusaka em chamas, com dezenas de pneus a arder e tiros por todo o lado, Noémia justifica a revolta popular: "A pessoa que nós queremos é Venâncio Mondlane e ele fica a saber, Chapo, que nós não vamos aceitar ele governar o nosso país".
Batendo com a mão no peito, garante: "Nós queremos mudar, nós, o nosso país".
O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou hoje Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frelimo, como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi.
"Proclama eleito Presidente da República de Moçambique o cidadão Daniel Francisco Chapo", anunciou a presidente do Conselho Constitucional, Lúcia Ribeiro, ao fim de uma hora e meia de leitura do acórdão de proclamação, em que reconheceu irregularidades no processo eleitoral, mas que "não influenciaram" o resultado final.
De acordo com a
Os resultados, Venâncio Mondlane registou 24,19% dos votos, Ossufo Momade 6,62% e Lutero Simango 4,02%.
A proclamação destes resultados pelo CC confirma a vitória de Daniel Chapo, jurista de 47 anos, atual secretário-geral da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), anunciada em 24 de outubro pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), mas na altura com 70,67%.
Esse anúncio da CNE desencadeou durante praticamente dois meses violentas manifestações e paralisações, convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não os reconhecia, provocando pelo menos 130 mortos em confrontos com a polícia.
As eleições gerais de 09 de outubro incluíram as sétimas presidenciais - às quais já não concorreu o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, que atingiu o limite de dois mandatos - em simultâneo com legislativas e para assembleias e governadores provinciais.
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