O Governo reúne-se, esta terça-feira, com várias associações representativas das comunidades da área de Lisboa "para dialogar", encontro que surge na sequência dos incidentes que se seguiram à morte de Odair Moniz, baleado por um agente da PSP.

A reunião convocada pelo Governo juntará os ministros da Presidência, da Administração Interna e da Juventude e Modernização, bem como dirigentes das polícias (GNR e PSP), do Instituto Português do Desporto e da Juventude e da Agência para a Integração, Migrações e Asilo.

Na lista de convites para a reunião inicialmente divulgada pelo Governo, com o intuito de "dialogar" com as comunidades da Área Metropolitana de Lisboa, não estavam coletivos como o movimento Vida Justa, que só foi incluído depois de pedir explicações.

Segundo disse à Lusa Nuno Ramos Almeida, porta-voz do Vida Justa, que convocou a manifestação que reuniu milhares de pessoas em Lisboa, no sábado, em reação à morte de Odair Moniz, abatido pela polícia há uma semana, o movimento só foi convidado depois de manifestar publicamente a sua indignação por não ter sido incluído na convocatória inicial.

Também o Grupo de Ação Conjunta contra o Racismo e Xenofobia expressou "veemente repúdio pela exclusão do Coletivo Consciência Negra e FAR - Frente Anti-Racista" da reunião agendada para hoje.

A Lusa questionou o Ministério da Presidência sobre as razões para não ter incluído certas organizações na lista inicial, mas o gabinete de António Leitão Amaro não respondeu até ao momento.

Na lista de convites para a reunião inicialmente divulgada pelo Governo estão: Moinho da Juventude, Mundo Nôbu, Afrolink, Movimento Nu Sta Djuntu - Estamos Juntos, Associação Caboverdeana, Associação Cultural e Juvenil Batoto Yetu, Academia do Johnson, Associação Helpo, Semear o Futuro, Djass - Associação de Afrodescendentes, Femafro - Associação de mulheres negras, africanas e afrodescendentes em Portugal, SOS Racismo, Plataforma Gueto, Associação para a Mudança e Representação Transcultural, Associação Filhos e Amigos de Farim, Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos e Associação Kamba.

A iniciativa - que vai decorrer às 14h30, no Campus XXI, em Lisboa - surge na sequência dos acontecimentos que se seguiram à morte de Odair Moniz, cidadão cabo-verdiano de 43 anos, morador no bairro do Zambujal, na Amadora, que há uma semana foi baleado por um agente da PSP, no bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho.

Segundo a PSP, o homem pôs-se "em fuga" de carro depois de ver uma viatura policial e despistou-se na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, "terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca". A Inspeção-Geral da Administração Interna e a PSP abriram inquéritos e o agente que baleou Odair Moniz foi constituído arguido.

A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestam a versão policial e exigem uma investigação "séria e isenta" para apurar responsabilidades, considerando que está em causa "uma cultura de impunidade" nas forças de segurança.

Na semana passada registaram-se tumultos no Zambujal e noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados e vandalizados autocarros, automóveis e caixotes do lixo, somando-se cerca de duas dezenas de detidos e outros tantos suspeitos identificados. Sete pessoas ficaram feridas, uma das quais com gravidade.