No dia 1 de janeiro de 1980, pelas 15h42 (hora local), um sismo de magnitude 7.2 ocorre entre as ilhas da Terceira e São Jorge – um local que até então não era considerado de grande relevância sísmica. Este evento causou danos avultados no parque edificado das ilhas Terceira, São Jorge e Graciosa, com impactos sociais e económicos elevados: 61 mortos, centenas de feridos e cerca de 20 mil desalojados. A disrupção foi total, como é característico em sociedades não preparadas para os fenómenos naturais. Ruas bloqueadas pelos escombros das fachadas que colapsaram para a via pública; as telecomunicações falharam, verificaram-se grandes estragos na rede de distribuição de água; foi necessário ir buscar técnicos onde os havia para proceder aos levantamentos e avaliações dos estados das construções e não existia um plano de gestão de catástrofes.

Os anos seguintes foram marcados pelo processo de reconstrução não apenas da cidade de Angra do Heroísmo, mas também da sociedade. A geografia humana foi profundamente alterada, com a população que se viu obrigada a fixar nas freguesias da periferia do centro da cidade, por exemplo. O sismo de 80 com toda a sua capacidade destruidora teve também um efeito regenerador na paisagem urbana da cidade de Angra do Heroísmo. Edifícios construídos nas décadas de 1960 e 1970, cuja vulnerabilidade estrutural e urbanística era evidente — como as grandes montras no rés do chão — foram substituídos ou adaptados, à luz do conhecimento técnico e dos regulamentos disponíveis na época. O esforço da reconstrução permitiu recuperar elementos arquitetónicos tradicionais e, em alguns casos, repor o que havia sido perdido ao longo do tempo.

Este evento também levou à criação do Serviço Regional da Proteção Civil, reforçando a necessidade de preparar a sociedade para lidar com as catástrofes.

Os Açores, devido à sua diversidade de estruturas geológicas - falhas, rifts, vulcões – são uma região particularmente vulnerável a eventos sísmicos. Mas também o território de Portugal Continental enfrenta esse desafio. No entanto, a perceção do risco pela população é cada vez mais difusa, reflexo da distância temporal desde os últimos grandes sismos e da falta de memória coletiva recente.

Hoje os Açores encontram-se mais bem preparados para a eventualidade de um sismo que se possa repetir. Contudo, eventos como as crises sísmicas de São Jorge, em 2022, e na zona do vulcão de Santa Bárbara, na ilha Terceira, evidenciam que a Terra continua ativa.

Passados 45 anos desde o sismo de 1980, cabe-nos refletir. Compreender o passado é essencial para antecipar os desafios do futuro. O risco sísmico não é algo abstrato ou distante; é uma realidade inevitável, ainda que sem data ou localização definida. Preparar é crucial, pois, como a história demonstra, apenas uma sociedade bem informada e preparada pode responder com eficácia e ser resiliente.

Os Açores são uma região particularmente vulnerável a eventos sísmicos. Mas também o território de Portugal Continental enfrenta esse desafio. No entanto, a perceção do risco pela população é cada vez mais difusa, reflexo da distância temporal desde os últimos grandes sismos e da falta de memória coletiva recente.