
As associações de imigrantes em Portugal querem que o tema seja discutido pelos políticos durante a campanha eleitoral para as legislativas antecipadas de maio, mas temem que a polarização prejudique as políticas de integração.
O atual governo, PSD/CDS, promoveu várias reformas na política migratória, dificultando a entrada de imigrantes com a extinção das manifestações de interesse -- um recurso jurídico que permitia a legalização já em Portugal de estrangeiros com vistos de turismo -- e facilitando a entrada de nacionais da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), ao mesmo tempo que prometeu o reforço dos consulados e novas medidas para a contratação nos países de origem, a denominada "Via Verde" para as associações empresariais.
A diretora da Obra Católica Portuguesa das Migrações, que junta muitas associações do setor, lamentou à Lusa que a indefinição política e a ausência de serviços públicos em condições coloquem a "vida de muita gente à espera de soluções que não há".
"O que pedimos é que parem de instrumentalizar as migrações por razões políticas", afirmou Eugénia Quaresma, recomendando aos líderes partidários que "conversem entre si", em vez de polarizar o discurso para obterem dividendos eleitorais.
"Não se consegue o bem do país sem considerar os imigrantes" e "promover políticas adequadas", disse, considerando que os políticos devem olhar para o que se passa no resto do mundo e acordar estratégias de integração e acolhimento.
"Os nossos emigrantes estão a ser atingidos lá fora com as medidas dos Estados Unidos e já há deportações", pelo que "é importante sentarmo-nos à mesa e conversarmos, sem instrumentalizarmos a questão", recordou.
As alterações da política migratória não foram acompanhadas pela melhoria dos serviços públicos que lidam com os imigrantes, que "precisam de muito mais investimento" por parte do Estado português, acrescentou ainda
"Temos de trabalhar para melhorar a qualidade dos serviços a partir do próprio país de origem, espera-se que os consulados funcionem e que os recursos sejam melhorados", mas, "nesta fase, o que se sente é que o tempo parou e as pessoas têm a vida em suspenso", sustentou.
Segundo a responsável, a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) tem "estado mais preocupada com a regularização administrativa", em vez de se focar no acolhimento.
"A integração faz parte do nome da AIMA, mas ainda temos algumas dificuldades de comunicação para afinar os mecanismos de integração", reconheceu a dirigente católica.
Timóteo Macedo, dirigente da maior associação de imigrantes do país -- a Solidariedade Imigrante -, é muito crítico da política deste Governo, que considerou "um desastre social".
"As eleições antecipadas não são desejadas, mas é a realidade e esperamos que a imigração não seja esquecida", para que os eleitos "respeitem o trabalho dos imigrantes", algo que "não tem acontecido".
Segundo o dirigente associativo, o fim das manifestações de interesse e a aposta em vistos de procura de trabalho, organizados pelas empresas, são "soluções erradas", porque colocam os imigrantes nas mãos das máfias e dos empregadores.
"Esses vistos são vendidos no mercado negro pelas máfias por mais de dez mil euros", salientou Timóteo Macedo, criticando ainda a prioridade dada aos cidadãos da CPLP.
"Estão a dividir os imigrantes entre imigrantes bons e maus", acusou, lamentando que a xenofobia cresça e prejudique a integração de quem está cá.
Exemplo disso é o facto de o reagrupamento familiar não avançar, "apesar das promessas que são feitas".
Com mais famílias unidas seria mais fácil a integração dos imigrantes na sociedade portuguesa, mas "andam a prometer o reagrupamento familiar há quatro meses e continua a não existir aquilo que é um direito inalienável: o direito a ter a nossa família connosco".
Os imigrantes do Bangladesh são dos mais afeitados por este impasse e viram os canais de entrada em Portugal fechados. Um dos seus líderes, Rana Taslim Uddin, lamenta o "radicalismo" da maioria governamental na gestão do processo.
"A comunidade do Bangladesh está preocupada com a política de migração, a AIMA é muito lenta a dar resposta. Não nos interessa que o governo seja de direita ou de esquerda, mas queremos soluções", afirmou Rana Uddin.
"Há imigrantes que se sentem inseguros na sua relação com o Estado" e querem uma "lei mais clara e mais fácil", porque "as pessoas trabalham e querem ter segurança", resumiu.