As forças israelitas iniciaram na noite desta segunda-feira uma nova fase na sua ofensiva militar no sul do Líbano, com vários ataques a serem registados nos subúrbios de Beirute, pouco depois de as Forças Defensivas de Israel (IDF, na sigla em inglês) terem emitido ordens de evacuação no subúrbio de Dahieh.
Segundo confirmaram repórteres no terreno do The Guardian e do New York Times, pelo menos quatro ataques aéreos provocaram fortes explosões na capital do Líbano. Nas últimas horas, outras 10 localizações ao longo do sul do país foram atacadas por artilharia israelita.
Ao início da noite na região, os Estados Unidos confirmaram a intervenção militar. “Informaram-nos que estão a realizar operações limitadas que visam as infraestruturas do Hezbollah perto da fronteira”, informou o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, em conferência de imprensa.
As IDF têm alegado que os combatentes do Hezbollah, o grupo radical da região, estão escondidos em casas de civis, e por isso exigiram que os cidadãos abandonassem o subúrbio da capital, com uma grande densidade populacional.
Num primeiro balanço ao início da noite, o ministério da Saúde do Líbano confirmou que os ataques israelitas desta segunda-feira mataram pelo menos 95 pessoas, com outras 172 a ficarem feridas nas últimas 24 horas.
Esta noite, o Jerusalem Post avançou que foram registadas movimentações de forças israelitas e libanesas ao longo da fronteira, com uma possível ofensiva terrestre israelita iminente. Segundo o jornal, a invasão do Líbano terá sido aprovada esta noite numa reunião do Governo, pelas 19h30 locais, na qual terão sido consideradas opções para uma incursão pelo sul do país.
O New York Times, citando uma israelita que vive numa aldeia próxima da fronteira com o Líbano, aponta que têm sido registados cada vez mais bombardeamentos na região, atirados do lado israelita.
A dimensão da ofensiva militar pode ser aparente no comportamento público das IDF, que pediram que os israelitas não divulgassem informações sobre o movimento das suas forças - um recado aos ministros de extrema-direita que defendem uma expansão dos territórios israelitas, e que têm indicado para uma grande operação terrestre no Líbano.
“Nas últimas horas, têm surgido muitos relatórios e rumores sobre atividade das IDF na fronteira do Líbano. Pedimos que não circulem qualquer relato sobre a atividade das forças”, disse Daniel Hagari, porta-voz das forças israelitas, numa publicação na rede social X (antigo Twitter).
Esta tarde, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, pediu que Israel evitasse “qualquer intervenção militar” que “irá agravar dramaticamente a situação e deve ser evitada”.
100 mil pessoas fugiram do Líbano para a Síria, maioria tem menos de 18 anos
Cerca de 100 mil cidadãos libaneses e sírios deixaram o Líbano em direção à Síria desde o agravamento da situação militar entre Israel e o Hezbollah anunciou hoje a Agência da ONU para os Refugiados.
“Estima-se que 100 mil pessoas (libaneses e sírios) tenham atravessado o Líbano em direção à Síria desde o início do agravamento das hostilidades no Líbano. Estima-se que cerca de 60% sejam sírios e 40% libaneses”, afirmou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
"O fluxo de saída continua. O ACNUR está presente em quatro pontos de passagem, juntamente com as autoridades locais e o Crescente Vermelho Sírio, para apoiar os recém-chegados", disse Filippo Grandi, das Nações Unidas, nas redes sociais.
De acordo com o ACNUR, entre os recém-chegados, destaca-se a presença de crianças pequenas, uma vez que “cerca de 60% dos que atravessaram a fronteira tinham menos de 18 anos de idade”.
“O afluxo de retornados sírios e de refugiados libaneses que se verificou ao longo de sábado, na sequência das hostilidades no Líbano, prosseguiu no domingo, de forma mais visível no posto fronteiriço de Jdeidet Jabous”, segundo o relatório da agência sobre a atual situação.
O documento acrescenta que se registaram “muitas emergências médicas, resultantes sobretudo da exaustão e da desidratação”.
O ACNUR também afirmou que a isenção anunciada no domingo pelo governo sírio da taxa de 100 dólares norte-americanos exigida a cada sírio para entrar na Síria “trouxe alívio” a quem está em fuga.
O ACNUR está a aumentar a assistência aos recém-chegados, distribuindo artigos de emergência, alimentos e água, entre outros, aos que chegam aos postos fronteiriços. Além disso, está a organizar o transporte de famílias “mais vulneráveis” (sírias e libanesas) da fronteira para os destinos finais na Síria.
No domingo, 2.500 pessoas receberam assistência para o transporte. “Nas províncias de Homs, Hama, Tartous, Alepo e Damasco, os recém-chegados estão a ser acolhidos principalmente por familiares e comunidades. Algumas comunidades sírias locais estão também a oferecer alojamento e outras formas de assistência aos refugiados libaneses”, afirmou o ACNUR.
No domingo, o primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, afirmou que o Líbano já registou cerca de um milhão de deslocados internos em apenas uma semana de bombardeamentos israelitas contra os bastiões xiitas do Hezbollah.
Outras notícias:
> O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que “gostaria que Israel parasse” planos de incursão terrestre no Líbano e apelou ao cessar-fogo, numa altura de alta tensão após a morte do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah. “Estou mais consciente do que eles sabem e gostaria que parassem. Deveria haver um cessar-fogo agora”, declarou Biden à imprensa na Casa Branca;
> O Alto-Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros convocou para esta segunda-feira uma reunião extraordinária, por videoconferência, dos ministros com a pasta da diplomacia, para discutir a situação no Líbano;
> Pelo menos 45 pessoas foram mortas e 70 foram feridas no domingo perto da cidade de Sídon, sul do Líbano, na sequência de um bombardeamento israelita, disse hoje o governo de Beirute. A ação militar israelita teve como alvo um edifício em Ain el-Delb que, de acordo com um correspondente da Agência France-Presse (AFP), se desmoronou “completamente”;
> O Hamas anunciou esta segunda-feira que o líder do grupo no Líbano, Fatah Sharif Abu Al Amin, foi morto, num ataque aéreo contra o sul do Líbano, atribuído a Israel. “O comandante Fatah Sharif morreu hoje de madrugada após uma operação terrorista e criminosa de assassínio num ataque aéreo que teve como alvo toda a sua família na sua casa no campo de refugiados de Al Bass, no sul do Líbano” disse o Hamas.