
A Associação dos Jornalistas de Macau (AJM) expressou hoje preocupação com o aumento de eventos oficiais sem cobertura da comunicação social e "práticas discriminatórias" para com o setor, apelando ao respeito pela liberdade de imprensa.
Desde que o novo Governo de Macau tomou posse, em dezembro, o grupo de jornalistas chineses "tem vindo a aperceber-se do número crescente de eventos oficiais realizados à porta fechada, resultando em oportunidades significativamente reduzidas para os jornalistas entrevistarem diretamente o chefe do Executivo, secretários e outros altos funcionários", escreveu a AJM em comunicado.
"Mais de 90% das informações relacionadas com o Governo são agora divulgadas através de comunicados ou de declarações após o evento", alertou, ao manifestar apreensão que "essa abordagem comunicacional, passiva e retrograda" se transforme no novo normal.
Por essa mesma razão, a associação reafirma a necessidade de o Governo "honrar o compromisso de respeito pela liberdade de imprensa" e pede "ações concretas": envolvimento com o público e a comunicação social com "mais confiança", para que haja maior entendimento por parte da comunidade dos passos governativos.
Na nota da AJM, publicada nas redes sociais, são mencionados eventos oficiais que ficaram sem cobertura jornalística, nomeadamente "várias das principais visitas do chefe do Executivo". Além disso, continuam os jornalistas, numa visita comunitária no quarto dia do Ano Novo Lunar, apenas "dois meios de comunicação próximos ao Governo foram notificados".
Em vários eventos "com a presença dos secretários, não foi emitido qualquer convite" à comunicação social. "Tal cenário não tem precedentes em mais de duas décadas desde que a RAEM [Região Administrativa Especial de Macau] foi criada", sublinha-se ainda na nota.
Esta é a segunda vez em poucos meses que a Associação de Jornalistas de Macau interpela o Governo sobre limitações ao trabalho dos profissionais da comunicação social. Em novembro, a organização denunciou a "grave deterioração" da liberdade de imprensa no território e pediu às autoridades para porem termo às "excessivas restrições" impostas aos trabalhadores do setor, nomeadamente o acesso a conferências de imprensa.
Também agora a associação volta a questionar a "exclusão injustificada" de "revistas mensais locais e meios de comunicação 'online'" da cobertura de eventos oficiais que "envolvem frequentemente" membros das autoridades.
Essas "práticas discriminatórias", prosseguem os jornalistas, têm sido fundamentadas pelo Gabinete de Comunicação Social com "justificações que não convencem" - como a limitação do espaço - tendo este departamento governamental "sugerido aos jornalistas que 'assistam à transmissão em direto' dos eventos em vez de comparecerem presencialmente".
"Tais respostas levantam sérias dúvidas sobre a integridade de autoridades competentes e a sua compreensão sobre o papel do jornalismo", afirma a associação.
Uma análise "abrangente dos acontecimentos recentes", refere-se ainda no comunicado, mostraria uma "deterioração sistemática" do acesso da imprensa a eventos oficiais.
O que os jornalistas necessitam "não são discursos nem comunicados", mas acesso desbloqueado a estes eventos, "onde possam ouvir as vozes de todas as partes interessadas, interagir diretamente com os decisores e obter um entendimento claro da lógica e direção das atuais políticas públicas".
No final de outubro, também o deputado à Assembleia Legislativa Ron Lam apontou, numa interpelação ao Governo, para a imposição de "restrições desnecessárias e pouco razoáveis" à participação dos 'media' em conferências e de imprensa e eventos governamentais.
Além da Associação dos Jornalistas de Macau, existem outros grupos de jornalistas no território, incluindo a Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau, que representa, entre outros, profissionais de língua portuguesa.
Num encontro com a comunicação social em língua portuguesa e inglesa, em janeiro, o chefe do Executivo, Sam Hou Fai, sublinhou que a liberdade de imprensa é assegurada pela lei de imprensa de Macau e que o Governo apoia os jornalistas "no correto cumprimento dos seus deveres, na cobertura noticiosa e no acesso a notícias, colaborando ativamente na troca eficiente de informações entre os diversos serviços públicos e o setor".