Na primeira mensagem de Natal desde que é primeiro-ministro, Luís Montenegro tentou passar ao largo dos assuntos polémicos ou difíceis e distribuiu as boas notícias do ano que acabou, dirigindo-se a todos os sectores da sociedade, em especial pensionistas e jovens, e ignorando por completo a oposição e a complexidade governativa num cenário de minoria.

Ao longo de cinco minutos de um vídeo gravado em São Bento, que foi transmitido esta noite, o primeiro-ministro quis aparecer com uma mensagem mais apaziguadora em relação a alguns dos assuntos mais polémicos, como a insegurança e como tratar a imigração, e garantir que as críticas ao anterior Governo são tema do passado.

Com o assunto imigração e insegurança em cima da mesa depois da operação policial no Martim Moniz, o primeiro-ministro falou dos dois assuntos - imigração e segurança - não os relacionando, suavizando o discurso. Diz que quer “promover uma imigração regulada para acolher com dignidade e humanismo os que escolherem viver e trabalhar” em Portugal e só depois mais tarde fala sobre a questão da segurança: “Vamos combater a criminalidade económica, o tráfico de droga e a criminalidade violenta”, disse, quando começou a mensagem a dirigir-se às vítimas de violência, “em especial as muitas mulheres e crianças” que foram atacadas “na sua dignidade”.

Criticado por alimentar as perceções de insegurança, ligando-as à imigração, Montenegro quis referir a justificação para a orientação do Governo: “Somos um dos países mais seguros do mundo, mas temos de salvaguardar esse ativo para não o perdemos”, frisou.

Sobre o assunto, mais não disse. A mensagem que quis partilhar foi focada, sobretudo, nas boas medidas para os diferentes sectores, com especial enfoque nos pensionistas, a quem recordou que o Governo atualizou “sem truques” todas as pensões e a quem atribuiu um “suplemento extraordinário” usando a “disponibilidade orçamental”.

Ao longo da mensagem, Montenegro não referiu as medidas aprovadas pela oposição no Parlamento ou sequer os impedimentos que sentiu para algumas das suas medidas. Aliás, também não referiu uma das medidas-bandeira do Executivo, a diminuição do IRC, viabilizada com a abstenção, quase forçada, do PS, apesar de referir as reduções de impostos. “Decidimos baixar os impostos sobre o trabalho e sobre as pensões”, disse e acrescentou que foi o “primeiro orçamento que não aumenta um único” imposto, sem referir as empresas.

No capítulo dos não-ditos, Montenegro começou por afirmar que as críticas ao passado são água que já passou. “O ano que agora termina foi de viragem e de mudança. O novo Governo trouxe novas prioridades e novas opções. Não viemos para olhar ou criticar o passado, viemos para cuidar do presente e construir o futuro”, disse na mensagem de Natal.

Ao fim de sete meses, Montenegro refere que em primeiro lugar o seu Governo quis “resolver questões mais urgentes”, mas que “ao mesmo tempo” foi “implementando transformações estratégicas e estruturais”, não usando a palavra “reformas”, cara ao PSD.

Nos últimos anos, outro dos aspetos caros à governação PSD foi a gestão das finanças públicas. Numa altura em que o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, alertou para a possibilidade de o país regressar a défices no próximo ano, o primeiro-ministro deixou a garantia que “esta nova política” que junta “baixar impostos e valorizar salários e pensões” acontece “com rigor e equilíbrio orçamental”. Para Montenegro, esse “é um elemento de política económica e social”.