O Presidente da República afirmou esta quinta-feira que falou com Governo e Forças Armadas e ambos os lados "minimizaram o problema" ocorrido com o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, na base aérea militar de Figo Maduro. Em declarações aos jornalistas, no fim de uma visita ao Museu do Design, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que a versão que lhe chegou foi que "houve equívocos" e que as autoridades militares que ouviu afastaram que houvesse "algum melindre ou alguma razão de queixa".
"A mim o que me chegou foram versões muito coincidentes que minimizaram o problema", acrescentou o chefe de Estado e comandante supremo das Forças Armadas. O Presidente da República realçou que "o Governo diz uma coisa e as autoridades militares dizem a mesma coisa", que "corresponde a uma desdramatização".
Como o Expresso noticiou, o primeiro-ministro falou do caso com o Presidente e o Governo dá o caso como sanado. Mas vários militares, incluindo ex-chefes, manifestaram a sua indignação e pedem ao chefe de Estado que tome posição.
Em causa estão notícias de alegadas ofensas dirigidas por Paulo Rangel ao chefe do Estado-Maior da Força Aérea e outros militares na base aérea de Figo Maduro na noite de 4 de outubro, em que chegou um voo de repatriamento de portugueses do Líbano, o que já levou o PS e o Chega a pedir a audição parlamentar do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.
Questionado sobre este assunto, Marcelo Rebelo de Sousa começou por responder que procurou informar-se "junto do Governo, naturalmente, do senhor primeiro-ministro, e junto das Forças Armadas acerca do que se tinha passado". "E aquilo que me chegou, de um lado e de outro, corresponde a uma desdramatização e uma versão que se traduz desta maneira, para simplificar, e que eu aliás já vivi, já me aconteceu", disse.
O Presidente da República recordou situações que lhe aconteceram "duas ou três vezes na chegada de evacuados e de refugiados" à base aérea de Figo Maduro: "É eu dirigir-me porque tinha a informação que era um sítio, e eles saíam por outro sítio".
Marcelo Rebelo de Sousa realçou, depois, que "na altura era mais fácil, porque não havia o que existe já há algum tempo, que é uma separação, por razões de segurança, que nem mesmo com o Presidente a chegar lá é fácil de abrir, porque, se não tiver havido prevenção e não estiver tudo preparado, eu tenho de esperar pela abertura". "Eu admito que tenha acontecido aquilo que já me incomodou algumas vezes, porque normalmente é noite, madrugada, em que se tem uma indicação dos serviços de apoio nossos de que é num sítio, depois não é nesse sítio, é noutro", sugeriu.
Interrogado se ficou totalmente esclarecido com as informações que obteve do Governo e das Forças Armadas, o chefe de Estado respondeu: "Eu fiquei esclarecido que não encontrei uma versão que fosse muito diferente uma da outra e que fossem muito graves". Ressalvou, porém, que "não estava lá" e que a situação não foi com ele.
"Mas comigo aconteceu, não foi nada ofensivo, mas houve realmente um desencontro administrativo", reiterou. Na quarta-feira, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, declarou que conhece este episódio "com minúcia" e manifestou "total confiança" no ministro dos Negócios Estrangeiros, considerando que se está "a criar um caso" a partir "de imprecisões, de incorreções em notícias".
"Se há aqui alguém que quer abanar o Governo e abanar a presença do ministro Paulo Rangel no Governo, vá treinando porque tem muito que fazer", declarou Luís Montenegro aos jornalistas, em Faro.