A ministra dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte chegou a Moscovo para conversações com o homólogo russo, anunciou a diplomacia russa, após o Ocidente ter denunciado o envio de soldados norte-coreanos para perto da Ucrânia. A ministra norte-coreana Choe Son-hui “está em Moscovo em visita oficial para conversações estratégicas” com Sergey Lavrov, segundo a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova.

A Coreia do Norte já enviou 11 mil soldados para a Rússia para serem destacados na Ucrânia, número que deverá aumentar até ao final do ano, de acordo com as autoridades sul-coreanas. O gabinete do Presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, disse que pelo menos 3000 dos 11 mil soldados norte-coreanos estão no oeste da Rússia. A presença de soldados norte-coreanos na Rússia levou ao aumento da tensão entre as duas Coreias e a uma aproximação entre Seul e Kiev.

O secretário da Defesa norte-americano afirmou, num encontro com o homólogo da Coreia do Sul em Washington, que as tropas norte-coreanas destacadas na Rússia já receberam fardas e equipamento russo durante o treino no país. “Algumas destas tropas já se aproximaram da Ucrânia e vemo-las equipadas com uniformes russos e equipamento russo. Estou cada vez mais preocupado que o Kremlin utilize estes soldados norte-coreanos para apoiar as suas operações de combate na região russa de Kursk”, declarou Lloyd Austin.

Alguns analistas defenderam que a participação de tropas norte-coreanas atribui à guerra na Ucrânia “implicações maiores” para a segurança global, à medida que Moscovo aposta numa aliança contra o Ocidente, descartando efeitos práticos no campo de batalha.

Para a investigadora Darcie Draudt-Véjares, do programa para a Ásia do think tank Carnegie Endowment for International Peace, “existem razões para alarme”, porque dá um sinal de “viragem estratégica mais ampla da Rússia para a construção de uma coligação contra o Ocidente”. Para a analista, “este sistema de alianças emergente desafia os acordos de segurança pós-Guerra Fria e arrisca-se a transformar conflitos regionais em confrontos globais mais alargados”.

A investigadora Mary Glantz, do centro para a Rússia e Europa do think tank United States Institute of Peace, concorda que a participação dos norte-coreanos nos combates “representa uma escalada e um desafio implícito à Ucrânia e aos países aliados”, mas questiona os efeitos práticos no campo de batalha. “A guerra tornou-se num conflito de atrito que ceifa aproximadamente 1200 russos por dia. Com essa taxa de baixas, mesmo 12 mil soldados norte-coreanos só seriam suficientes para dez dias de operações”, observa.

Outras notícias do dia:

⇒ A Rússia negou a existência de negociações com a Ucrânia para travar os ataques mútuos às infraestruturas energéticas. “Atualmente, é publicada muita informação falsa, que não corresponde à realidade. Mesmo os meios de comunicação mais conceituados permitem-se publicar informações falsas”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, resposta a uma pergunta sobre um artigo publicado no “Financial Times”, no qual se afirmava que Kiev está a tentar retomar, com a mediação do Catar, conversações com Moscovo para pôr fim aos ataques mútuos contra as infraestruturas energéticas.

⇒ O processo de adesão da Ucrânia à União Europeia está a “avançar suavemente” e apresenta “alguns níveis de preparação” na implementação das alterações estruturais para aderir ao bloco comunitário, segundo um relatório da Comissão Europeia divulgado nesta quarta-feira. Desde 8 de julho que o executivo comunitário iniciou uma monitorização e concluiu que “o processo está a avançar suavemente” para o país, que é candidato desde junho de 2022 e que no final de 2023 recebeu “luz verde” para iniciar as negociações concretas para entrar no bloco comunitário.

⇒ Os Estados Unidos impuseram sanções a cerca de 400 empresas na Rússia e vários outros países, acusadas de ajudar o esforço de guerra da Rússia na Ucrânia e de auxiliar Moscovo a contornar sanções. O esforço liderado pelos Departamentos do Tesouro e de Estado visa punir “países terceiros” que são acusados de prestar assistência material ao Kremlin ou de ajudar a Rússia a escapar às milhares de sanções que foram impostas ao país desde a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022.

⇒ O Presidente ucraniano afirmou que o resultado das eleições legislativas na Geórgia, em que o partido no poder foi declarado vencedor, perante acusações de fraude por parte da oposição, foi uma vitória da Rússia. “É preciso reconhecer que a Rússia ganhou na Geórgia”, considerou Volodymyr Zelensky num encontro com jornalistas na Islândia, acrescentando que a Rússia está “a caminho” de implementar um cenário semelhante na Moldávia.

⇒ As autoridades russas convocaram a embaixadora finlandesa no país, Marja Liivala, para protestar contra a apreensão de bens imóveis russos, no âmbito da intensificação das sanções a Moscovo pela invasão da Ucrânia. O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo indicou, em comunicado, que a medida constitui uma resposta à apreensão de 45 imóveis situados na Finlândia e pertencentes à Rússia, incluindo os utilizados pela embaixada da Rússia para fins oficiais e “protegidos pela imunidade diplomática”.

⇒ Um tribunal de Belgorod, região russa que faz fronteira com a Ucrânia, condenou uma mulher ucraniana a 11 anos de prisão por espionagem para Kiev, informaram os serviços de segurança russos (FSB). A mulher, cuja identidade não foi revelada, foi condenada pela recolha e transmissão de informações ao exército ucraniano sobre a presença e as atividades dos militares russos em Belgorod, através da Internet, indicou a mesma fonte.