As mesas de votação nas eleições gerais moçambicanas, que vão escolher um novo Presidente da República, começaram a abrir às 07:00 (06:00 em Lisboa) desta quarta-feira, com ligeiros atrasos em alguns pontos.

Numa ronda feita pela Lusa na capital de Moçambique, Maputo, foi possível observar eleitores a aguardar junto às assembleias de voto ainda antes do horário oficial de abertura de mesas, que se vão manter em funcionamento até às 18:00 locais (17:00 em Lisboa) em todo o país.

Com a capital a começar o dia debaixo de chuva, na Escola Secundária Josina Machel, a maior do centro de Maputo, o Presidente da República, Filipe Nyusi, foi o primeiro a votar, cerca das 07:05 (06:05 em Lisboa), inserindo os três boletins de voto.

Algumas assembleias de voto registaram ligeiros atrasos, de poucos minutos, no arranque da votação.

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) recenseou 17.163.686 eleitores para esta votação, incluindo 333.839 que vão votar em sete países africanos e dois europeus.

Presidente Nyusi pede votação "sem perturbações" e avisa que jogo tem 90 minutos

O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, apelou esta quarta-feira à tranquilidade durante a votação nas eleições gerais, sem "perturbações", recordando que o processo é como um jogo de futebol, em que o vencedor só é declarado no final.

"O jogo tem 90 minutos. Depois do apito é que se sabe qual é o resultado. Evitarmos anunciar resultados antes do tempo, quando se está a jogar 15 minutos, 20 minutos, ou no intervalo, proclamar o vencedor uma equipa" disse Nyusi, que não se recandidata ao cargo nestas eleições.

“Vocês conhecem equipas que viram o resultado à última da hora, então, por isso mesmo, temos de estar todos concentrados e não no sentido de perturbar o processo.”

Com a capital a amanhecer com chuva, que classificou como uma "bênção", Nyusi voltou a apelar à adesão dos eleitores às mesas de voto em todo o país e em nove outros países, pedindo um processo "limpo" e "transparente".

"Que tudo corra como nós, moçambicanos, queremos, para que a nossa democracia ajude ao desenvolvimento do nosso país (...) Pedir também que não haja um grupo de cidadãos a ameaçar os outros, a ameaçar. Que tudo aconteça dentro da paz e da tranquilidade", insistiu.

Candidato Lutero Simango denuncia "fraude" por exclusão de membros do MDM

O candidato presidencial e líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Lutero Simango, denunciou esta quarta-feira que elementos indicados pelo seu partido, representando no parlamento, estão a ser impedidos de estar nas mesas das eleições gerais, representando uma "fraude".

"A recusa da presença dos elementos do MDM e recusa de entrega das credenciais aos nossos delegados só cheira a fraude. Por isso, quero informar a todos que nas próximas horas eu pessoalmente vou deslocar-me para todas as mesas nesta cidade de Maputo, para ter a certeza que estão lá os meus elementos. E continuando assim esse processo até ao fim do dia só significará fraude, fraude, fraude", disse Simango, em declarações aos jornalistas pouco depois de votar, na capital, cerca das 07:30 locais (06:30 de Lisboa).

Em causa, disse, referindo que a situação ocorre em várias mesas de voto das eleições gerais de hoje, está a não permissão da presença de delegados e membros das mesas de voto no escrutínio de hoje, alegadamente por parte da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE).

Candidato presidencial Lutero Simango, apoiado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira força parlamentar
Candidato presidencial Lutero Simango, apoiado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira força parlamentar LUÍSA NHANTUMBO

"Pergunte ao STAE e à CNE, não me pergunte a mim", respondeu Simango, apelando à atenção dos observadores internacionais que acompanham a votação de hoje: "Só vejam o que está a acontecer a Moçambique. Não é essa democracia que nós queremos. Não é este o processo de produção que nós queremos".

“Eu vou a casa, vou desmontar o meu fato e vou ao terreno para ter a certeza absoluta que os meus elementos estão lá a exercer o seu direito e não acontecendo vou agir e vou mobilizar toda a população para manifestar.”

Para o candidato, "a negação" da participação dos elementos do MDM "é uma conspiração contra o processo democrático", reiterando o apelo aos dirigentes da CNE e do STAE "para que cumpram com a lei".

"Se não cumprir com a lei nós vamos reagir e a nossa reação será totalmente negativa (...) O que nós queremos é que este processo ocorra de uma forma justa e transparente", ameaçou. "A polícia não vai me parar. Que a polícia se coloque à margem desse processo", avisou ainda o líder do terceiro maior partido moçambicano.

Ainda assim, apelou à adesão dos moçambicanos às urnas.

"Eu tive o privilégio de fazer a campanha eleitoral terra a terra. Falei com todos os eleitores, falei com o povo moçambicano em geral. Os moçambicanos querem mudanças e essas mudanças vão ocorrer e custe o que custar", disse.

Candidato Daniel Chapo pede que eleições continuem "sem violência"

O candidato presidencial Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), pediu esta quarta-feira que o ambiente de "festa" da campanha das eleições gerais continue na votação e que o processo eleitoral siga "sem violência".

Siphiwe Sibeko

"Conseguimos perceber que durante a campanha eleitoral todos os moçambicanos estiveram em festa, por isso a campanha foi ordeira, pacífica, sem violência. E o nosso apelo é que continuemos assim durante o dia de hoje e mesmo depois de encerrar as urnas e durante o processamento dos resultados, ou melhor, a contagem, mas também depois da divulgação dos resultados", disse o candidato, após votar em Inhambane, sul do país.

“Que seja um momento de festa para todos moçambicanos, do Rovuma ao Maputo, dos 30 anos da democracia multipartidária e que todos nós possamos chegar ao fim e dizer que estas eleições foram eleições livres, justas e transparentes.”

Daniel Chapo, um dos quatro candidatos à sucessão de Filipe Nyusi como chefe de Estado nestas eleições gerais, reforçou o apelo ao voto: "Agradecer a toda a população moçambicana por esta oportunidade que temos hoje, que é um direito e ao mesmo tempo um dever, de ser eleito e de eleger. Pedir para que todos eleitores possam-se fazer hoje às urnas para exercerem este direito de votar e aqueles que também vão ser eleitos também têm este direito".

Quem são os candidatos às sétimas presidenciais?

As eleições gerais de hoje incluem as sétimas presidenciais - às quais já não concorre o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, que atingiu o limite constitucional de dois mandatos - em simultâneo com as sétimas legislativas e quartas para assembleias e governadores provinciais.

Concorrem à Presidência da República Lutero Simango, apoiado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM, terceira força parlamentar), Daniel Chapo, com o apoio da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder desde 1975), Venâncio Mondlane, apoiado pelo partido extraparlamentar Podemos, e Ossufo Momade, com o apoio da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, maior partido da oposição).

Siphiwe Sibeko

A publicação dos resultados da eleição presidencial pela CNE, caso não haja segunda volta, demora até 15 dias, antes de seguirem para validação do Conselho Constitucional, que não tem prazos para proclamar os resultados oficiais após analisar eventuais recursos.

A votação inclui legislativas (250 deputados) e para assembleias provinciais e respetivos governadores de província, neste caso com 794 mandatos a distribuir. A CNE aprovou listas de 35 partidos políticos candidatas à Assembleia da República e 14 partidos políticos e grupos de cidadãos eleitores às assembleias provinciais.

Eleições vão contar com mais de 184.500 membros de mesas de voto

Segundo dados do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) foram credenciados, para acompanhar estas eleições, 11.516 observadores nacionais e 412 observadores internacionais, incluindo Missões de Observação Eleitoral da UE, da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), da União Africana e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), entre outras organizações.

Este processo eleitoral está orçado em 19.933 milhões de meticais (284 milhões de euros), entregues faseadamente pelo Governo, totalizando 72% da verba disponibilizada aos órgãos eleitorais até sexta-feira, segundo informação do STAE.

As eleições vão contar com mais de 184.500 membros de mesas de voto, distribuídos pelos 154 distritos do país (180.075) e fora do país (4.436).

Em Moçambique vão funcionar 8.737 locais de voto e no estrangeiro 334, correspondendo a 25.725 mesas de assembleia de voto no país e 602 assembleias no exterior (África do Sul, Essuatíni, Zimbabué, Zâmbia, Maláui, Tanzânia, Quénia, Alemanha e Portugal), cada uma com sete elementos.