A intenção do governo formado pela chamada 'coligação semáforo' é transmitir aos alemães que há uma preocupação crescente com a imigração ilegal, depois de uma série de ataques no país, mas a decisão de alargar o controlo a todas as nove fronteiras pode ter um efeito indesejado.

"Os partidos 'mainstream' esperam conseguir alguma credibilidade no que diz respeito às migrações e à chegada de imigrantes à Alemanha. Ao mesmo tempo, este é o tema que mais se associa à AfD [partido Alternativa para a Alemanha, extrema-direita], migrações, demasiados estrangeiros, um excesso de pedidos de asilo, estes são temas que a extrema-direita defende. Se continuam a falar consecutivamente destes assuntos, dizendo que é o mais importante da Alemanha, estão precisamente a fazer o trabalho da direita radical", sustenta o politólogo Aiko Wagner.

Estudos mostram que o tema das migrações representa a maior preocupação dos eleitores de Brandeburgo, que têm eleições marcadas para o dia 22 de setembro para escolher o seu parlamento.

"Isto até pode beneficiar a AfD. Por outro lado, há este sentimento em muitos pontos da Alemanha de Leste de que há demasiados imigrantes e requerentes de asilo e de que a Alemanha tem de fazer algo em relação a isso. É uma situação complicada e é difícil de prever o impacto que pode ter", acrescenta o analista político da Universidade Livre de Berlim.

De acordo com as últimas sondagens, a Alternativa para a Alemanha (AfD), vai à frente nos resultados com 27% a 29%, ultrapassando o partido do chanceler Olaf Scholz, o Partido Social Democrata (SPD).

O parlamento de Brandeburgo é atualmente governado pelo SPD, em coligação com os Verdes e a União Democrata Cristã (CDU). As eleições de dia 22 são consideradas uma prova de fogo para o SPD e para o próprio governo federal. Caso estes valores se verifiquem, a coligação liderada pelo socialista Olaf Scholz ficará ainda mais fragilizada depois das pesadas derrotas nas votações da Saxónia e da Turíngia.

A Alemanha anunciou no início da semana que os controlos em vigor na fronteira com a Áustria desde 2015, e desde o ano passado com a Polónia, a República Checa e a Suíça, seriam estendidos a partir da próxima segunda-feira a França, Luxemburgo, Bélgica, Países Baixos e Dinamarca.

A medida tem como objetivo travar a migração e "proteger o país contra os graves perigos colocados pelo terrorismo islâmico e pela criminalidade grave", sublinhou a ministra do Interior, Nancy Faeser.

A ministra alemã confirmou ainda que está a ser estudada a fórmula jurídica que permitirá no futuro realizar "rejeições massivas" de imigrantes irregulares no quadro jurídico da UE.

No entanto, na terça-feira, a reunião dos responsáveis do Governo, da oposição e dos Estados federados para enfrentar o desafio da imigração falhou, uma vez que os partidos não conseguiram chegar a acordo sobre quais as medidas a tomar. A CDU exigiu expulsões imediatas já na fronteira, o que, segundo o executivo, violaria o Direito alemão e comunitário.

No final de junho, um agente da polícia foi morto por um afegão, de 25 anos, em Mannheim. A 23 de agosto, três pessoas morreram, em Solingen, num ataque com faca reivindicado pela organização terrorista Estado Islâmico (EI), cometido por um sírio, de 26 anos, que deveria ter sido expulso do país.