O número de crianças afetadas por ondas de calor e inundações extremas aumentará oito vezes entre 2050 e 2059, segundo um relatório publicado esta quarta-feira pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

O documento, intitulado "A Situação Mundial da Criança 2024: o futuro das crianças num mundo em mudança", foi divulgado no âmbito do Dia Internacional dos Direitos da Criança, assinalado esta quarta-feira.

De acordo com o relatório, o número de menores expostos a inundações fluviais extremas será três vezes maior neste período (2050-2059) e os expostos a incêndios florestais extremos quase duplicarão em comparação com os números da primeira década do século.

Com esta publicação, o UNICEF apela ao investimento na educação, nos serviços e em cidades sustentáveis e resilientes para as crianças e pede o aumento da resiliência climática nas infraestruturas, tecnologia, serviços essenciais e sistemas de apoio social. A agência da ONU apela ainda a um trabalho para a conectividade e 'design' tecnológico seguro a todas as crianças e adolescentes. No texto, a organização destacou a necessidade de adotar medidas ambientais específicas para proteger os menores e mitigar os riscos que enfrentam.

O UNICEF avançou que as alterações demográficas das próximas décadas colocarão desafios, uma vez que alguns países serão pressionados a expandir os serviços e os recursos para uma população infantil, enquanto outros vão precisar os equilibrar com as necessidades de uma população idosa cada vez maior.

Em termos gerais, o estudo indicou que espera um envelhecimento da população a nível mundial, com uma diminuição da proporção de crianças em todas as regiões do mundo. Desta forma, a população infantil cairá para menos de 40% em África em 2050, em comparação com 50% entre 2000 e 2010. Por sua vez, este setor populacional cairá para menos de 17% na Ásia Oriental e na Europa Ocidental, onde as crianças constituíam 29% e 20%.

Por outro lado, o relatório centrou-se na enorme exclusão digital. Neste sentido, influenciou o facto de uma grande percentagem de jovens de países de baixo e médio rendimento ter dificuldades no acesso às competências digitais.

De acordo com os dados levantados pelo UNICEF, mais de 95% dos habitantes dos países de rendimento elevado estão hoje ligados à internet, em comparação com apenas 26% nos países de baixo rendimento. Como contraponto positivo, o texto destacou que se espera um aumento da esperança de vida à nascença e que o progresso dos últimos cem anos no acesso à educação vai continuar. Assim, prevê-se que quase 96% das crianças em todo o mundo tenham completado pelo menos o ensino primário até 2050, contra 80% na primeira década.

Do ponto de vista da agência da ONU, um maior investimento na educação e na saúde pública, assim como uma proteção mais rigorosa do ambiente, melhoraria significativamente os resultados para as crianças. Por exemplo, a disparidade de género no nível de escolaridade e na exposição a riscos ambientais seria reduzida.

As consequências no Médio Oriente

Na mesma linha, a organização World Vision lançou o alarme sobre os efeitos que as alterações climáticas estão a ter sobre as crianças e os jovens no Médio Oriente, muitos dos quais já são afetados pela violência, conflitos e deslocações.

Num estudo apresentado esta quarta-feira, intitulado "Impacto da Crise das Alterações Climáticas e Ações Ambientais: Modelos Mentais de Crianças e Jovens no Líbano, Síria, Jordânia, Iraque e Territórios Palestinianos Ocupados", detalham que as crianças e os jovens estão preocupados com o impacto das alterações climáticas na qualidade da sua educação, na sua capacidade de acesso regular à escola e nas suas futuras oportunidades económicas.

No entanto, as raparigas são desproporcionadamente afetadas pelos efeitos das alterações climáticas, assim como pelo casamento precoce. Por outro lado, a maioria dos jovens disseram estar preocupados com os perigos ambientais, tais como a poluição atmosférica, o calor extremo, a seca e a pressão sobre os recursos hídricos nos seus respetivos contextos.