“(...) agora condenam-nos porque não servimos frango aos criminosos nas prisões (...) Aproveito para deixar uma mensagem. Há rumores de que pretendem começar a vingar-se da gente honrada. Azar! Façam isso e não haverá uma refeição nas prisões! Uma. A ver quanto tempo duram... Juro por Deus que não comem um arroz e vamos a ver quanto tempo duram.”

Nascido em 1981, Nayib Bukele, foi eleito Presidente de El Salvador em 2019 e é um dos mais jovens presidentes do mundo. A sua liderança ousada e disruptiva com os partidos tradicionais, trouxe esperança a uma população desacreditada da política.

De raízes palestinas, filho de mãe católica e pai muçulmano (convertido ao islamismo e imã), Bukele cresceu num ambiente de mistura de tradições religiosas. Descreve-se como cristão, e sem se identificar fortemente com uma religião, expressa com convicção a sua fé e trá-la para a política, enquanto guiado por princípios divinos e por um propósito maior. Durante sua infância e juventude, Bukele enfrentou a realidade de um El Salvador marcado pela violência e pela instabilidade política, experiências que moldaram sua visão sobre a liderança e a necessidade de mudança no país. Começou a estudar Direito na Universidade Centro-Americana, mas abandonou o curso para se dedicar ao empreendedorismo. Aos 18 anos, fundou sua primeira empresa e liderou os negócios da família. Destacou-se como empresário, a gerir marcas conhecidas como a Yamaha no país, e enquanto diretor de uma agência de marketing. A experiência no mundo corporativo veio a influenciar o seu estilo de liderança e comunicação em política.

Iniciou a sua carreira governativa em 2012 como prefeito (correspondente a Presidente de Câmara Municipal) de Nuevo Cuscatlán e seguiu-se San Salvador em 2015, pelo partido FMLN, onde enfrentou resistência interna e de onde foi expulso em 2017, por desavenças com a direcção. Na procura de uma nova identidade política e num cenário dominado pelos partidos tradicionais vistos como corruptos, Nayib Bukele fundou assim o seu próprio partido (Nuevas Ideas). Na campanha presidencial para as eleições de 2019, posicionou-se como um outsider, com uma narrativa centrada na renovação e segurança e viu-se obrigado a contornar os órgãos de comunicação convencionais para divulgar a sua mensagem. Recorreu, de forma eficaz, a técnicas inovadoras e meios digitais, sobretudo a plataforma X, onde criou uma imagem de proximidade e simpatia, ao prometer romper com a corrupção e práticas políticas prévias de muitos políticos de El Salvador. Confiante na mudança e com promessa de inovação e modernização, tornou-se numa figura carismática e venceu essas eleições com 53% dos votos, derrotando os candidatos dos partidos do sistema (FMLN e ARENA). Nas legislativas de 2021, o seu partido e o partido GANA conquistaram a maioria dos 61 dos 84 assentos na Assembleia Legislativa, consolidando ainda mais o seu poder.

Após a sua eleição, Nayib Bukele recebeu para governar um dos países mais violentos do mundo, mesmo o mais violento em 2015, com uma taxa de homicídios de 105 por 100 mil habitantes, onde dominava a insegurança nas ruas, com as comunidades sob terrorismo continuado, sujeitas a constante extorsão – cenário não muito diferente daquele de outros países da América Latina. Priorizando a segurança e apostando na implementação de medidas rigorosas contra as quadrilhas e crime organizado, em dois anos Bukele reduziu taxa de homicídios para 7,8 por 100 mil habitantes e espera-se uma taxa de 1,5 para 2024, já com registo de 700 dias sem homicídios em Setembro deste ano, convertendo El Salvador no país mais seguro do Continente Americano. Quando questionado sobre o motivo do sucesso das suas políticas anti-crime num curto espaço de tempo, responde: “Posso contar-te a fórmula oficial e a fórmula verdadeira. A fórmula oficial é que tínhamos um plano (...) composto por múltiplas fases (...) e funcionou. (...) [A fórmula verdadeira é que] é um milagre!”

O plano “oficial” e implementado de forma estratégica passou pelo forte investimento nas forças de segurança, com duplicação dos efectivos da polícia e exército, equipando-os com armas, veículos e drones, e alocando-os em zonas de maior criminalidade, num plano de controlo territorial para desmantelar gangues, com capturas em massa e detenção de mais de 80 mil membros. Foi também criada uma prisão de alta segurança (Centro de Confinamiento del Terrorismo, CECOT), onde não há tolerância com assassinos, violadores e terroristas; não há colchões, não há privacidade, apenas são servidas duas refeições diárias e a luz mantém-se sempre acesa, em celas que acomodam numerosos prisioneiros, altamente vigiados sob todos os ângulos. Se o respeito pelos direitos humanos é uma discussão lícita, certo é que, desde a implementação destas medidas, a mudança nas comunidades foi tal que, segundo o relatório GALLUP de 2024 sobre segurança global, 88% dos salvadorenhos sentem-se actualmente seguros a sair à noite, colocando El Salvador entre os países com maior percepção de segurança. E às críticas dos organismos internacionais e ONG, relativas à salvaguarda dos direitos humanos dos presidiários, o próprio responde: “Nunca disseram nada sobre o derramamento de sangue do nosso povo (...) nunca disseram nada das centenas de milhares de pessoas que choravam os seus familiares, nunca disseram nada quando o nosso país era o mais violento do mundo (...) aplaudiam o governo pelo histórico processo, mas agora condenam-nos porque não servimos frango aos criminosos nas prisões (...) Aproveito para deixar uma mensagem. Há rumores de que pretendem começar a vingar-se da gente honrada. Azar! Façam isso e não haverá uma refeição nas prisões! Uma. A ver quanto tempo duram... Juro por Deus que não comem um arroz e vamos a ver quanto tempo duram. E não me importa o que digam os organismos internacionais. (...) O povo salvadorenho está feliz. (...)”. E acrescentou no seu mais recente discurso na ONU: “Em El Salvador, não prendemos a nossa oposição, não censuramos opiniões, não confiscamos a propriedade daqueles que pensam diferente (...) Em El Salvador a liberdade de expressão, bem como a propriedade privada, sempre estarão protegidas. Em El Salvador, priorizamos a segurança dos nossos cidadãos honestos em detrimento do conforto dos criminosos. Alguns dizem que prendemos milhares de pessoas, mas a realidade é que libertámos milhões. Agora são os jovens que vivem livres, sem medo, com suas liberdades e direitos humanos totalmente respeitados.”

Se a Segurança tem sido a prioridade deste presidente, não falta arrojo a Nayib Bukele na implementação de outras medidas disruptivas. Empreendeu um feroz combate à corrupção, com investigação de antigos governos, auditando esquemas de corrupção de administrações anteriores e promovendo a transparência, sem poupar sequer os seus ministros. E, com irreverência, converteu El Salvador no primeiro país a adoptar o Bitcoin como moeda oficial em 2021, ao lado do dólar americano, e lançou a carteira digital “Chivo”, uma plataforma criada para facilitar o uso do Bitcoin, com incentivos financeiros para cidadãos.

Superou as expectativas internacionais, com crescimento do PIB de 3,5% em 2023, com controlo da inflacção em níveis razoáveis e um ambiente empresarial mais favorável. El Salvador assistiu ao aumento do investimento estrangeiro directo de 179 milhões de dólares americanos em 2022 para 579 milhões em 2023 e o déficit orçamental desceu de 1,2 mil milhões em 2019 para 338 milhões de dólares americanos em 2024, demonstrando uma notável disciplina orçamental durante a sua administração.

O Presidente de El Salvador está a apostar nas infraestruturas e desenvolvimento, com construção de um novo aeroporto e novas estradas, com vista a impulsionar o turismo e desenvolvimento económico. Tem melhorado os serviços públicos de saúde, com expansão de hospitais, e implementado uma reforma educacional, com distribuição de laptops e tablets a estudantes, visando modernizar o sistema educativo, e eliminando a promoção ideológica nas escolas, nomeadamente a ideologia de género, por dizer ser “contrária à Natureza, a Deus e à Família”.

Consciente da importância da imagem na comunicação, Nayib Bukele apresenta-se sempre impecavelmente cuidado, de quem não facilita nos pormenores, adaptado a indumentária às circunstâncias, mas combinando essa aparência de profissionalismo com um toque casual e por vezes até irreverente, que ressoa bem nos eleitores, sobretudo os mais jovens. Não ficam de fora as forças de segurança, que foram dignificadas e reforçadas nos equipamentos individuais, e os espaços públicos e institucionais, atentando ao restauro do Palácio Nacional. Com presença afável, acolhedora e serena, mesmo com adversários ou “fogo amigo”, assume os seus posicionamentos de forma convicta e assertiva, sem receio do politicamente incorrecto aos olhos frequentemente paternalistas das instâncias internacionais.

Curiosamente, apesar do êxito governativo e até do carinho que Nayib Bukele granjeia junto do povo salvadorenho, a maioria dos media não passa notícias deste país. Será porque não é do seu interesse dar a conhecer o sucesso alcançado pelo que pode ser considerado o paradigma de uma direita securitária? Será pelo tom sereno e elevado deste líder carismático com os opositores, que blinda a polarização, ao contrário dos líderes anti-sistema do Ocidente? Será pela ousadia inatacável? Talvez seja altura de dar palco a novas referências políticas, numa altura em que escasseiam estadistas com sentido de serviço.


Joana Bento Rodrigues

Vice-Presidente do Partido Nova Direita

A autora não reconhece o AO 1990.