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Define-se pobreza energética como a incapacidade ou dificuldade em manter a habitação com um nível adequado de serviços energéticos essenciais. Há vários aspetos que concorrem para uma situação de pobreza energética: os baixos rendimentos das famílias, o baixo desempenho energético das habitações e os custos com a energia.

Estima-se que entre 1,8 e 3 milhões de pessoas em Portugal vivem nessa condição. Na União Europeia o número pode chegar aos 100 milhões.

Como estão os números portugueses em comparação com os dos outros países europeus?

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Os dados preocupam. Dois em cada 10 portugueses não conseguem manter a casa suficientemente aquecida. Nenhum outro país da União Europeia se vê a braços com uma tão alta incapacidade a este nível.

Há uma incapacidade para aquecer, mas também para refrescar a casa no verão.

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Não devemos esquecer o verão. Antes pelo contrário. Quatro em cada 10 pessoas em Portugal vivem em alojamentos que não são adequadamente frescos durante os meses mais quentes.

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Dos alojamentos construídos na última década, pouco mais de um terço (36,5%) tem ar condicionado. Ou seja, uma grande parte da população não tem a possibilidade de arrefecer de forma capaz a sua habitação para fazer face a ondas de calor.

Em países como Portugal prevê-se que as alterações climáticas sejam responsáveis pelo aumento de ondas de calor e consequentemente por impactos significativos na saúde pública.

Como é que se explicam níveis tão elevados de pobreza energética?

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Um primeiro dado que constitui um enorme desafio: cerca de metade dos quase 3.600.000 edifícios do parque habitacional português foram construídos antes de 1980.

No entanto, o primeiro regulamento térmico dos edifícios só surgiu em 1990. Isto significa que muitas milhares de casas não têm o isolamento térmico apropriado.

Que problemas decorrem desta situação?

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A esmagadora maioria das casas em Portugal tem baixo desempenho energético. São 88% das habitações com certificados de classe energética C ou inferior. Trata-se de habitações demasiado frias no inverno e demasiado quentes no verão. Esta realidade, de pobreza energética, é visível nas próprias casas.

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Há ainda muitas que, devido a práticas de construção desadequadas, são propensas a humidade, bolores e infiltrações. Portugal está entre os dois piores países da UE neste indicador, apenas superado pelo Chipre.

De acordo com dados recentes, 29% das pessoas reportam viver em habitações com estes problemas e o cenário não tem melhorado nos últimos anos, contribuindo para um problema de saúde pública, que se traduz, desde logo, num excesso de mortalidade.

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Um problema de saúde pública

Os países do sul da Europa, nos quais se incluem Portugal, Itália ou Grécia, apresentam taxas de excesso de mortalidade bastante superiores a países de outras regiões, em particular os nórdicos. Isto apesar de estarem expostos, por exemplo, a invernos mais severos.

Por falta de habitações adequadas, a pobreza energética torna-se também um problema de saúde pública.

Casas com baixo desempenho energético também significam que as famílias têm de gastar grandes quantidades de energia para as conseguirem aquecer e arrefecer, o que se traduz em faturas de energia de valores elevados.

Mas não só – maiores gastos de energia resultam numa maior produção de gases com efeito de estufa. Isto significa que aumentar o bem-estar das populações contribuirá para combater o problema das alterações climáticas e que um assunto não pode ser separado do outro.

Portugal estabeleceu como meta alcançar a neutralidade carbónica até 2050. Foi, aliás, dos primeiros países a fazê-lo. O que quer isto dizer?

Em poucas palavras, quer dizer que até 2050 pretendemos que haja um equilíbrio entre os gases com efeito de estufa que são emitidos e removidos da atmosfera, garantindo que o impacto no clima é nulo.

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Para alcançar este grande objetivo, teremos de reduzir entre 45 e 55% as emissões dos gases com efeitos de estufa até 2030 e aumentar a utilização de energias renováveis. Ora, o setor residencial também está implicado nesta transição.

Quando pensamos em gases com efeito de estufa, normalmente ocorrem-nos a produção industrial, os transportes. Qual é o contributo dos edifícios e em particular das habitações neste fenómeno?

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Os edifícios são um pilar fundamental da transição energética, visto que, considerando todas as etapas do seu ciclo de vida, representam 36% das emissões de gases com efeito de estufa. O setor residencial, em particular, representa uma parcela significativa de cerca de 28% do consumo de energia final, na União Europeia, em 2021.

Qual é o caminho a seguir para cumprirmos os objetivos com que nos comprometemos?

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Em 2022, a quota de energias renováveis no setor da eletricidade em Portugal foi de 61%. Portugal está, portanto, a 19 pontos percentuais de alcançar a meta de 80% estabelecida para 2030. Ainda há um caminho a percorrer.

Mas também é preciso sublinhar as boas notícias. Em 2022, já tínhamos ultrapassado a meta estabelecida para 2030 no que diz respeito à quota de energias renováveis no setor do aquecimento e do arrefecimento.

Diversificar as fontes de energia não será suficiente. É preciso também repensar e intervencionar os edifícios destinados à habitação. O que tem sido feito a este nível?

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Ao nível da União Europeia, a legislação e os pacotes de políticas públicas relativos à renovação dos edifícios são ambiciosos e estão em consonância com o objetivo da descarbonização.

Por exemplo: a partir de 2027, de acordo com a Diretiva de Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD), as novas habitações na UE deverão ser os chamados “edifícios de 0 emissões”, isto é, edifícios altamente eficientes do ponto de vista energético.

Já a Estratégia de Longo Prazo para a Renovação dos Edifícios (ELPRE), aprovada pelo Governo Português em 2021, prevê intervenções em 65% dos edifícios residenciais até 2030 e 100% até 2040.

Infelizmente, o número de edifícios renovados tem ficado muito aquém do objetivo traçado. Os valores para o parque residencial são de apenas 6,4% face à meta de 65% para 2030.

Tem faltado investimento?

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Sim. Serão necessários 110 mil milhões de euros até 2050, de acordo com a Estratégia de Longo Prazo para a Renovação dos Edifícios.

Nos cinco anos entre 2018 e 2022 foram alocados apenas 280 milhões de euros da verba pública para a renovação de habitações, ou seja, menos de 1% do valor necessário até 2050.

Há, por isso, ainda muito trabalho a fazer para mitigarmos as alterações climáticas, mas também por nos adaptarmos às transformações que delas decorrem.