Um avião de passageiros da Jeju Air, fundada em 2005, com 181 pessoas a bordo incendiou-se, este domingo, após uma aterragem de emergência falhada no aeroporto da cidade de Muan, no sul da Coreia do Sul. Morreram 179 pessoas, num dos desastres aéreos mais mortíferos da história do país.

Apesar do trágico acidente, há dois sobreviventes, dois membros da tripulação do voo 2216 da companhia de baixo custo Jeju Air, de acordo com as autoridades.

Imagens captadas pelo aeroporto mostra o avião a aterrar, a ganhar velocidade em terra e depois a colidir com um muro do aeroporto. O trem de aterragem dianteiro aparentemente não terá sido acionado.

As caixas negras do aparelho já foram recuperadas e vão agora ajudar as autoridades a perceber o que se passou, o que pode ter falhado.

O que aconteceu?

O jato Boeing 737-800, proveniente de Banguecoque, despenhou-se ao aterrar no aeroporto de Muan (sudoeste), a cerca de 290 quilómetros a sul da capital, Seul, às 09:03 locais (00:03 se Lisboa).

As autoridades do Ministério dos Transportes revelaram que a torre de controlo do aeroporto emitiu um alerta de colisão com aves aos pilotos, pouco antes da sua intenção de aterrar e deu-lhes permissão para usar uma área diferente.

Um vídeo transmitido pela emissora sul-coreana MBC mostra o avião a aterrar com fumo a sair dos motores, aparentemente sem trem de aterragem. A aeronave saiu da pista e ficou envolvida pelas chamas.

Dois sobreviventes

Todos os 175 passageiros e quatro dos seis tripulantes a bordo morreram. Os passageiros eram todos coreanos, exceto dois tailandeses, uma criança de 3 anos e um homem de 78, adiantaram as autoridades.

As equipas de socorro resgataram dois tripulantes - um homem e uma mulher - dos destroços do avião.

Segundo o 'site' especializado Flightradar, o avião, um Boeing 737-800 da empresa sul-coreana de baixo custo Jeju Air, entrou ao serviço em 2009.

Como estão a decorrer as operações de socorro?

Centenas de membros da equipa de resgate, incluindo bombeiros e soldados, foram enviados para o local.

Imagens transmitidas pelos canais de televisão locais mostraram a aeronave completamente carbonizada, com exceção da cauda, e corpos envoltos em mortalhas azuis retirados em macas.

O presidente sul-coreano em exercício, Choi Sang-mok, presidiu a uma reunião governamental de emergência e, depois, visitou o local. Entretanto, o governo declarou Muan uma "zona de catástrofe especial".

Kim E-bae, presidente da Jeju Air, fez uma profunda vénia a outros altos funcionários da empresa ao pedir desculpa às famílias enlutadas e afirmou que sente "total responsabilidade" pelo desastre.

A Boeing também apresentou condolências e disse em comunicado na rede X que está pronta para apoiar a empresa na investigação do acidente.

O que provocou o acidente?

Serão necessários meses para determinar as causas. Mas existem algumas pistas possíveis.

Lee Jeong-hyeon, chefe do corpo de bombeiros de Muan, disse que os trabalhadores estavam a analisar várias possibilidades, incluindo se a aeronave foi atingida por aves.

"Suspeita-se que a causa do acidente tenha sido uma colisão com aves combinada com condições meteorológicas desfavoráveis. Mas a causa exata será anunciada após uma investigação", disse Lee Jeong-hyun.

Os primeiros elementos noticiados pela agência de notícias sul-coreana Yonhap deram conta de um "mau funcionamento do trem de aterragem".

Segundo a mesma fonte, a aeronave aterrou de barriga e incendiou-se ao embater num muro no final da pista.

Questionado sobre a possibilidade de a pista de aterragem ser demasiado curta, um responsável disse que isso provavelmente não era um fator.

"A pista tem 2.800 metros de comprimento, ou 9.200 pés, e os aviões de tamanho semelhante utilizam-na sem problemas", esclareceu.

As duas caixas negras -- o gravador de dados de voo e o gravador de voz da cabine -- foram recuperadas.


Ahn Young-joon/AP

Quais os perigos das colisões de aves?

As colisões de aves, que podem causar danos significativos no motor ou no pára-brisas, são a causa de muitos acidentes aéreos.

Na maioria dos casos, a colisão ocorre durante a descolagem ou aterragem, quando os motores estão a trabalhar a toda a velocidade.

Os danos materiais variam desde uma simples deformação do bordo de ataque da asa até à destruição parcial ou total do reator.

Um dos casos mais famosos remonta a janeiro de 2009, quando o piloto de um Airbus A320 da US Airways com 155 pessoas a bordo conseguiu aterrar de emergência no rio Hudson, em Nova Iorque, após uma colisão deste tipo, e salvou todos os ocupantes.


Acidente que ficará na história do país e da Jeju Air

Este é o primeiro acidente mortal na história da Jeju Air, fundada em 2005. Em 12 de agosto de 2007, um Bombardier Q400 da sua frota que transportava 74 pessoas despistou-se sob ventos fortes no aeroporto de Busan-Gimhae (sudeste), provocando cerca de 10 feridos ligeiros.

Kim Hong-Ji

Antes do acidente deste domingo, o mais grave da história da Coreia do Sul foi a queda de um Boeing 767 da Air China vindo de Pequim contra uma colina perto do aeroporto de Busan-Gimhae, que fez 129 mortos a 15 de abril de 2002.

O último acidente mortal numa companhia aérea sul-coreana foi o de um Boeing 777 da Asiana Airlines que falhou a aterragem no aeroporto de São Francisco, matando três pessoas e ferindo 182 a 6 de julho de 2013.

O desastre mais mortífero para uma empresa sul-coreana continua a ser o de um Boeing 747 da Korean Air, que ligava Nova Iorque a Seul via Anchorage (Alaska), que foi abatido por um caça soviético sobre o Mar do Japão, causando a morte de 246 passageiros e 23 tripulantes em 1 de setembro de 1983.

No entanto, os especialistas acreditam que o setor do transporte aéreo sul-coreano é globalmente fiável e seguro.