A coordenadora residente das Nações Unidas em Moçambique pediu esta quinta-feira às autoridades do país uma investigação ao atropelamento de uma jovem por um veículo militar durante protestos de quarta-feira e consequente responsabilização dos autores.
"Estou profundamente alarmada com os relatos de mortes e ferimentos - incluindo uma pessoa atropelada por um veículo blindado - relacionados com protestos em Moçambique. As autoridades devem investigar esses incidentes e responsabilizar os perpetradores", disse Catherine Sozi, num comunicado de imprensa da Organização das Nações Unidas (ONU) a que a Lusa teve acesso.
A coordenadora apela à calma e à contenção necessária das autoridades moçambicanas, visando assegurar o alcance das soluções aos desafios do país em "paz e com respeito ao funcionamento de suas instituições".
As Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) assumiram na quarta-feira terem atropelado uma jovem na capital moçambicana, esclarecendo que o veículo se encontrava "numa missão de proteção de objetos económicos" contra manifestantes e que a vítima foi socorrida.
"Esta viatura encontrava-se em missão de proteção de objetos económicos essenciais, limpeza e desbloqueio das vias de circulação, no âmbito das manifestações pós-eleitorais e fazia parte de uma coluna militar devidamente sinalizada", lê-se num comunicado de imprensa do Ministério da Defesa de Moçambique a que a Lusa teve acesso.
No documento é referido que a vítima foi "prontamente socorrida" no Hospital Central de Maputo, garantindo que se encontra a receber tratamento hospitalar adequado.
Uma fonte familiar confirmou à Lusa que a jovem foi atropelada na manhã de quarta-feira se encontra em estado grave.
Pelo menos três pessoas morreram e outras cinco ficaram feridas devido ao disparo de tiros na quarta-feira em Moçambique nas manifestações de contestação dos resultados eleitorais, indicou a Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana Plataforma Eleitoral Decide.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane tinha apelado na terça-feira à população moçambicana para, durante três dias, começando quarta-feira, abandonar os carros a partir das 08:00 nas ruas, com cartazes de contestação eleitoral, até regressarem do trabalho.
"A partir das 08:00 [menos duas horas em Lisboa], em plena estrada, não nos passeios. Vamos usar as nossas estradas como parques de estacionamento, com os carros cheios de cartazes. Fechamos o carro, vamos andar a pé, até ao local de trabalho", apelou Venâncio Mondlane.
"Deixa o carro no meio da estrada com os seus cartazes. Deixa o carro e vai trabalhar", insistiu, sobre esta nova fase de contestação ao processo eleitoral envolvendo as eleições gerais de 09 de outubro.
Venâncio Mondlane tem convocado estas manifestações, que degeneram em confrontos com a polícia - que tem recorrido a disparos de gás lacrimogéneo e tiros para dispersar -, como forma de contestar a atribuição da vitória a Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), com 70,67% dos votos, segundo os resultados anunciados em 24 de outubro pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
Com Lusa