Um em cada 3 portugueses vê informações falsas/erradas quase todos os dias e cerca de 81% dos portugueses estão preocupados com a sua capacidade para distinguir conteúdo verdadeiro e falso na internet.

O que é a desinformação?

A desinformação corresponde a qualquer tipo de conteúdo ou prática que contribua para o aumento de informação falsa, não validada, pouco clara e/ou que tenha a intenção de afastar as pessoas dos factos e da verdade. Pode assumir várias formas: deepfakes, bots, contas falsas, clickbait, conteúdos virais ou descontextualização de conteúdos verdadeiros.

Quais as razões para alguém espalhar desinformação?
As pessoas podem divulgar desinformação por brincadeira, por acreditarem nela, com o objetivo de enganar, com o objetivo de fazer dinheiro ou com fins políticos ou ideológicos.

Quais são os impactos da desinformação, em nós e na sociedade?

A desinformação afeta a saúde pública, promove desconfiança nas instituições, influencia atitudes e comportamentos, alimenta a polarização e mina a confiança na democracia. Está associada ao aumento do extremismo, da violência e do discurso de ódio.

Como funciona a desinformação?

Identificar informação errónea/falsa é um desafio exigente e complexo. Quando recebemos informação nova, a nossa primeira reação é tentar compreendê-la e integrá-la no conhecimento que já temos disponível. Apenas num segundo momento é que tentamos avaliar se esta é verdadeira ou falsa. Ou seja, verificar a verdade exige um esforço cognitivo adicional, pelo contrário, aceitar imediatamente a informação como válida é um caminho rápido e automático.

A desinformação é criada para explorar vulnerabilidades psicológicas, recorrendo a estratégias como:
– Atacar posições opostas;
– Inserir informações surpreendentes;

– Sobrecarregar com informação;

– Mexer com as nossas emoções;

– Repetir várias vezes a desinformação.

Para além de estarmos conscientes destas estratégias que são utilizadas por quem cria conteúdos desinformativos é necessário, ainda, resistirmos a três armadilhas:

A tentação de confirmar a nossa visão do mundo. Temos uma tendência natural para procurar informações que reforcem aquilo em que acreditamos e comprovem que estamos corretos. A desinformação é mais perigosa quando está alinhada com a nossa visão do mundo, fazendo com que a aceitemos fácil, rápida e acriticamente.

A tentação de confiar cegamente nas pessoas do nosso grupo. O mensageiro/a da desinformação também influencia a credibilidade que atribuímos à mensagem. Se esta nos chega a partir de alguém em quem confiamos ou de um grupo a que pertencemos, a nossa predisposição para acreditar naquilo que é dito aumenta exponencialmente.

A tentação de simplificar aquilo que é complexo. A desinformação tende a simplificar o mundo – preto ou branco. As instituições, pessoas ou assuntos são retratados como sendo sempre bons ou sempre maus, facilitando que as perspetivas diferentes das nossas sejam ignoradas ou considera- das falsas logo à partida.

Quem está mais vulnerável à desinformação?

Todos podem ser afetados, mas crianças, adolescentes e pessoas mais velhas são particularmente vulneráveis. Cerca de 50% dos alunos de 15 anos não distingue factos de opiniões, e pessoas com mais de 65 anos partilham sete vezes mais desinformação do que jovens adultos.

Qual o papel das redes sociais na proliferação da Desinformação?

A era digital trouxe uma mudança significativa na forma como a desinformação prolifera, au- mentando exponencialmente o seu alcance e rapidez de disseminação. Por exemplo, nas redes sociais uma notícia falsa espalha-se seis vezes mais rápido do que uma notícia verdadeira.

Todos os dias, enquanto utilizadores, podemos percorrer distraidamente cerca de 90 metros de feed nas redes sociais – aproximadamente a altura da Estátua da Liberdade. Para garantir que permanecemos atentos aos ecrãs, estas plataformas têm de certificar-se que recebemos conteúdos que gerem reações e sejam emocionalmente intensos. O conteúdo que melhor encaixa nestas condições é a desinformação.

As redes sociais também favorecem a criação de câmaras de eco (também denominadas bolhas informativas). Uma câmara de eco é um contexto onde as nossas opiniões e ideias são repetidas e reforçadas por outras pessoas que pensam igual a nós. Com o tempo, podemos ficar com a ideia de que “toda a gente pensa assim” e se alguma pessoa não o fizer, deve ser rejeitada ou alvo de desconfiança.

O que podemos fazer para nos protegermos da desinformação?

O combate à desinformação requer um esforço individual e sistémico. A OPP propõe um conjunto de estratégias práticas:

  • Parar e pensar. Refletir antes de reagir ou partilhar. Prestar atenção à reação emocional provocada pelo conteúdo. Muitos conteúdos são feitos para gerar cliques ou reações emocionais. Importa suspender a decisão de reagir até conhecermos as implicações do conteúdo.
  • Verificar e investigar. Observar se o título corresponde ao conteúdo, verificar se o URL é confiável, confirmar se o autor é identificado, confiável e qualificado, confirmar a data e avaliar se a imagem corresponde ao conteúdo relatado.
  • Fazer uma “leitura lateral”. Este método consiste em verificar o que se lê, enquanto estamos a ler. Se nos deparamos com informação que nos deixa na dúvida, precisaremos de outras fontes para nos sentirmos confiantes na sua credibilidade, como verificadores de factos, imprensa de referência ou fontes científicas.
  • Clicar com critério. Os primeiros resultados de pesquisa nem sempre são os mais fiáveis. É importante avaliar a origem, o título e o resumo antes de aceder.
  • Denunciar conteúdos desinformativos. As plataformas digitais permitem reportar conteúdos falsos, ofensivos ou perigosos. Denunciar ajuda a reduzir a exposição de outras pessoas.
  • Divulgar informação de qualidade. Partilhar informação validada por especialistas e que tenha base científica ajuda a contrariar a disseminação de conteúdos falsos.
  • Usar recursos de fact-checking. Ferramentas como o Polígrafo, Prova dos Factos (Público), Fact Check (Observador), Iberifier ou EUvsDisinfo e Google Fact Check Explorer permitem verificar a veracidade de conteúdos.

O que podem os pais, mães e educadores/ as fazer para ajudar crianças e adolescentes a lidar com desinformação?

  • Conversar sobre ecrãs e outras tecnologias digitais, mantendo um diálogo aberto sobre os seus benefícios, riscos e como adotar hábitos digitais seguros e saudáveis.
  • Explicar o que é a desinformação e os diferentes tipos de desinformação.
  • Verificar em conjunto os factos. Reveja as informações que a criança/adolescente leu e ajude-a a perceber como poderia identificar as informações falsas/enganosas. Encorajar o pensamento crítico com perguntas, tais como: “Isto parece-te correto?”; “Onde é que encontraste a informação?”; Quem criou este conteúdo? Qual o objetivo? O criador do conteúdo parece-te confiável? Isto são notícias verdadeiras? Um anúncio? Ou uma opinião? Quem pode ser beneficiado ou prejudicado com estas mensagens?
  • Ajudar a perceber quando algo é falso. A criança ou adolescente conhecer quais os sinais mais comuns de sites, apps ou publicações enganadoras aumenta o seu ceticismo online e facilita uma navegação segura.

Podemos destacar sinais como:

– Escrita ortográfica/gramatical errada ou confusa;

– E-mails ou mensagens de remetentes desconhecidos;

– Alegações exageradas (ex: milagre, inacreditável)

– Informação prejudicial para outras pessoas, como desinformação sobre Saúde ou incitamento ao ódio;

– Imagens e vídeos manipulados (deepfakes) que parecem reais, mas apresentam movimentos estranhos e artificiais;

– Publicações altamente emocionais, que tentam provocar medo, raiva ou choque.

– Citações sem fonte, que parecem credíveis, mas não indicam quem a disse ou onde foram publicadas

  • Explicar que em caso de dúvida, é preferível não partilhar
  • Encorajar a correção de erros.
  • Denunciar conteúdo enganoso ou falso.
  • Partilhar ferramentas de fact-checking.

O documento recomenda também o jogo pedagógico “Bad News”, que permite aprender, de forma segura, as estratégias de manipulação usadas na desinformação, fortalecendo a resistência psicológica a conteúdos falsos.

“Vamos Falar Sobre Desinformação” está disponívelaqui.

SO/COMUNICADO

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