Em 2016, Ricardo de Almeida e Vítor Hugo Costa começaram um projeto piloto baseado nas suas memórias pessoais e nas experiências vivenciadas durante a infância e a juventude. "Os Antropologistas", um neologismo que une os termos antropologia e lojistas (a loja ou a oficina como o espaço onde se exerce a profissão), foi o nome escolhido pelos dois realizadores para a série de mini-documentários, que esta segunda-feira se estreia no SAPO.

Tudo começou nas histórias dos seus avós sobre a realidade da vida antigamente, de como uma pessoa podia trabalhar uma vida inteira no mesmo ofício. Segundo os realizadores, este projeto não é um projeto saudosista, embora a motivação se baseie nestas memórias pessoais.

"O conceito de mestre tem vindo a perder-se"

"O conceito de mestre e aprendiz, muito respeitado em algumas culturas, mas a sua valorização na transmissão do conhecimento de um mestre a um aprendiz, que passado de geração em geração, tem vindo a perder-se. Este conceito é que nos atraiu e que queríamos explorar", afirmam os realizadores.

Os responsáveis pelos mini-documentários, começaram a aventura com o Sr. Ilídio, um encadernador do Bairro Alto, em Lisboa, que conheceram durante a pesquisa para iniciar o projeto piloto. Foi ele que serviu de inspiração para a série, cuja produção teve início antes da pandemia de COVID-19 e recebeu apoio financeiro do ICA (Instituto do Cinema e do Audiovisual). Durante a pandemia, a produção foi interrompida e os realizadores perderam contacto com alguns dos artesãos selecionados: "ficámos com algum material filmado ao qual não conseguimos posteriormente dar continuidade, nomeadamente editar e finalizar", explicam.

Passados os tempos de COVID-19, e na sequência da grande aposta na área no turismo em Portugal, da especulação imobiliária e da gentrificação, particularmente em Lisboa, muitos artesãos foram pressionados pelos proprietários a abandonar as suas oficinas, os sítios onde estes "mestres" estiveram a exercer as suas profissões. "Este foi um momento em que tudo parecia muito sombrio. Estávamos preocupados com o rumo das histórias, pois não queríamos abordar estes temas de forma fatalista, especialmente depois deste período tão trágico, ainda que fosse uma realidade cada vez mais "palpável", contaram. Mesmo assim, os realizadores não desistiram. Retomaram a pesquisa e o trabalho de campo, conseguiram descobrir novos artesãos, jovens e com abordagens otimistas, diferentes dos seus pares mais antigos.

"Quisemos acima de tudo produzir filmes que valorizassem os artesãos, as pessoas que neles participam"

"Apesar de serem registos de ofícios antigos, de lugares do passado, com grande tradição, pelo menos em alguns dos casos, quisemos acima de tudo produzir filmes que valorizassem os artesãos, as pessoas que neles participam", descreveram os realizadores.

"Assim como tudo na vida, cada caso é um caso. O mesmo se passou com cada um dos artesãos, sendo que uns foram mais fáceis de cativar e convencer a participarem no projeto, a abrirem as portas das suas oficinas e a partilharem as suas histórias connosco, e agora com o público que as testemunha. Pretendemos que se reconheçam no que mostramos e que possam de alguma forma tirar proveito das suas generosas participações", sublinham os responsáveis pelo projeto.

Os dois episódios de estreia da série "Os Antropolojistas" já estão disponíveis no SAPO e novos episódios se seguirão, todas as segundas-feiras.