A Coreia do Norte enviou cerca de 10 mil soldados para a Rússia para treinar e combater na Ucrânia "nas próximas semanas", indicou hoje a porta-voz do Pentágono, Sabrina Singh.
"Estamos cada vez mais preocupados com a intenção da Rússia de utilizar estes soldados em combate ou para apoiar operações de combate contra as forças ucranianas na região russa de Kursk", disse aos jornalistas.
Singh recordou que o secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, já tinha avisado publicamente que, caso os soldados da Coreia do Norte fossem utilizados no campo de batalha, seriam considerados beligerantes e alvos legítimos, com sérias implicações para a segurança na região do Indo-Pacífico.
Austin vai ter um encontro com os responsáveis da Defesa da Coreia do Sul no final desta semana no Pentágono, no qual se espera que seja discutido o uso de soldados norte-coreanos no conflito da Ucrânia.
Segundo Singh, não haverá limitações ao uso de armas fornecidas pelos Estados Unidos a Kiev contra as forças.
"Se virmos tropas da República Popular da Coreia do Norte a avançar em direção às linhas da frente, são cobeligerantes", declarou Singh, que advertiu: "Este é um cálculo que a Coreia do Norte tem de fazer".
Na manhã de hoje, a NATO afirmou que algumas das tropas norte-coreanas já foram enviadas para a região fronteiriça de Kursk, onde a Rússia tem tentado repelir uma incursão ucraniana iniciada no passado verão.
"Hoje, posso confirmar que tropas norte-coreanas foram enviadas para a Rússia e que unidades militares norte-coreanas foram enviadas para a região de Kursk", disse o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, aos jornalistas.
Rutte acrescentou que este destacamento representa "uma escalada significativa" no envolvimento da Coreia do Norte no conflito e marca "uma perigosa expansão da guerra da Rússia", iniciada com a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.
Rutte falou em Bruxelas depois de uma delegação sul-coreana de alto nível ter prestado informações aos 32 embaixadores dos membros da Aliança na sede da NATO.
O secretário-geral indicou que a Aliança Atlântica está a "consultar ativamente" os países da organização, a Ucrânia e os parceiros do Indo-Pacífico sobre estes desenvolvimentos e que iria falar em breve com o Presidente da Coreia do Sul e com o ministro da Defesa de Kiev.
A adição de milhares de soldados norte-coreanos ao maior conflito da Europa desde a Segunda Guerra Mundial aumentará a pressão sobre o sobrecarregado exército da Ucrânia.
Também irá alimentar as tensões geopolíticas na Península Coreana e na região mais ampla do Indo-Pacífico, incluindo o Japão e a Austrália, segundo autoridades ocidentais.
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, ignorou os comentários de Rutte e observou que Pyongyang e Moscovo assinaram um pacto de segurança conjunto em junho passado, mas não chegou a confirmar que soldados norte-coreanos estavam na Rússia.
Lavrov argumentou que instrutores militares ocidentais já foram enviados secretamente para a Ucrânia para ajudar os seus militares a utilizar armas de longo alcance fornecidas pelos parceiros ocidentais.
"Os militares ocidentais trabalham há muito tempo na Ucrânia", disse Lavrov após um encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros do Kuwait, em Moscovo.
A Ucrânia, cujas defesas estão sob forte pressão russa na região oriental de Donetsk, poderá receber mais notícias inquietantes no seguimento das eleições presidenciais norte-americanas da próxima semana, em que uma vitória do republicano Donald Trump poderá levar a uma diminuição da ajuda militar de Washington.
Em Moscovo, o Ministério da Defesa anunciou hoje que as tropas russas capturaram a aldeia de Tsukuryne, em Donetsk, a mais recente localidade a sucumbir à lenta progressão russa na região.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, citando relatórios dos serviços de informação, afirmou na passada sexta-feira que as tropas norte-coreanas estariam no campo de batalha dentro de alguns dias.
Anteriormente, disse que o seu governo tinha informações de que cerca de 10 mil soldados da Coreia do Norte estavam a ser preparados para se juntarem às forças russas que combatem o seu país.