Lemos que as eleições presidenciais norte-americanas serão decididas pelos resultados de apenas um pequeno número dos chamados swing states: Arizona, Carolina do Norte, Geórgia, Minnesota, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin. E porquê?
A explicação reside na combinação de três fatores:
- o sistema do Colégio Eleitoral,
- as eleições em que o vencedor leva tudo, e
- a concentração geográfica dos eleitores por partido.
Os europeus estão habituados a eleições nacionais para os seus líderes, pelo que é natural pensar nas presidenciais dos Estados Unidos como uma eleição nacional. Não se trata de uma eleição nacional, mas da soma de 50 eleições estaduais simultâneas e independentes (e uma mais em Washington D.C.), sendo que em cada eleição se determina quem recebe os votos do Colégio Eleitoral atribuídos a cada estado. Existem, no total, 538 votos do Colégio Eleitoral, e são necessários 270 para ganhar a presidência.
Não há nada na Constituição dos Estados Unidos que descreva a forma como os Estados devem organizar as suas eleições. Cada um é livre de utilizar o seu próprio sistema, mas 48 dos 50 Estados decidiram atribuir os seus votos para o Colégio Eleitoral da mesma forma, com um único escrutínio, em que o vencedor leva tudo, e é esta escolha que conduz à maior distorção do sistema. “O vencedor leva tudo” significa que mesmo que um partido ganhe num estado por um número ínfimo de votos, esse partido recebe todos os votos do Colégio Eleitoral desse estado, e mesmo que o partido derrotado tenha recebido apenas alguns votos a menos do que o partido vencedor, não recebe nada.
As eleições em que o vencedor leva tudo tendem a conduzir ao domínio de dois partidos e, nos Estados Unidos, apenas os partidos Democrata e Republicano contam nas eleições presidenciais. Além disso, num sistema bipartidário, o domínio confere ao partido vencedor enormes oportunidades de vir a conquistar poder e, quando um dos partidos é dominante num determinado Estado, é muito difícil ao outro partido substituí-lo. Devido à coincidência da política e da geografia, em 44 das 50 + 1 eleições para a presidência dos Estados Unidos, um dos partidos é dominante, com padrões geográficos regionais: o Partido Republicano domina na maior parte do Sul e do Oeste e o Partido Democrata domina na maior parte da Costa Oeste e do Nordeste.
Olhando para a história das eleições recentes e para a situação política atual em cada Estado, sabemos de antemão que o Partido Republicano vai ganhar todos os votos do Colégio Eleitoral em 24 Estados, com o candidato republicano à presidência a ter garantidos cerca de 219 votos do Colégio Eleitoral destes “Estados vermelhos”. Também sabemos de antemão que o Partido Democrata vai ganhar as presidenciais em 20 Estados, com o candidato democrata a obter cerca de 225 votos no Colégio Eleitoral destes “Estados azuis”. Há exceções a estas regras, mas são raras. Por exemplo, quando numa eleição “esmagadora” há uma vitória esmagadora de um dos lados, alguns estados não votam como esperado. Mas é pouco provável que isso venha a acontecer em 2024, em que se prevê uma competição muito renhida. Também é verdade que, com o passar do tempo, à medida que as populações dos Estados Unidos se deslocam, alguns Estados evoluem de um campo para o outro. Mas, em geral, e para esta eleição de 2024, é muito provável que a rotulagem de Estados "vermelhos” e “azuis” seja um indicador fiável do resultado da eleição presidencial nesse Estado.
O que isto significa é que a única incerteza que há é de quem vai ganhar os cerca de 94 votos do Colégio Eleitoral nos estados onde nenhum partido é dominante, os swing states. É aqui que um dos dois candidatos acumulará votos suficientes no Colégio Eleitoral para atingir o número mágico de 270. O mapa seguinte é um exemplo de uma estimativa dos Estados Vermelhos, Azuis e Swing para as eleições de 2024, apresentado quando Biden era o candidato democrata, mas o mapa não mudará muito com Harris a substituir Biden.
A consequência da combinação do sistema do Colégio Eleitoral, das eleições em que o vencedor leva tudo (winner-take-all) e da coincidência da política e da geografia significa que um investimento de tempo ou dinheiro num estado vermelho ou azul é um desperdício, pelo que tanto o Partido Democrata como o Partido Republicano concentram praticamente todos os esforços e dinheiro nos swing states. Um fenómeno curioso das presidenciais nos Estados Unidos é que, se viver num estado vermelho ou azul, nunca receberá a visita de um candidato presidencial; as duas campanhas ignorá-lo-ão. Se, porém, viver num estado oscilante, será bombardeado por emails, telefonemas, visitas a sua casa, convites para participar em comícios, anúncios televisivos, etc.
As eleições em que o vencedor leva tudo por estado também explicam como um candidato derrotado pode receber mais votos a nível nacional do que o vencedor das eleições, como aconteceu com Hillary Clinton em 2016. Ganhar por uma margem muito grande num único estado não tem qualquer utilidade numa eleição presidencial: obtém-se todos os votos do Colégio Eleitoral do estado se se ganhar nesse estado por, pelo menos, mais um voto do que o adversário. Clinton obteve mais 2,9 milhões de votos a nível nacional do que Donald Trump, em 2016, sobretudo devido à sua margem de 4,3 milhões de votos sobre o adversário na Califórnia. Mas ele ganhou os votos do Colégio Eleitoral por 306 contra 232, porque venceu por margens estreitas nos estados decisivos da Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Ohio e Florida (estes dois últimos já não são considerados estados oscilantes ou decisivos, pois passaram para o campo republicano). Assim, justifica-se que, em 2024, concentremos toda a nossa atenção nos swing states.
O autor é um empresário franco-americano a viver em Portugal há 15 anos, autor de “Rendez-Vous with America, an Explanation of the US Political System” e atual presidente do American Club of Lisbon. As opiniões expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor, não sendo de forma alguma atribuíveis ao American Club of Lisbon. Pode ser contactado através de PSL64@icloud.com